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Crítica

O Roubo da Taça chegou para fechar a segunda noite do Festival de Gramado, trazendo consigo boas expectativas. Produzido pelo canal de streaming Netflix, responsável por séries aclamadas como House of Cards e Narcos, e premiado pelo público do festival SXSW, acostumado a destacar o que deve ser visto fora do circuito mainstream, o segundo filme de Caíto Ortiz leva às tela uma das melhores ilustrações antropológicas do Brasil: o roubo da taça Jules Rimet. Outorgada às seleções três vezes campeãs do mundo no futebol, a taça simbolizou o reconhecimento internacional do esporte canarinho após a vitória na Copa de 1970.

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Estamos em dezembro de 1983 e Peralta (Paulo Tiefenthaler) é um trambiqueiro sobrevivendo à própria lábia. Devotado ao jogo e à bebida, o protagonista precisa de muito malabarismo para sustentar a esposa Dolores (Taís Araújo). Preso às dívidas de jogo e percebendo o fracasso da principal aposta para fonte de renda, uma falcatrua denominada de "pirâmide" –  na qual se procura ficar rico sem qualquer esforço –, Peralta resolve agir. Para isso, faz uso das informações privilegiadas que tem junto à Confederação Brasileira de Futebol e convoca o amigo Borracha (Danilo Grangheia) para roubar a réplica da Jules Rimet. Um tanto por acaso e muito por ineficiência da CBF, o furto toma proporções inimagináveis.

Escrito pelo diretor e por Lusa Silvestre, o roteiro narra o acontecimento agregando licença ficcional aos fatos. Assim, Ortiz consegue inserir de maneira orgânica o filme no gênero cômico, utilizando-se, para isso, do recurso de exacerbar as características dos personagens. Sintetizado no gosto pelos closes no corpo de Dolores e na preferência por gritos e força – como nas cenas em que Borracha ataca o segurança da CBF e Peralta é castigado na orelha por Bispo – o excesso será a regra a fim de provocar risadas do público, evidenciando que um conjunto de situações engraçadas não necessariamente constrói um filme divertido.

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Contando com a harmonia entre fotografia e direção de arte, o longa consegue emular com competência o Rio de Janeiro de época. Somado a isso está a atuação de Paulo Tiefenthaler. Extremamente desenvolto, o ator consegue construir um personagem caricato sem perder naturalidade ou recair na artificialidade. A característica viva não apenas ascende os demais personagens como o destaca frente ao desempenho irregular de O Roubo da Taça.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul, e da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Tem formação em Filosofia e em Letras, estudou cinema na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Acumulou experiências ao trabalhar como produtor, roteirista e assistente de direção de curtas-metragens.
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