Crítica
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Sinopse
O fundador do WikiLeaks, Julian Assange, e seu colega Daniel Domscheit-Berg, se juntam para se tornarem cães de guarda secretos dos privilegiados e poderosos. Com um pequeno orçamento, criam uma plataforma que permite o vazamento de dados sigilosos por delatores de forma anônima, lançando uma luz no obscuro recesso de segredos governamentais e crimes corporativos. Mas quando obtêm acesso à maior coleção de documentos de inteligência confidenciais da história dos EUA, brigam entre si e contra uma questão que define o nosso tempo: qual é o custo de guardar segredos em uma sociedade livre — e qual é o custo de expô-los?
Crítica
O Quinto Poder chegou aos cinemas dos Estados Unidos com grande polêmica em torno de sua produção. Isso porque o seu retratado, Julian Assange, gritou para todos que queriam ouvir que não endossava de forma alguma a dramatização realizada por Bill Condon da criação do Wikileaks. Como é especializado em vazar conteúdos secretos no site, Assange postou o roteiro do filme antes de sua estreia, comentando que a história estava cheia de inverdades. Não bastasse isso, entrou em contato com o ator Benedict Cumberbatch lhe pedindo que não o interpretasse no cinema – pedido esse não acatado pelo astro em ascensão. Toda essa energia despendida por Assange para desabonar a produção poderia inferir medo do que poderia ser mostrado, de como o filme o retrataria, muito mais do que as tais inverdades que ele tanto dizia que existiam na história. Afinal de contas, o roteiro foi baseado no livro do antigo sócio de Assange, o alemão Daniel Domscheit-Berg, figura que não saiu do Wikileaks de forma amigável.
No fim das contas, a campanha contra o filme parece ter dado resultado. Nos Estados Unidos, o longa-metragem foi um retumbante fracasso, conseguindo apenas US$ 8 milhões nas bilheterias, passando longe de empatar com o orçamento de US$ 26 milhões. Aqui no Brasil, O Quinto Poder não ganhará nem a chance de tentar a sorte nos cinemas, chegando direto em home vídeo. A campanha “parece ter dado resultado” porque não se sabe ao certo se o público não assistiu ao filme por puro desinteresse, ou por acreditar que o retrato da criação do Wikileaks estava incorreto, como Assange propagou na rede. Convenhamos que a primeira opção acaba sendo bem mais verossímil.
O roteiro é assinado por Josh Singer, baseado nos livros de Daniel Domscheit-Berg e dos jornalistas do The Guardian David Leigh e Luke Harding. O hacker australiano Julian Assange (Cumberbatch) conhece o jornalista alemão Daniel Berg (Daniel Brühl) em uma convenção em Berlim, depois de trocarem e-mails por um bom tempo. Os dois têm pensamentos afins sobre ativismo online e dão o pontapé inicial no site Wikileaks, uma ferramenta que se tornaria poderosa no vazamento de informações sigilosas. Dentre esses documentos, o mais polêmico certamente foi o envolvendo as tropas norte-americanas no Afeganistão. O filme mostra como Assange e Berg trabalharam para manter o site no ar e, paulatinamente, começaram a se distanciar através de suas diferenças.
O Quinto Poder começa de forma bastante interessante mostrando o poder da mídia tradicional no passado – com coberturas conhecidas de fatos marcantes da História – sendo substituído pela força dos veículos online. O filme seria ótimo caso continuasse nesta toada, tentando provar algum argumento. No entanto, Bill Condon acaba se contradizendo ao mostrar o quanto o Wikileaks se beneficiou quando o New York Times, o Guardian e o Der Spiegel se envolveram na divulgação dos arquivos secretos, legitimando toda aquela função. Ora, se o poder agora está na rede, porque seriam necessários os grandes jornais do mundo para fazer tal trabalho?
O que falta em Condon em O Quinto Poder é convicção no que está querendo dizer. O que comentar de uma produção em que seu protagonista, no desfecho, prega que um filme sobre o Wikileaks seria uma tolice? Lógico que o diretor tentou cooptar a polêmica que Assange fez em torno de seu trabalho, colocando aquela fala ao final. Mas não deixa de ser frustrante para o espectador. A pessoa investe duas horas de sua vida acompanhando uma trama para, no fim, observar o personagem principal dizendo que tudo não passou de bobagem.
Julian Assange é retratado como uma pessoa obsessiva e implacável, que tem objetivos muito claros na sua luta a favor da liberação total e irrestrita de informações. O que não fica claro, no entanto, é se essa proliferação de material secreto é feita com o público em mente ou se é basicamente uma forma de irritar as autoridades, chamar a atenção. O criador do Wikileaks tem muito certo para si que são necessárias medidas drásticas, disponibilizando no site textos e documentos sem edição alguma. Enquanto isso, os jornalistas de veículos tradicionais e o próprio Daniel Berg são de diferente opinião. Publicar, sim. Mas editando informações que trariam perigo para os envolvidos. É nessa discussão que o filme tenta se aprofundar, mas também sem muito sucesso.
