Crítica
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Sinopse
Um professor comete suicídio se jogando pela janela da sala de aula, em frente aos alunos adolescentes. Em seu lugar é contratado Pierre Hoffman como substituto, que logo percebe que um grupo de seis dos seus novos alunos parece indiferente ao que acontece à sua volta. Aos poucos, também nota a estranha influência que exercem sobre o resto da escola, inclusive na direção. Cada vez mais obcecado, o professor passa a segui-los até descobrir quais são seus planos.
Crítica
O fardo de Pierre (Laurent Lafitte) em O Professor Substituto é preencher a considerável lacuna deixada pela atitude drástica de seu antecessor, o docente titular da classe de alunos praticamente superdotados numa escola tradicional e condicionada por resultados. A natural dificuldade de aclimatação ao novo cenário de trabalho é intensificada pelo lastro de dor. Todavia, não é exatamente um ambiente de lamúrias e sensibilidades afloradas o que o suplente encontra entre os 12 integrantes do grupo experimental. O maior problema é a prepotência dos meninos e das meninas que colocam em xeque a capacidade do recém-chagado. “Você se acha capaz?”, questiona a enigmática Apolline (Luàna Bajrami), expondo a singularidade da turma de aptidão intelectual notável, mas cujos elementos principais parecem frios, desprovidos de empatia. De pronto, o cineasta Sébastien Marnier deixa vir à tona um antagonismo compreensível, baseado nessa complexa reversão hierárquica. O mestre é acossado diariamente pela soberba dos discípulos que testam sua argúcia.
O Professor Substituto, gradativamente, mergulha nessa relação tumultuada, fazendo de Pierre uma vítima de infortúnios, tais como o furto do computador na calada da noite, as frequentes ligações anônimas e os segredos contidos nos comportamentos suspeitos dos alunos. A trilha sonora a cargo da banda Zombie Zombie é vital ao processo de imersão numa atmosfera de terror psicológico, suscitada pelo flerte do protagonista com a obsessão por descobrir os planos do sexteto teoricamente comprometido com algo estranho. A menção do professor à escrita da tese sobre Franz Kafka não é um artifício meramente contextual, pois componente capital à compreensão da movimentação das camadas narrativas. Num nível evidente, as baratas, cada vez mais frequentes no apartamento, aludem ao inseto em que Gregor Samsa se encontra metamorfoseado após uma noite de sono intranquilo no livro A Metamorfose. Certas cartas na manga são reveladas com parcimônia.
Assim como Gregor e Joseph K., figura central de O Processo, outro romance de Kafka, Pierre se depara com um mundo ao qual é estranho, não o contrário, como se poderia imaginar. Aos poucos, O Professor Substituto demonstra que não são os alunos os deslocados da conjuntura atual, mas o professor. Indício disso é o fato dele não encontrar respaldo na leitura dos colegas. Os educadores parecem embotados irreversivelmente pela realidade grotesca, a mesma que os jovens capturam para fazer um compêndio da toxicidade humana, diagnóstico que justificaria os constantes exercícios a fim de atingir uma insensibilidade à dor. Todas as vezes em que Pierre menciona asfixias, riscos à beira do precipício, sessões de flagelo voluntário, alguém trata de evocar a normalidade, considerando “coisas de adolescentes”. Desse modo, preso no labirinto kafkiano, o catedrático vê-se impotente, inclusive diante de quem entende automutilação como alternativa à rejeição.
No decurso da trama, é decrescente a importância dos planos traçados pelos seis jovens, pois sobressai a inadequação insuspeita de Pierre, apesar das aparências excepcionalmente inversas. Sébastien Marnier é extremamente habilidoso ao estimular o clima de instabilidade que permite a instauração da inquietude, percepção logo sublinhada pela esfera sonora. As duas cenas do coral são angustiantes, exatamente pela forma como se conjugam as perspectivas, os timbres e as intenções contidas nos semblantes adolescentes. Na segunda delas, apenas os membros do sexteto sustentam fisionomias neutras, sintomáticas do isolamento que supostamente os torna impermeáveis à nocividade do entorno. Deixando engenhosamente pontas soltas, quebrando o fluxo de determinados acontecimentos capitais – não se atendo a prováveis consequências imediatas –, o cineasta cria um filme vibrante e tenso que, no clímax, aponta à semelhança dos antes oponentes, assim asseverando uma inclinação por contradizer as superfícies delineadas como cortinas de fumaça. A barata, então, vira uma metáfora desses sujeitos que evoluem para sobreviver à hecatombe.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 9 |
Robledo Milani | 8 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 8 |
MÉDIA | 8.3 |
Filme ruim ao extremo. 5 estrelas na ruindade