Crítica
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Sinopse
Um dos melhores ciclistas profissionais do mundo, o norte-americano Lance Armsntrong é acusado de dopping e vê rapidamente desmoronar o império construído, bem como sua reputação de gênio do esporte.
Crítica
Cinebiografia de Lance Armstrong, O Programa tenta ser o mais abrangente possível em relação à meteórica ascensão e à posterior queda vertiginosa do ciclista norte-americano, vencedor de sete edições da Tour de France, pivô de um gigantesco escândalo envolvendo doping. Entretanto, não disposto a acompanhar a trajetória do esportista desde a infância, ou seja, distante de abordagens mais convencionais, o cineasta Stephen Frears reduz o foco à atuação profissional de Armstrong, relegando outras esferas, como a pessoal, por exemplo, a meros adornos, numa trama marcada pela superficialidade. O protagonista, interpretado com excelência por Ben Foster, é retratado desde o começo como um homem obcecado pela vitória, disposto a toda sorte de subterfúgios para subir ao topo do pódio. Sua concepção física não é a dos campeões, portanto ele busca a ajuda do Dr. Michele Ferrari (Guillaume Canet), médico famoso por administrar substâncias nem sempre lícitas para a melhora de resultados.
O que primeiro depõe contra a fruição de O Programa é a excessiva rapidez com que Frears nos guia por episódios importantes da vida de Lance Armstrong, incluindo aí o grave câncer testicular que interrompeu brevemente sua carreira, exatamente antes dela atingir o mais alto patamar. Do diagnóstico à pronta recuperação não são gastos mais que alguns minutos, nos quais pouca coisa ganha o peso devido, salvo certas situações que, mais adiante, servirão para deflagrar as mentiras que o ciclista conta para encobrir suas vergonhas. Não bastasse a falta de espessura dramática desses momentos, pelos quais passamos quase emocionalmente incólumes, Frears ainda introduz em paralelo a investigação do jornalista David Walsh (Chris O'Dowd), único setorista da imprensa que desconfia do desempenho sobre-humano do atleta que antes mal chegava entre os 50 primeiros colocados nas provas. Tal expediente só dilui ainda mais a força narrativa, reforçando a pressa com que tudo transcorre.
Ben Foster é o grande responsável por manter vivo nosso interesse pelo cada vez mais intrincado e escuso itinerário de seu personagem. Ele consegue, mesmo em meio a um roteiro inclinado à dispersão, delinear muito bem a sanha desmedida do protagonista pelo êxito. O restante do elenco tem pouco a fazer com o material disponível. Apenas Jesse Plemons, intérprete de Floyd Landis, um dos principais “escudeiros” de Armstrong, possui destaque entre os coadjuvantes, num time que conta, ainda, com a participação praticamente gratuita de Dustin Hoffman. Aliás, O Programa ganha em dramaticidade com a entrada de Landis na ciranda sórdida, uma vez que ele representa alguém que chafurda no lamaçal criado para a construção e a posterior manutenção de um mito esportivo, mas cuja consciência se faz presente com mais frequência, ainda que sucumba determinantemente a ela, expondo a fraude, somente após um inesperado resultado positivo no exame antidoping.
Em O Programa, o cineasta Stephen Frears desperdiça os potenciais intrínsecos a essa história que balançou as estruturas do esporte. Ele falha na tentativa de dimensionar a representatividade de Lance Armstrong, primeiro, como exemplo de perseverança e performance, e, segundo, na condição de símbolo de uma obsessão que desrespeita as regras. Tampouco as questões que dizem respeito ao âmbito jornalístico são exploradas para além de sua função instrumental a este caso específico. Malograda, então, em diversas aspectos, esta realização mostra vagamente todos os componentes dos eventos que circundam o nome Lance Armstrong, homem destituído de seu pedestal quase sacrossanto com uma velocidade espantosa até mesmo se comparada com suas marcas mais extraordinárias. A impressão final é a de um rascunho frouxo, no qual alguns rabiscos se sobressaem ocasionalmente, abrandando, assim, a sensação predominante de decepção.
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