O Reino Gelado: Fogo e Gelo
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Aleksey Tsitsilin
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Snezhnaya koroleva 3. Ogon i led
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2017
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Rússia
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
A franquia russa baseada no conto de Hans Christian Andersen poderia ter sido eclipsada pelo gigantesco sucesso de Frozen: Uma Aventura Congelante (2013), ainda mais depois do sucesso de bilheteria e crítica da aventura da Disney. O primeiro filme, lançado meses antes na Rússia e em outros países, agradou ao público e garantiu uma sequência no ano seguinte. O longa tem uma história desastrosa, mas conseguiu manter a audiência, o que possibilitou a realização desta terceira parte. O Reino Gelado: Fogo e Gelo mescla um pouco da trama dos capítulos anteriores, tanto em suas qualidades quanto seus defeitos. Para as crianças, pode ser divertido. Mas os adultos, provavelmente, acabarão dormindo durante a narrativa.
Nesta nova aventura, Gerda e Kai são lendas no mundo por terem derrotado a Rainha do Gelo em O Reino Gelado (2012). Só que, ao invés de riquezas, eles sobrevivem com pequenos trabalhos, escondendo ao máximo suas identidades. O segredo vai por terra quando os irmãos encontram uma trupe de piratas em suas andanças, em que um deles, Roni, descobre a natureza da dupla e seduz Gerda com a história da Pedra do Desejo, uma antiga lenda dos trolls que ninguém nunca comprovou a veracidade. Porém, a vontade da garota em encontrar seus pais é maior que qualquer coisa, levando-a a se separar do irmão. As coisas ficam ainda mais complicadas quando, sem explicação aparente, Gerda e o jovem pirata adquirem poderes sobre gelo e fogo, respectivamente.
A ideia até parece interessante, mas assim como O Reino Gelado 2 (2014), sofre do mal desenvolvimento da história. A boa notícia é que os irmãos voltam a ser protagonistas do enredo. O foco é na relação familiar. Ou deveria. Assim que Kai e Gerda brigam, pois o garoto quer continuar a vida na incógnita enquanto ela acredita que os pais estejam vivos e pretende descobrir a verdade, a intenção é explorar como eles seguem suas jornadas em separado. Na verdade, não há muito o que contar sobre Kai, já que ele apenas anda pelo mundo ao lado da amiga pirata. O protagonismo fica por conta de Gerda, que vai viver vários percalços ao lado do revoltado Roni, que teve uma infância dura e também quer entender o que houve com sua família. O garoto sofreu bullying e vive tentando comprovar sua coragem perante o mundo. Dos novos, ele é o personagem mais interessante, ainda que caia num clichê mais próximo à conclusão do enredo que quase estraga sua trajetória. Orm, o troll, aqui deixa de lado um pouco suas palhaçadas habituais (ainda que mantenha o bom humor) para explorar mais o passado de seu povo, que tem ligação direta com a tal Pedra do Desejo. Talvez o arco mais eficiente da trama.
Porém, os pontos são mal aprofundados. Ninguém espera um tratado filosófico em um filme voltado para menores, mas o diretor Aleskey Tsitsilin parece não ter entendido em que ponto estão as animações de hoje. Se a fonte principal da história gerou o já citado Frozen, como não esperar algo, no mínimo, próximo das questões levantadas pelo fenômeno da Disney? Até dá pra captar que a relação de Elsa e Anna é emulada através de Kai e Gerda pelo amor entre irmãos, assim como o protagonismo da garota eleva a questão das meninas à frente de produções atuais. Mas as soluções rasas para o desenvolvimento da história colocam tudo a perder. Ainda mais quando ela só se sobressai após os rapazes falharem, sem quase nunca tomar a iniciativa. Ou seja, o longa tenta ser contemporâneo, mas acaba preso no mesmo formato em que as mulheres precisam ser salvas pelos homens.
Além de tudo, a montagem do filme acaba tendo um efeito contrário e pouco proveitoso à qualidade das imagens. Se O Reino Gelado: Fogo e Gelo é a melhor em termos técnicos às sequências anteriores da saga, com mais elementos em cena e cores vivas em relação aos frios cenários de gelo, por outro, alguns amadorismos (como os excessos desnecessários de fade out) prejudicam o andamento da história e causam um efeito de animação feita para a televisão, como um grande episódio estendido. Não é de todo ruim, mas, assim como cada capítulo da franquia, é perceptível que havia mais o que explorar. No entanto, o que fica é que a trilogia virou apenas um caça-níquel pouco preocupado com o encantamento de uma bela história, e sim atrás apenas em soltar o filme nos cinemas numa concepção mercadológica de linha de montagem. Não duvide que faça sucesso por aqui também, ainda mais com a dublagem de nomes conhecidos como Larissa Manoela, mas vai se tornar outro exemplar esquecível num ano em que o gênero está em baixa. Resta aguardar que numa nova continuação (algo que não deve ser difícil de acontecer) os produtores consigam elevar a série a notas mais altas. Sonhar não custa nada.
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