Crítica
Leitores
Sinopse
Uma mulher tem seu filho sequestrado em um parque local. Desesperada, embarca numa corrida contra o tempo para salvá-lo.
Crítica
Antes de qualquer coisa, o diretor Luis Prieto investe em itinerários canhestros para tentar conquistar rapidamente a nossa simpatia pelos personagens principais de O Sequestro. A exagerada sequência de vídeos caseiros que dão conta do crescimento paulatino do pequeno Frankie (Sage Correa) é seguida da cena, não menos desajeitada, de sua mãe, Karla (Halle Berry), aguentando toda sorte de contratempos no trabalho. Ela nos é apresentada como uma mulher resiliente, que suporta na boa as provocações de clientes grosseiros e está disponível ao filho para cumprir promessas. A retidão moral da protagonista, então, surge como um dado relevante para que, presumivelmente, criemos afinidades com ela. Ora, a própria demanda emocional das situações singulares vivenciadas por Karla a partir dali já seria mais que suficiente para isso, sem a necessidade de um preâmbulo tão banal e abertamente disposto a estabelecer uma escala de valores completamente descartável.
Eis que Frankie é sequestrado no único momento de distração da mãe ao telefone. A preocupação pregressa e constante com o paradeiro dele, evidenciada nos jogos de perguntas e respostas com as palavras “Marco” e “Polo”, não se desdobra adiante, o que torna a inserção absolutamente esvaziada de propósito. Ao presenciar o garoto sendo levado por pessoas desconhecidas num carro misterioso, atendendo aos instintos maternos, ela resolve persegui-las incessantemente. O argumento, como se constata, possui uma série de boas possibilidades expressivas. É exatamente o esvaziamento flagrante e gradativo desse potencial que mais depõe contra a fruição de O Sequestro. O realizador investe insuficientemente na criação de uma atmosfera realmente tensa, conseguindo injetar pouca adrenalina na caçada. Halle Berry, fazendo jus à “maldição” que se abateu sobre sua carreira após ela ter levado um Oscar para casa, se restringe a fazer semblante de desespero ao volante e vociferar excessivamente.
O Sequestro não é calcado no mistério acerca da identidade dos captores. Embora não saibamos, de fato, motivações e nomes, os sequestradores dão as caras sem mais aquela, numa cena cuja dinâmica reflete bem o tom predominante. Karla se depara com os bandidos, especialmente o homem calado que ameaça frequentemente a vida de seu filho, se deixando intimidar mesmo no banco da motorista e com clara perspectiva de êxito num eventual enfrentamento. Nessa seara, há ainda outras soluções implausíveis oferecidas pelo roteiro, como a retomada da perseguição logo depois da desistência forçada, justamente, pela promessa de morte ao refém. No início, diversos outros automóveis são vitimados ao longo do caminho, com direito a capotamentos extravagantes, vislumbrados detalhadamente pela protagonista que, nessas horas, acredita ser mais importante conferir os acidentes pelo retrovisor. De um ponto em diante, porém, só há vítimas e algozes na estrada, sem uma viva alma alheia por quilômetros.
Luis Prieto não dá conta de extrair emoção das circunstâncias limítrofes pelas quais Karla passa. A montagem, a cargo de Avi Youabian, é burocrática, quando não malfadada no intuito de compensar determinadas fragilidades da filmagem. Em certas ocasiões, fica verdadeiramente difícil notar o que acontece na tela, por conta da justaposição desenfreada dos planos. O Sequestro confunde pressa e urgência, do que decorre a sensação de vazio, de pouco envolvimento. O incômodo comportamento histriônico de Karla – a priori, algo normal, em virtude da gravidade do episódio – é resultado da soma de uma interpretação carregada de tudo, menos de nuances, com a predileção diretiva pelo relevo dos instantes em que a aflição é atingida artificialmente, sem atmosfera que a justifique. Há, também, leviandade na passagem de Karla praticamente responsabilizando uma suposta imobilidade dos pais pela permanência do sumiço dos filhos. Em suma, um thriller desinteressante, que passa longe de empolgar.
Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)
- Megalópolis - 1 de novembro de 2024
- Corisco & Dadá :: Versão remasterizada entra na 3ª semana em cartaz. Descubra onde assistir - 31 de outubro de 2024
- Continente :: “A violência nesse filme é ambígua e às vezes desejável”, diz o diretor Davi Pretto - 31 de outubro de 2024
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Edu Fernandes | 5 |
MÉDIA | 4 |
Deixe um comentário