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Sinopse

Morando no sul da Itália, Robert tem o seu sossego perturbado pelo fato de que seus amigos estão submetidos aos chefes do crime local. Então, ele não tem alternativa: precisa se tornar novamente um protetor.

Crítica

Curiosa a decisão – por mais que seja da distribuidora brasileira, teve antes que ser aprovada pela matriz em Hollywood – de batizar o terceiro longa da saga baseada na série The Equalizer (que teve quatro temporadas entre 1985 e 1989, e outras três na releitura feminina exibida entre 2021 e 2022) de O Protetor: Capítulo Final, colocando já no nome o encerramento de sua trama. Claro que, em se tratando de uma aposta voltada ao público, isso muitas vezes pode não significar nada – depois de O Confronto Final (2006), a saga X-Men já teve nada menos do que outras 8 sequências – mas se levarmos em conta que Denzel Washington está se aproximando dos 70 anos (ainda que seu personagem, Robert McCall, se comporte como se tivesse no mínimo duas décadas a menos), é de se imaginar que queira, de fato, diminuir o ritmo e dar um desfecho a algumas pontas soltas deixadas pelo caminho. Em toda a sua filmografia, poucos títulos se mostraram tão propensos a um diálogo com uma audiência mais ampla quanto essa trilogia – são as únicas sequências que estrelou ao longo de sua carreira. E ao se reencontrar com o diretor Antoine Fuqua (este é, na verdade, o quinto trabalho dos dois juntos) oferece uma despedida à altura do caminho trilhado até então, tão absurdo e problemático como em seus momentos mais controversos, ainda que envolvente o bastante para eclipsar muitas das discussões que contorna sem a devida atenção.

Um homem chega dirigindo, com uma criança no banco ao lado, em uma casa fortemente cercada. No entanto, ao passar pela entrada dos carros observa um corpo caído, logo mais um a seguir, e assim por diante. Qualquer um daria a volta e iria embora, mas ele segue em frente. Isso é suficiente para que o espectador perceba estar frente a alguém que não teme qualquer desafio. Deixando o menino na caminhonete, entra com cuidado pela fortaleza, apenas contabilizando com os olhos os mortos que se acumulam. O silêncio impera. Ao menos até se deparar com um homem desconhecido, sentado e de cabeça baixa. Esse estava lhe esperando, e apesar dos dois valentões apontando armas para sua cabeça, não demonstra nenhuma intimidação. E assim que se depara com o recém chegado, avisa: “você tem algo que não lhe pertence, que pegou sem permissão, e eu vim aqui buscar”. O outro ri, pensa ser um alerta vazio. Porém, em questão de segundos, aquele que em nenhum instante deixa de estar seguro de si desarma os que o cercavam, eliminando-os sem pensar duas vezes. O próximo alvo é o chefão que se julgava inalcançável. Afinal, que chance terá ele contra McCall?

Esse prólogo é não mais do que uma introdução ao personagem, por mais que ele esteja vivo na mente dos cinéfilos e admiradores de Washington. Os dois longas anteriores foram lançados em 2014 e 2018 – ou seja, a tríade completa saiu em menos de uma década. E Robert McCall, a quem ele dá vida com poucas palavras e muita ação, é feito nos moldes dos heróis brutamontes que dominavam as telas nos anos 1980: um justiceiro de índole bastante curva, que acredita estar fazendo o que é certo e que, por isso, qualquer barbaridade por ele cometida seja desculpável frente às injustiças que se dispõe a combater. Veja a sequência de abertura: para dar cabo a um mafioso – agindo, portanto, como caçador, juiz e executor, tudo ao mesmo tempo – não se preocupa em matar mais de uma dezena de seguranças, acreditando serem todos tão maléficos quanto o patrão, ignorando se estão ali por vontade própria ou não, se lhes foram oferecidas opções, se não foram coagidos ou se até mesmo suas famílias não estão sendo ameaçadas para que servissem a um mal maior.

O universo deste “matador de bom coração”, por assim, dizer, sai dos Estados Unidos e, nessa terceira incursão, surge cumprindo missões pelo velho continente – na Itália, para ser mais exato. Por mais que seu objetivo tenha sido alcançado, um descuido de última hora o coloca fora de combate, a ponto de ter que buscar pela ajuda de estranhos. Esses o levam a um pequeno e idílico vilarejo à beira mar na costa mediterrânea, um verdadeiro pedaço do paraíso, onde encontra a paz suficiente para recobrar suas forças. McCall rapidamente se sente em casa, e decide que é chegada a hora – e o lugar – para uma sonhada aposentadoria. Porém, há outros pedregulhos em seu caminho. A cidade turística é assolada por bandidos que comandam o comércio e achacam os moradores com taxas de segurança e outras cobranças descabidas. Exigências que acabam sendo acatadas por temerem consequências mais severas. Mas essa realidade não irá permanecer por muito tempo. Não se McCall puder evitar. E assim, por mais que esteja determinado a parar, terá um combate derradeiro pela frente. Por quase metade do filme a presença de Washington é silenciosa, de quem muito observa e pouco faz. Mas, uma vez provocado, difícil será pará-lo antes de por fim ao perigo anunciado.

Denzel Washington parece ter nascido para viver esse tipo durão, sisudo, mas que dentro de si preza pelos bons valores entre os homens de bem – uma característica cada vez mais assustadora, ainda mais em tempos distorcidos como os de hoje. Isso não quer dizer, por outro lado, que esteja condenado a interpretar essa mesma figura para sempre. Portanto, é com alento que se recebe a despedida que representa O Protetor: Capítulo Final. A segurança que esbanja em cena é a mesma desde o primeiro filme, porém suas ambições aparentam ter se modificado: ao invés de mudar o mundo, se revela confortável em apenas garantir o bem estar daqueles ao seu redor. Seus atos, no entanto, tem efeito de alcance limitado: é sabido que, no universo do crime, basta cortar uma cabeça para que duas surjam no mesmo lugar. Ele eliminou um vilão? Logo outro ocupará aquele espaço vago, ainda mais violento e sem tantas ressalvas. Mas, até lá, estará garantido não apenas o desejo de sangue de quem o assiste, como também se mostrará saciada essa vontade de agir acima da lei e da ordem, tão proclamada enquanto teoria, mas lugar de refúgio imediato assim que as coisas fogem do controle. Tanto na ficção quanto na vida real.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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