Existem alguns pontos que funcionam em O Quinto Poder. O ritmo empregado por Bill Condon à narrativa é muito bom, conversando bem com a temática tratada. Afinal de contas, uma trama sobre um assunto tão contemporâneo pedia um andamento igualmente atual, rápido. E, claro, a performance da dupla principal: Benedict Cumberbatch e Daniel Brühl. O primeiro captura bem os trejeitos e a forma de falar de Assange, ficando inclusive parecido com o retratado pelos cabelos brancos e compridos. Brühl já havia chamado a atenção em 2013 para seu bom desempenho como Niki Lauda em Rush: No Limite da Emoção (2013) e novamente encarna um personagem da vida real, fazendo uma boa dobradinha com Cumberbatch. Ele, na verdade, acaba se tornando o outro lado da moeda para Assange. Mostrando iguais características de obsessão pelo trabalho, Daniel vai, aos poucos, colocando suas ações em perspectiva, se perguntando se o caminho que ambos trilham é o certo. Como a história é baseada na visão de Daniel, logicamente o filme o pinta em tons mais amenos.
Com um elenco de apoio impressionante, mas terrivelmente mal utilizado, com destaque para Laura Linney, Anthony Mackie, Stanley Tucci e David Thewlis, O Quinto Poder é o legítimo filme que parecia querer falar muito, mas que acaba se perdendo completamente na dúvida sobre o que dizer. Falta de convicção que custou bastante caro para uma produção que poderia ser relevante, até pelo personagem e pela história que coloca em foco.
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The Fifth Estate é apenas um lado da história. O título do filme é uma referência a pessoas que atuam como jornalistas fora das restrições normais impostas à grande mídia. O roteiro do filme foi escrito por Josh Singer baseado em parte nos livros Inside WikiLeaks: My Time with Julian Assange at the World's Most Dangerous Website (2011) de Domscheit-Berg, bem como WikiLeaks: Inside Julian Assange's War on Secrecy (2011) dos jornalistas britânicos David Leigh e Luke Harding. O Quinto Poder é baseado em dois livros, ambos escritos por pessoas que tiveram disputas pessoais e legais com o WikiLeaks. Estas são fontes pessoalmente tendenciosas e agora estão desatualizadas por anos. Eles contam apenas um lado da história. Esses autores tinham interesse em retratar Julian Assange como desonesto ou manipulador por motivos competitivos, pessoais e legais. É difícil imaginar como um filme que pretende dramatizar apenas sua versão dos eventos poderia genuinamente aspirar a ser justo ou preciso. O filme não conta a história que Julian Assange ou funcionários do WikiLeaks como Sarah Harrison, Joseph Farrell ou Kristinn Hrafnsson contariam. Esperançosamente, que dia, a história deles também poderá ser contada.
O filme narra a trajetória de Julian Assange, fundador do site WikiLeaks e sua relação com Daniel Domscheit-Berg, que o ajuda a divulgar informações secretas de governos, bancos e grandes empresas, como segredos de estado e crimes corporativos, por meio de denunciantes anônimos. Lançado em 2013, com direção de Bill Condon, o filme é uma espécie de alerta para políticos, governantes, empresários e pessoas comuns sobre a vulnerabilidade de suas informações postadas na Internet. Vale a pena ver o filme cuja direção tentou ao máximo ser imparcial, mesmo mostrando a perseguição mundial na tentativa de caçar Assange. O que chama mais atenção nesse filme é o seu início que passa rapidamente por vários acontecimentos históricos (claro, a maioria deles em território norte-americano). Na verdade, o filme é a história real do Wikileaks, site que divulgou informações sigilosas sobre vários países, incluindo os Estados Unidos, e seu criador Julian Assange, que foi muito bem interpretado pelo ator Benedict Cumberbatch. O filme mostra desde o início das atividades do Wilileaks, até seu auge, quando chocou o mundo com informações sigilosas sobre a atuação dos Estados Unidos na Guerra do Iraque, culminando na fuga de Assange para a embaixada do Equador, em Londres, para não ser deportado. Apesar de não alcançar o êxito desejado, o filme consegue mostrar o desejo e a determinação de Julian Assange por revelar os podres que as nações tentam esconder dos cidadãos, e de como ele colocou em prática seu plano. Vale a pena ver essa importante história real. Logo após o lançamento do filme, na abertura do Festival Internacional de Cinema de Toronto, no Canadá, os responsáveis pelo WikiLeaks resolveram se manifestar oficialmente contra O Quinto Poder. O WikiLeaks divulgou no seu site que em vários momentos o filme é mentiroso e criticou diversos pontos. O texto do WikiLeaks, revela como o site acredita que deveria ter sido retratado no filme, a quem chama de “irresponsável, contraproducente e prejudicial”. Para o site, a forma que o filme mostrou a relação entre Julian Assange e seu ex-colaborador Daniel Domscheit-Berg e, como retratou a participação de pessoas em determinados eventos e até mesmo a forma como eles aconteceram, O Quinto Poder é uma “ficção exibida como realidade”. A insatisfação fez com o que o WikiLeaks produzisse o filme Mediastan, um documentário com a versão oficial e autorizada da história, liberado gratuitamente na internet no mesmo fim de semana da estreia do filme. O documentário foi dirigido pelo jornalista e cineasta sueco Johannes Wahlström e produzido por Julian Assange, e pelas britânicas Rebecca O’Brien e Lauren Dark.
O assunto até que demanda interesse, mas o interessante mesmo ficou apenas na atuação da dupla de protagonistas.
Ótima essa critica. Os pontos que citou foram essenciais p/ esclarecer as dúvidas que eu tinha em relação ao filme. Pois assistindo a primeira vez, achei confuso o que realmente o diretor quis passar. Confesso também que antes de assisti-lo, fiquei na dúvida se realmente iria ou não encarar pelo fracasso comercial.