Crítica
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Sinopse
Simba é um jovem leão cujo destino é se tornar o rei da selva. Tudo corre bem, até que uma grande tragédia atinge o reino e muda sua trajetória para sempre.
Crítica
Há diversas coisas a se pesar diante de O Rei Leão, realização que reinventa quase nada da elogiada animação lançada pela Disney em 1994. A relação entre os filmes é bastante estreita, com este se abrigando sob a sombra daquele e, por isso, abdicando de um lugar ao sol para chamar de seu. Responsável pelo remake, o diretor Jon Favreau é subserviente ao trabalho dos colegas Roger Allers e Rob Minkoff, celebrado nos anos 90. Isso se percebe na reprodução fiel de sequências emblemáticas, antes vistas com uma técnica diferente. Portanto, do ponto de vista formal, o que sobressai dessa vez é a qualidade absurda do fotorrealismo. O nível de detalhamento é realmente impressionante. Mostra-se orgânico esse mundo em que animais antropomorfizados participam do fino equilíbrio natural desestabilizado pela figura de Scar (voz de Chiwetel Ejiofor) que, por inveja, arma contra o irmão, o imponente monarca Mufasa (voz de James Earl Jones), e seu jovem herdeiro, Simba (voz de JD McCrary). É um conjunto que se rende voluntariamente ao antecessor.
Já na primeira (e emocionante) cena, a da apresentação de Simba aos súditos que o reverenciam, a submissão ao original fica evidente, para o bem e para o mal. Ainda no que tange à comparação, determinadas passagens são esticadas, como a que demonstra a Rafiki (voz de John Kani) que, apesar do imaginado, o príncipe está vivo e capaz de surgir como improvável esperança no cenário dominado pela associação entre Scar e as hienas. Aliás, a produção esclarece contextos, explicando, por exemplo, porque as terras perdem vida com a ascensão dos predadores que caçam indiscriminadamente e, assim, quebram um equilíbrio vital. Esse servilismo de Favreau retira de O Rei Leão a razão de existir, a personalidade. A despeito da excepcional técnica, prevalece um anacronismo advindo da falta de disposição para fazer mudanças significativas, inclusive quanto à mensagem basilar. A monarquia é falocêntrica e sequer a briosa atitude das leoas é valorizada a contento.
Favreau sabe destacar momentos potencialmente comoventes. Os closes em expressões primorosamente construídas, a demora nos rostos que testemunham episódios importantes, tudo isso depõe a favor da nova versão. Também é bonita a forma como o cineasta sublinha o caráter cíclico da existência na selva, vide o supracitado seguimento que leva à revelação da vivacidade de Simba (voz de Donald Glover). Se está diante de um filme ancorado em valores inerentes ao começo dos anos 90, que faz uma escolha contestável entre a fidelidade e a necessidade de observar dinâmicas por vieses distintos e/ou colocar em evidência pormenores outrora negligenciados. Mesmo Nala (voz de Beyoncé) segue funcionando como a simples encorajadora do nobre a assumir o posto numa batalha que afeta todos nas cercanias. Fica difícil compreender, para além da possibilidade de lucrar cifras substanciais, os motivos que levaram um artista como Jon Favreau a praticamente gerar essa bonita cópia sem tanta luz particular, ou seja, a fazer uma releitura que não relê.
O Rei Leão, como na versão original, lucra com Timão (Billy Eichner) e Pumba (Seth Rogen) em cena como alívios cômicos. Scar, por sua vez, ganha peso trágico, especialmente por conta do físico debilitado e do semblante anuviado por pensamentos nefastos. Simba continua fadado ao heroísmo e ao triunfo; Nala ainda é uma impetuosa dama em perigo que ocasionalmente demonstra força; Mufasa ostenta sua contumaz imponência aristocrática; o novo Zazu (voz de John Oliver, impagável) surpreende ao preservar a fidalguia carismática do personagem. Pouco muda nessa trama calcada em Hamlet, de William Shakespeare, cujo ganho na transposição à seara animal é a lúdico. Há uma conveniência contestável no apoio gritante do filme na memória afetiva dos espectadores que, logo, saboreiam gostos absolutamente familiares, mas de temperos dissonantes da fome atual. Com escassa vida própria, ele acaba reforçando o quão o anterior é memorável.
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