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Crítica


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Sinopse

Ao encontrar Maria, o amor de sua vida, Dylan deixa para trás o seu passado criminoso. Ele passa a trabalhar como pescador, mas será confrontado por velhos fantasmas ao ser vítima de uma vingança do diretor da prisão local.

Crítica

O início de O Prisioneiro é promissor, especialmente se a demolição da penitenciária for situada na lógica dos vilipêndios históricos em prol do "novo", já que no lugar do cárcere abaixo surgirá um condomínio luxuoso. Contudo, não demora para percebemos que o pesar inexiste diante dessa destruição, e, por conseguinte, da homogeneização decorrente da especulação imobiliária. Aliás, ao contrário. O discurso favorável à eliminação do passado é sobressalente nessa trama banal recheada de vinganças, mocinhos e bandidos bastante definidos. Não há uma ode à sanha capitalista, mas a omissão das nuances concernentes à circunstância ressalta os sinais da leviandade. O ex-diretor da prisão, Daniel Calvin (Laurence Fishburne), começa o filme tentando acertar contas que, a julgar por seu estado lastimável, parecem sobrepesar no cotidiano. A maior parte do enredo é contada em flashback, mas isso não significa que o ex-mandatário seja o protagonista. A jornada de Dylan (Juan Pablo Raba) é logo entendida como principal, sobretudo pela forma como seu heroísmo é desenhado.

O cineasta Paul Kampf guarda cartas na manga, porém não é hábil ao lançar mão delas. Num primeiro momento, a perseguição de Daniel a Dylan parece simplesmente retaliação pelo fato da mulher deste, Maria (Juana Acosta), não ser simpática aos xavecos daquele. Já antes de expor o verdadeiro motivo que faz o funcionário público transformar a vida do ex-encarcerado num inferno, a discussão sobre a pena de morte é relegada a um terreno clichê. Buscando escorar a validade do argumento favorável à vida, e portanto contrário à continuidade da sentença capital, o diretor coloca a defesa da matança legal na boca do sujeito gradativamente delineado como vilão. Desse modo, cria um antagonismo tão marcado, impermeável a contradições e afins, que fica difícil compreender, por exemplo, o sofrimento pregresso de Daniel. Corroborando a mão pesada, o realizador faz de Dylan alguém praticamente ilibado, não sendo suficiente para lhe conferir matizes as várias menções aos crimes de antes. O que vemos é um manso fazendo sempre o certo.

O maior problema de O Prisioneiro é a falta de espessura dos personagens, e, em semelhante medida, a displicência ao entremear a vingança pessoal e a discussão social que mereceria bem mais compreensão. Quando sente necessidade de defender a manutenção da pena de morte, Daniel apela a chavões – infelizmente propagados por quem sente-se impelido a opinar sem compreender os contextos. Ele fala da desproporcionalidade do gasto com os condenados, comparando-o com o dinheiro investido “na educação de nossas crianças”, apelando igualmente à própria vivência, tentando desarticular o outro a partir de sua experiência dolorosa. Esse recorte seria válido como sintoma, não fosse a simplicidade equivalente das contra-argumentações, inclusive as da narrativa, vide os supracitados indícios da questionada mudança humana. Sobre esse assunto tão controverso, então, o filme se coloca de forma reducionista, criando um embate tolo entre as vivências individuais que não compreendem uma questão tão complexa quanto essa debatida.

Já no que diz respeito ao romance, ao amor observado como oásis capaz de resistir aos ímpetos perversos do antagonista, ele é restrito à meia dúzia de declarações e demonstrações de afeto, menos articulado que as maquinações manjadas do sofredor que deseja a desforra. Falado em espanhol e inglês – no que parece uma contingência de produção, pois o enredo se passa integralmente em Porto Rico –, O Prisioneiro ainda deixa à mostra uma imaturidade diretiva geralmente incômoda. Na sequência da rebelião, para citar apenas uma das mais claramente falhas, há problemas visíveis de continuidade. Em instantes-chave, a câmera lenta e a música dolente ressaltam circunstâncias naturalmente dramáticas. Edward James Olmos faz uma pouco memorável participação especial, sendo somente um mentor de ocasião, não indo além dessa posição tão subalterna quanto descartável. Flertando com os folhetins baratos, Paul Kampf faz algo tão sem personalidade e anêmico que fica difícil aderir às tragédias dos personagens e tampouco refletir sobre a abominação da pena de morte.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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