O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim
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Kenji Kamiyama
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The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim
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2024
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Japão / EUA / Nova Zelândia
Crítica
Leitores
Sinopse
O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim se passa cerca de duzentos anos antes dos eventos mostrados na saga O Senhor dos Anéis. É quando um ataque repentino de Wulf, o inteligente e implacável lorde em busca de vingança pela morte de seu pai, obriga Helm e seu povo a uma última e ousada estratégia. Eles buscam refúgio na antiga fortaleza de Hornburg - que mais tarde será conhecida como o Abismo de Helm.
Crítica
Uma das principais reclamações, mesmo entre os fãs mais aguerridos, em relação à trilogia original de O Senhor dos Anéis, levada às telas por Peter Jackson entre 2001 e 2003, dizia respeito à ausência de personagens femininas em cena. Basicamente, tudo se resolvia entre os homens (ou seus correlatos de outras raças), sendo que, ao longo de mais de dez horas de história, apenas três eram as mulheres que recebiam algum tipo de destaque: Arwen, a princesa que precisava decidir entre o amor e a imortalidade, Galadriel, a rainha tão poderosa que optou por não se envolver em assuntos por demais terrenos por medo de acabar corrompida, e Eowyn, a nobre que decide se esconder por detrás de roupas masculinas para defender o que acredita. Ou seja, de uma forma ou de outra, todas se veem obrigadas a se minimizar em nome das ordens e vontades masculinas que as rodeiam. Pois bem, O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim não segue essa linha, partindo de imediato pela escolha de Héra, igualmente aguerrida e também filha da coroa, como protagonista. A diferença é sutil, mas injeta ânimo a um universo que parecia dar sinais de esgotamento.
Movimento esse similar ao visto na série O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder (2022-) ao escolherem uma jovem Galadriel como uma de suas figuras centrais. Ou seja, elas não mais são coadjuvantes (é de se perguntar como J.R.R. Tolkien reagiria a isso...). E a mudança, se talvez não fizesse sentido na época de publicação dos livros originais – uma obra que teve início em 1937, com O Hobbit, e seguiu até após a morte do autor, em 1973 (Os Filhos de Húrin, por exemplo, ganhou vida em 2007, tamanha era a quantidade de escritos que permaneceram inacabados e que foram retomados por herdeiros ou estudiosos) – se mostra cada vez mais contemporânea. A Guerra dos Rohirrim tem sua trama ambientada séculos após os eventos vistos em Os Anéis do Poder, e uns 180 anos antes da Saga do Anel. Trata-se, como se percebe, de uma história isolada, quase à parte dos episódios correlacionados aos poderosos anéis, suas influências e consequências (há uma breve menção a eles, tão rápida que os desatentos certamente deixarão passar em branco).
Essa decisão acaba beneficiando o conjunto. Afinal, a imensa sombra dos projetos anteriores por aqui se projeta de maneira opaca, quase como uma nota de rodapé. O mago Gandalf, por exemplo, é citado apenas ao final, e Éowyn, vista pela primeira vez em As Duas Torres (2002), aqui retorna somente como narradora, como que num processo de recordação a respeito dos feitos de uma das suas mais importantes ancestrais, uma lembrança que talvez tenha sido apagada dos registros oficiais (a crítica a Tolkien é aqui manifesta), mas dessa vez retomada com o que lhe é de direito. Rohan é conhecido por seu povo guerreiro, e os Rohirrim compõem a elite dos cavaleiros de toda a Terra Média. Lugares como o Abismo de Helm, ou fortaleza de Hornburg, que vão ser importantes na trama mais conhecida, aqui estão no centro dos acontecimentos, e suas origens são explicadas e entendidas. Antes citados apenas brevemente nos apêndices do livro O Senhor dos Anéis, agora ganham uma visão estendida, detalhada e completa.
No final das contas, trata-se de mais uma história de amor. Wulf e Héra foram criados juntos, e como amigos, também se permitiu que um sentimento forte surgisse entre eles. Porém, quando o pai dele é morto em uma luta após ter desafiado o rei Helm Mão-De-Martelo (ninguém menos de quem ela é filha), nasce no rapaz um anseio por vingança e reparação. Ao declarar seu intento, é expulso do reino, o que o leva a liderar um povado vizinho. Leva-se anos até unir as forças necessárias para que seu plano tenha início. Contando com espiões infiltrados e a certeza de que o velho governante, que imagina estar decadente, não ofereceria resistência, Wulf parte para o desafio. Não contava, porém, que Héra faria a frente em uma linha de defesa, não apenas da família, mas de tudo que ela e os seus representam. Acuados, precisam se refugiar na histórica construção que ficaria marcada como símbolo de luta e força. Com sequências de ação envolventes e bastante dinâmicas, o longa cumpre sua tarefa em manter viva a chama deste universo, ao mesmo tempo em que oferece um ou outro toque de modernidade a um texto que data de décadas atrás.
É preciso entender também o contexto no qual O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim foi realizado. O principal objetivo era manter os direitos da saga com a Warner Bros – caso contrário, por inatividade e ausência de lançamentos relacionados, eles voltariam para a Embracer, empresa sueca que controla grande parte dos licenciamentos do autor. Por isso as dimensões limitadas, como a opção por uma realização no estilo anime e a direção entregue a um cineasta pouco conhecido no Ocidente, o japonês Kenji Kamiyama (Ancien e o Mundo Mágico, 2017). E ele cumpre bem o que dele se espera, sem maiores elocubrações ou pretensões desmedidas, contentando-se em oferecer uma aventura à moda antiga, que provavelmente teria agradado à Ralph Bakshi, realizador da primeira animação criada a partir deste contexto (O Senhor dos Anéis, 1978). Bonitinho, sim, mas também deveras ordinário.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 6 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 5 |
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