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Sinopse

Após quatro anos de sua última incursão no submundo, Robert McCall, agente aposentado, terá novamente de ajudar pessoas em perigo. Até onde ele irá para proteger alguém que ama?

Crítica

Robert McCall (Denzel Washington) é o equalizador, aquele que supostamente traz equilíbrio a um mundo comandado inexoravelmente pelos fortes (como ele). O Protetor 2, que segue a linha do seu antecessor, começa mostrando esse protagonista em ação, incógnito num trem rumo à Turquia. Desde o princípio, então, há a reafirmação do sujeito como alguém importante, zeloso pelos fracos e oprimidos, que toma para si a missão nobre de exterminar os maus elementos. Se no enredo anterior a incumbência maior era salvaguardar a integridade física da menina que se prostituía pela lucratividade de uma organização mafiosa russa, agora o “afilhado” é Miles (Ashton Sanders), jovem prestes a ser cooptado pelo submundo do crime. Tortuosamente, tudo o que acontece diretamente ligado ao soldado, em tese, aposentado, desta vez trabalhando como motorista de Uber, é menor se comparado à proteção dos desvalidos. Ele é como um anjo salvador, colérico, alinhado a certos pressupostos do Velho Testamento. Quem está sob suas asas, sente-se protegido.

O fato do personagem de Denzel ser desenhado absolutamente como um misto de justiça, retidão e infalibilidade torna o andamento da trama um tanto destituído de tensão. Por mais que os bandidos sejam treinados, ninguém é páreo para esse homem que, sem mais aquela, cronometra quantos segundos são gastos para subjugar o inimigo. Ademais, a progressão narrativa é claudicante, pois não se decide entre observar Robert inserido numa conspiração que envolve pessoas queridas, com o surgimento de figurinhas carimbadas, ou atentar para essa, digamos, “ação humanitária”, por meio da qual devolve criancinhas para suas mães desesperadas e garante o futuro do vizinho à beira da delinquência. O Protetor 2 é um filme de ação previsível, combalido pela indestrutibilidade mal enjambrada do protagonista. Se o ex-agente escapa facilmente de todas as armadilhas e estratagemas alheios, difícil sentir perigo genuíno, mesmo quando a situação não parece favorecer o seu pensamento rápido e sua ação certeira.

O Protetor 2 se espraia com dificuldade nessas camadas de registro, avançando no que tange à revelação do passado de Robert. O cineasta Antoine Fuqua, que certamente já viveu dias melhores, oferece um espetáculo de ação genérico, compilando elementos e situações já muito observados em outras produções. Aqui, sua carta na manga é Denzel Washington, ator cuja habilidade e talento imensos tratam de sobrepujar as restrições dramáticas que o personagem impõe. O olhar firme e ameaçador de Robert, artificialmente valorizado pela câmera que chega a adentrar sua íris, é mais intimidador que a espalhafatosa capacidade de esfaquear oponentes, deles extraindo sangue e vida. Isso acontece porque o realizador, afoito para demonstrar a letalidade, investe em cenas rápidas, dramaticamente minadas pela montagem métrica. Fruto de uma fórmula praticamente reproduzida de predecessor, este filme investe num terreno seguro e, às vezes, soporífero.

Antoine Fuqua não esconde as influências do western, pelo contrário, as escancara. O resultado, porém, é mais curioso que necessariamente eficiente. A batalha contra um velho conhecido na localidade evacuada em virtude da proximidade de um furacão é fundada nos duelos típicos do faroeste nas cidadelas, com algozes caindo, um a um, enquanto o protagonista ruma ao encontro do principal antagonista. O enquadramento que remete a Rastros de Ódio (1956), de John Ford, com Denzel emoldurado por uma porta, perdido na própria solidão, estabelece uma ligação direta com o personagem igualmente errante e mordaz de John Wayne. Contudo, essas são apenas piscadelas, sem grandes efeitos para além da homenagem. Fazer o bem é o importante a esse bom samaritano, nem que para isso haja trilhas de sangue e destruição. Para o filme, as boas almas valem a aniquilação brutal dos ímpios. Imprescindível é garantir o sono dos justos, combatendo fogo com fogo.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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