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Crítica


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Sinopse

Um crime marcou o dia 13 de janeiro de 2006 na história da Argentina. Seis ladrões esvaziaram 147 cofres e fizeram diversos reféns durante cinco horas de pura tensão num banco da zona nobre de Buenos Aires. Apesar do cerco, 15 milhões de dólares foram retirados do prédio, numa ação considerada sem precedentes no quesito ousadia.  

Crítica

No dia 13 de janeiro de 2006, seis homens invadiram uma agência do Banco Rio, em Acassuso, na Grande Buenos Aires, efetuando um assalto que entraria para a história argentina, tanto pela quantia roubada quanto por sua concepção e execução. Em O Roubo do Século, o cineasta Ariel Winograd reconta o ocorrido, realizando as devidas adaptações para fins dramáticos, como esclarece a cartela inicial, e adotando um viés abertamente cômico, que se revela adequado diante de um esquema que caminha constantemente entre o genial e o ingênuo. Além da engenhosidade do plano, elemento fundamental para o sucesso de um filme de assalto, Winograd conta com um segundo fator tão ou mais importante: personagens capazes de gerar empatia e manter o público sempre ao seu lado. Uma qualidade encontrada especialmente na dupla protagonista, o instrutor de artes marciais, Fernando (Diego Peretti), idealizador do plano, e o experiente golpista uruguaio, Mario (Guillermo Francella), financiador da empreitada.

É da dinâmica contrastante do duo, o aspirante a artista plástico, boa vida e apreciador da cultura canábica, e o gatuno astuto e esquivo, seguidor de um código de conduta mais rígido, que Winograd extrai a essência responsável por sustentar o interesse na narrativa, bem como o tom do humor que a envolve. Narrativa esta que segue a maioria dos arquétipos do subgênero ao qual se filia, trazendo o processo de formação da equipe, com a apresentação de cada integrante, o passo a passo explicativo do plano e dos contratempos que devem ser superados, etc. Tudo exposto de forma didática, como as montagens que resumem as etapas principais do assalto, mas ainda assim atraente, exibindo um visual rebuscado e um clima despretensioso, que remete aos filmes da série iniciada por Onze Homens e Um Segredo (2001), de Steven Soderbergh, porém, com um estilo menos blasé e mais próximo do pop.

Tal abordagem demonstra claramente que Winograd mira um público mais amplo, pois ainda que existam particularidades inerentes à ambientação e à contextualização histórica, que garantem o toque portenho, de modo geral, o que se vê é um produto formatado para o mercado internacional, bastante acessível. Algo que passa, por exemplo, pelas escolhas musicais anglófonas, de Frank Sinatra a The Kinks, pontuando passagens relevantes. Desta forma, o sentimento predominante é o da familiaridade, que emana do próprio desenvolvimento da trama, dos conflitos às resoluções, e da construção dos personagens, que se mostra particularmente econômica no que diz respeito aos membros coadjuvantes do grupo. Estes acabam relegados às funções específicas no golpe e a pequenos detalhes de composição que denotam suas personalidades individuais – a religiosidade de um, o apego aos filhos e à vida familiar de outro, ou a relação passional com a esposa de um terceiro.

O foco de Winograd fica mesmo na dupla central, porém, sem também fugir muito de terrenos já conhecidos. No caso de Fernando, há a busca por se aprofundar em seu desejo de pertencimento – de encontrar uma real vocação e realizar algo grandioso – por meio das sessões com seu psicólogo, que servem também para explicar mais detalhadamente o assalto. Já Mario ganha um arco particular envolvendo a tentativa de compensar um passado de ausência e manter uma relação mais próxima com a filha, Lucía (Johanna Francella), que já se mostra cansada de suas mentiras. O que de fato enriquece este material, tão familiar, é a qualidade do elenco: Francella, sempre ótimo, injeta o cinismo e a eloquência que Mario demanda, assumindo o papel de líder carismático do assalto, com a função de “entreter” a polícia – o que inclui a divertida decisão de ter aulas de teatro. O mesmo vale para Peretti, que encarna o espírito bonachão de Fernando e seu fascínio pela ideia do plano perfeito.

Ambos exalam a descontração que envolve O Roubo do Século, inclusive durante desenrolar do assalto. Por vezes, tal característica soa excessiva, esvaziando o longa de uma sensação mais concreta de gravidade ou de tensão, pois ainda que exista a desconfiança do negociador da polícia encarregado (Luis Luque), poucos obstáculos reais se impõem no caminho do grupo, nem mesmo possíveis atritos internos. No fim, o diretor parece mesmo buscar essa leveza para tornar seus heróis ainda mais relacionáveis, trazendo na bagagem certa noção de justiça social, seja na citação de Brecht que Fernando faz ao psicólogo – “É pior roubar ou fundar um banco?” – ou no discurso do personagem sobre manter o “equilíbrio natural”, ao realizar um roubo sem violência e sem prejudicar ninguém, além dos banqueiros milionários. Tudo, porém, em um tom bem mais brando do que, por exemplo, seu compatriota Nove Rainhas (2000), que inseria de modo preciso a crise econômica argentina do final dos anos 1990 e início dos 2000 em seu conto sobre golpistas. Winograd realmente não demonstra essa ambição crítica mais aguda, optando por oferecer o entretenimento puro, entregue com muita competência.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
7
Ailton Monteiro
5
MÉDIA
6

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