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Sinopse

As histórias de vida e as narrativas amorosas de 11 mulheres no primeiro mês da primavera.

Crítica

Afinal, o que querem as mulheres? Esta questão, que desde o princípio dos tempos tem atormentado a cabeça dos homens, já foi explorada na ficção das mais diversas formas – recentemente, até em especial da televisão brasileira. Mas se na grande maioria das vezes estas investigações eram conduzidas por realizadores masculinos – afinal, é histórica e motivo de muitas discussões a diferença quantitativa entre diretores e roteiristas homens e mulheres, sempre pendendo mais para os primeiros citados – no francês O Que as Mulheres Querem a situação se inverte, com a atriz Audrey Dana assumindo também as funções nos bastidores. E assim temos uma esperada mudança de olhar? Infelizmente, não.

O que Dana busca com esse seu trabalho de estreia como cineasta é mais se estabelecer na nova função do que buscar uma visão diferenciada para um tema tão batido. E ao invés de ir atrás desse reconhecimento através do emprego de elementos autorais, ela faz o caminho inverso, almejando uma satisfação rápida e descartável, bem ao gosto das comédias românticas tão populares no Brasil e nos Estados Unidos, por exemplo. Dessa forma, investe-se sem pudor nos mais variados tipos de clichês e estereótipos, regurgitando fórmulas antigas e já gastas em um enredo caricatural e farsesco, com personagens superficiais e situações narrativas tão falsas que o único riso que provocam é o do deboche, ao invés de uma suposta graça emulada.

E o que as mulheres de Audrey Dana querem? O mesmo que as de todo mundo, ao menos se levarmos em consideração somente o universo da ficção massificada: amar e serem amadas. Construindo uma narrativa coral, com onze personagens femininas que, em teoria, deveriam refletir os mais diversos aspectos da alma da mulher, o que vemos é a repetição incessante dos mesmos choramingos e protestos, como se tudo se resumisse a um conto de fadas com um príncipe no cavalo branco no final. Porém, para não soar datada, o máximo que propõe, ao menos em alguns casos, é substituir o cavaleiro por uma donzela, ou quem sabe um bom vibrador elétrico. Exatamente daquele tipo fácil de ligar, mas que só se desliga após um ataque histérico da proprietária. Uma atitude, como se pode ver, absolutamente verossímil – ou não.

Os cenários propostos são tristes e constrangedores. Isabelle Adjani, atriz vencedora de 5 César (o Oscar da França) e premiada em Berlim e em Cannes (além de dona de duas indicações ao Oscar hollywoodiano) sai de uma pretensa aposentadoria (nos últimos anos sua presença nas telas tem sido cada vez mais rara) apenas para, aos 60 anos, tentar interpretar uma mulher com a metade da sua idade cujas reações faciais mal são perceptíveis diante tanto botox. Vanessa Paradis – a cantora do clássico Joe le Taxi e ex-mulher de Johnny Depp – é a megera que, bem sucedida no mundo dos negócios, obviamente é uma infeliz solitária quando chega em casa, e por isso acaba contratando a própria secretária para lhe arrumar umas amigas. E há outras, como a advogada cujo intestino se revolta (inclusive com ataques de flatulência) quando encontra um homem bonito no seu caminho, a babá lésbica que se torna amante da patroa e a moça quase cega que se acha feliz no casamento mas que, após fazer uma cirurgia nos olhos e deixar os óculos de lado, descobre que o marido a trai e seu mundo vem a baixo.

Como se percebe, sutileza não é o forte da cineasta de primeira viagem. Mas a coisa piora quando vemos o que ela própria reservou para a sua participação como atriz: Dana aparece como aquela que só se apaixona pelos homens errados, casados que a tratam como mera diversão passageira. Até que um destes, ao ser posto para fora de casa pela esposa, decide ir morar com ela, transformando seu sonho fantasioso em uma realidade dura de aguentar. E por mais que cada trama se construa de forma independente, de um jeito ou de outro acabam se conectando, apenas para o final apoteótico sob efeito alcóolico com todas reunidas – mas ainda sonhando com o astro de cinema que pode, ou não, ser gay. E se as juras que fazem umas às outras não duram até o nascer do sol, bastará que uma caia no colo do galã celebridade para que voltem a lamentar suas próprias sortes. O Que As Mulheres Querem é triste de doer, e se torna ainda pior quando lembramos que são elas mesmo que, ao menos dessa vez, fazem tais afirmações.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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