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Crítica


6

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1 voto 10

Onde Assistir

Sinopse

O Brasil é o país com o maior número de cesáreas no mundo. O documentário busca elucidar os mitos e torno do parto normal e divulgar os cuidados para a sua realização.

Crítica

Em momentos pontuais, O Renascimento do Parto 2 se assemelha bastante a um filme de horror, especialmente nos vários relatos de violência obstétrica. Aliás, é por esse viés que o cineasta Eduardo Cahuvet principia a sequência de seu documentário de 2013, se valendo dos testemunhos de mulheres tratadas cruelmente em mesas cirúrgicas por equipes médicas incapazes de atentar aos mais básicos direitos humanos e respeitar a integridade física alheia. Esses depoimentos são entremeados por imagens registradas amadoristicamente, nas quais, sem constrangimento aparente, é possível acessar comportamentos revoltantes que vão desde o deboche da dor de outrem a procedimentos tidos como inadequados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O tom de denúncia é bem construído, amparado por profissionais que mencionam absurdos e estatísticas alarmantes. O Brasil é o país com a maior quantidade de cesarianas do mundo, fato que permeia o longa sensivelmente.

Num segundo momento, O Renascimento do Parto 2 deixa relativamente de lado essa ferocidade com que deflagra rotinas desumanas em maternidades e hospitais, para mostrar exemplos positivos, como partos humanizados, em cenas cujo desfoque literal preserva a intimidade das pessoas envolvidas, mas sem amenizar a beleza dos nascimentos. A estrutura do roteiro é muito clara e, até dado ponto, instaura uma previsibilidade incômoda, pois permite ao espectador antever a então manjada trocas de vieses. A alternância das abordagens acontece de forma esquemática, sem que as instâncias se retroalimentem, senão na esfera temática. Claro que o contraste entre os modelos de parto e as condutas obstétricas surte um efeito expressivo, principalmente no que concerne à nossa relação com o tema. Porém, falta ao filme uma pegada menos cartesiana para exceder os limites impostos pela similaridade dos materiais à disposição. As entrevistas se sobrepõem, não são propriamente conjugadas.

Uma vez apresentados partos violentos e seus contrários, experiências que apontam à necessidade de discussão em torno do assunto, O Renascimento do Parto 2 se coloca refém da reiteração, subaproveitando, inclusive, os dizeres de especialistas estrangeiros, que somente corroboram, com números oficiais, uma realidade à qual previamente tivemos acesso. Alguns elementos surgem deslocados, não por desajuste da proposta principal, mas pela maneira trôpega de encaixe no todo. Um deles é a constatação da importância do Sistema Único de Saúde (SUS), independentemente de seus problemas evidentes e do sucateamento promovido por recentes políticas públicas de desvalorização da entidade. Eduardo Cahuvet coloca essa observação meio a esmo durante o debate instaurado em torno dos métodos utilizados por médicos obstetras e equipes de enfermagem Brasil afora. É apenas um dos sintomas da fragilidade cinematográfica de uma realização importante, que coloca o dedo em determinadas feridas circunstancial e repetidamente.

O Renascimento do Parto 2 passa bem brevemente por uma questão imprescindível, inerente à luta por direitos equânimes, que é a considerável discrepância de tratamentos de acordo com classe social e etnia. Eduardo Cahuvet não expande o tópico, contentando-se com o desabafo de uma mulher negra acerca das dificuldades enfrentadas por suas semelhantes em trabalho de parto. Sobram cenas emocionantes de mães dando à luz de jeitos anticonvencionais – sendo “convencionais” as dinâmicas hospitalares dominantes –, com o apoio de maridos emocionados. Também são construtivas as falas dos entendedores de diversas áreas, o que ajuda a construir um painel relevante sobre a violência obstétrica, algo pouco debatido socialmente. Todavia, falta concisão e aprofundamento ao roteiro. Algumas opções diretivas, como certas imagens de transição, completamente descartáveis, também depõem contra o resultado que, mesmo assim, ainda exala urgência por tocar num ponto delicado e absolutamente relevante.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
6
Bianca Zasso
8
MÉDIA
7

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