Crítica
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Sinopse
O ambicioso e imaginativo P. T. Barnum cria um hipnotizante espetáculo. Esse evento não só se tornou uma sensação mundial como também marcou o nascimento do show business.
Crítica
Após o número musical repleto de luzes e sons que abre O Rei do Show (um flashforward), há a breve apresentação da infância carente de P. T. Barnum (vivido na meninice por Ellis Rubin). Esse pequeno Oliver Twist é um sonhador incorrigível que conhece desde cedo a ojeriza dos poderosos por gente pobre como ele, sem títulos ou dinheiro suficiente para dormir no topo da pirâmide. Sua astúcia, porém, conquista a atenção e a simpatia da reprimida Charity (interpretada enquanto criança por Skylar Dunn), nascida em berço de ouro. Neste filme em que o romance nutre a fábula, logo se cria um vínculo sedimentado pela música. Durante a bela canção A Million Dreams, resume-se o percurso desse amor à distância que desemboca, contra probabilidades, em casamento. Barnum (Hugh Jackman) desposa Charity (Michelle Williams), a despeito das ressalvas do sogro que não suporta ceder a mão de sua menina a alguém sem posses. No âmbito do conto de fadas, há esperanças do homem vencer o dinheiro.
O cineasta Michael Gracey cria um espetáculo multicolorido, visualmente vistoso. A cenografia chama atenção pela engenhosidade com que alude ao passado, mais especificamente ao fim do século XIX, contudo mantendo uma aura de atualidade, de modernidade. As próprias músicas são fruto desse hibridismo bastante inteligente. As melodias são ora românticas, ora agitadas, com batidas típicas de hits pop atuais. Mas, o importante é que todas elas, assim como as coreografias, funcionam organicamente dentro do que O Rei do Show se propõe a ser. Barnum quer dar uma vida melhor à sua família, por isso se lança no ramo do showbusiness, primeiro, tentando montar uma atração com diversas criaturas empalhadas. Mas, com o fracasso de tal empreitada, ele decide investir no agrupamento de pessoas marginalizadas. Gordos, magros, exageradamente altos, mulheres barbadas, anões, negros, orientais, ou seja, todos que eram açoitados pelos olhares de uma sociedade retrógrada e tacanha se transformam no show.
O Rei do Show é um filme positivo, embora ofereça alguns percalços, especialmente os decorrentes da corrupção do protagonista pelo adversário que aparentemente antes vencera munido de pureza. Hugh Jackman é a alma deste musical vibrante. Seu Barnum possui o percurso dramático mais complexo, pois a necessidade de conquistar sucesso irrestrito, a qualquer curso, inclusive para isso negando amizades e vínculos que o fizeram vencedor, alimenta a ambiguidade que deixa o personagem ainda mais denso e próximo de nós, exatamente por sua falibilidade. Mesmo que Michael Gracey não confira tempo suficiente para os conflitos amadurecerem, vide a sucessão de resoluções simples para questões intrincadas, algumas até graves, tudo se assenta relativamente bem em virtude do caráter fabular, da sensação de que as coisas melhorarão a cada nova canção entoada, instantes habilmente utilizados às catarses ou tomadas de consciência. São números orgulhosa e genuinamente hollywoodianos.
Phillip Carlyle (Zac Efron) é o duplo jovem de Barnum. Sua origem nobre e, portanto, completamente distinta da do protagonista “sem sobrenome”, soma a rebeldia dos abastados inconformados à performance das “aberrações”. O amor por Anne Weeler (Zendaya), a trapezista negra que sequer se atreve a pensar em levar a cabo a afeição pelo rapaz branco de olhos claros, é a centelha que ilumina a crítica social contida em O Rei do Show. Em tempos de ascensão de ideias fascistas, de extrema-direita, ou de algo que os valha, é essencial uma realização como esta erguer os estandartes da equidade e/ou da igualdade. No picadeiro tão rechaçado pelo crítico James Gordon Bennett (Paul Sparks), os outrora motivos de vergonha se tornam aptidões. Aliás, essa figura, o especialista, fornece outra lição, a de que a apreciação das obras depende do olhar, da perspectiva. Com personagens, músicas e coreografias cativantes, a realização de Michael Gracey pode ser ingênua, mas seduz pela maneira absolutamente lúdica de ressignificar com entusiasmo a máxima “o show tem de continuar”.
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