Crítica
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Sinopse
Em O Que de Verdade Importa, Alec Bailey é um engenheiro frustrado que vive em Londres. Ele trabalha consertando eletrodomésticos, mas o dinheiro que ganha não é suficiente para pagar as suas contas. Tudo muda quando um tio distante aparece em sua vida com uma proposta irrecusável: pagar todas as dívidas de Alec desde que ele se mude para Nova Escócia, no Canadá, por um ano. Sem muitas alternativas, o jovem aceita o acordo e inicia uma nova fase em sua vida, agora em um novo país e prestes a conhecer mais sobre sua família e a si mesmo.
Crítica
O Que de Verdade Importa se encerra celebrando o abnegado e bonito trabalho dos que cuidam de crianças portadoras de doenças terminais como o câncer. Embora na trama haja a menina prestes a sucumbir a um tumor maligno, supostamente incurável, não é exatamente esse o ponto central do longa-metragem do cineasta Paco Arango. A mensagem da força da fé sobressai. Ela aponta à crença nos desígnios de entidades superiores que escrevem certos por linhas tortas. Mas, o filme sequer logra êxito como celebração religiosa. O protagonista é Alec (Oliver Jackson-Cohen), cético perdido que precisa de uma chacoalhada na vida. E o começo da guinada tida como necessária se dá quando um tio até então desconhecido, vivido por Jonathan Pryce, lhe oferece a quitação total de suas dívidas, com a condição dele mudar-se ao Canadá e lá permanecer por 365 dias. Essa premissa já deixa clara a intenção de desenhar um percurso de iluminação, em que o sujeito vai apreender valiosas lições para tentar evoluir.
Falta naturalidade à encenação de O Que de Verdade Importa. Os encontros são esquemáticos, com gente convenientemente atravessando o caminho alheio. Exemplo disso, a forma como Alec conhece Cecilia (Camilla Luddington), numa cena desajeitada, responsável por telegrafar o que poderia muito bem ser disfarçado. Um “erro” de impressão no jornal local faz com que o forasteiro seja visto como curandeiro. Logo, sua casa recebe várias pessoas em busca de alívio ou extirpação das enfermidades. O processo de negação desse homem que, de cara, não acredita na possibilidade de ter um dom extraordinário é entremeado pelo interesse amoroso banal, bem como sucedido por uma explanação sobre o pertencimento a uma linhagem de gente com faculdade de dirimir as dores alheias. O realizador aposta firmemente num sentimentalismo pesado, com direito ao perdão forçado da comunidade quando há demonstração da incapacidade de assumir responsabilidades perante os demais moradores.
Os valores cristãos fundamentam a narrativa de O Que de Verdade Importa. O arrependimento, presente após a tomada intempestiva de atitude diante do fardo atribuído, é um dos mais acintosos. A parábola contada inicialmente por um pároco, cuja moral é a inaptidão circunstancial para entender os desígnios de Deus, visa fornecer uma chave de entendimento à jornada de Alec. Esse sujeito supostamente não ouve a vontade divina, embora seja constantemente atravessado por ela, quando não servindo de seu instrumento. A ligação entre os personagens é bastante frágil, exatamente porque tudo está condicionado por um olhar mal disfarçadamente doutrinário. Figuras deslocadas, como o padre interpretado por Jorge Garcia, se avolumam consideravelmente. O foco se estreita gradativamente no casal, a priori, interditado por conta da orientação sexual dela. Todavia, o próprio tom predominante no filme, algo conservador e absolutamente antiquado, denuncia o mais que óbvio engodo.
O Que de Verdade Importa possui um discurso piegas, no qual as lições estão acima de quaisquer outros componentes. As reflexões "profundas" diante de cenários paradisíacos, os diálogos edificantes, as tentativas insossas de estabelecer alguma tensão sexual entre Alec e Cecilia, a dinâmica regida pela doença de Abigail (Kaitlyn Bernard) são enquadradas numa moldura estéril. Para se ter uma ideia, certo deslocamento pela floresta é embalado por Over The Rainbow, canção que, na voz de Israel Kamakawiwo'ole, já se tornou uma espécie de trilha sonora obrigatória de instantes pretensamente inspiradores. A trajetória do protagonista é ora nuclear, ora mero veículo dos preceitos ligados a uma noção estereotipada de religiosidade. O curador seria um milagreiro enviado pelo Todo Poderoso para representa-lo na Terra. Não há atenção à mitologia sugerida, tampouco a algo que eleve os personagens para além de sua função à celebração da fé como vital ao milagre. Portanto, nem isso é construído a contento.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Roberto Cunha | 6 |
MÉDIA | 3 |
Olá! Não entendi, porque o rapaz grita o nome da amada e aparece uma libélula voando. 🤔