Crítica
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Sinopse
Crítica
O cinema gosta muito do personagem do escritor (pode ser outro tipo de criador de histórias) que mistura ficção e realidade. São inúmeros os filmes centrados em protagonistas assim, que ora levam para suas concepções algo da vivência efetiva, ora prenunciam nas páginas (nos filmes, nas telas, etc.) crimes a serem cometidos. Pedro Alonso – ator mais conhecido por interpretar Berlim na série La Casa de Papel (2017-) – vive em O Silêncio do Pântano um tipo desses, mas sem qualquer brilho, especialmente pela forma com o roteiro paulatinamente o enfraquece ao entrelaçar outras circunstâncias. Ele é apresentado durante um delito, a execução brutal de um taxista mal-educado com repetidos golpes na cabeça. A cena subsequente mostra o autor descrevendo esse episódio contido num livro recém-lançado, para uma plateia de entusiastas. Assim, poderíamos esperar que o cineasta Marc Vigil apostasse numa fértil confusão entre os fatos e as histórias criadas. Todavia, infelizmente, a imprecisão não é fomentada neste filme que rapidamente se perde feio.
Uma das vítimas do literato é um economista acusado de corrupção. Preso numa propriedade afastada, à beira de um banhado, ele é o elemento que liga Q à criminalidade e à polícia corrupta. Ao invés de substanciar o personagem aparentemente dotado de enigmas, o realizador prefere praticamente o deixar de lado em função da construção de uma dinâmica banal, na qual é difícil separar mocinhos e bandidos. Ao autor restam alguns instantes de filosofia solitária, em que ele associa as laranjas podres da sociedade valenciana com elementos naturais do pântano, tais como os juncos e as enguias. É algo insuficiente, por exemplo, para que tenhamos uma noção mais acurada acerca de sua personalidade mantida deliberadamente encoberta. Em virtude da inabilidade narrativa, Q não se impõe pelos mistérios que os caracterizam grosseiramente e tampouco sobressai por conta da enunciada genialidade de seus escritos. Acaba sendo uma figura bastante vazia.
Uma vez basicamente abandonando o protagonista ao deus dará, O Silêncio do Pântano volta suas atenções à disputa entre os parceiros de contravenção. De um lado, a mafiosa interpretada por Carmina Barrios, poderosa chefona que não se furta de coagir até as camadas condecoradas dos supostos guardiões do bem. De outro, a representante da lei corrompida vivida por Maite Sandoval. As dinâmicas entre elas, das diretas às indiretas, são ordinárias, incapazes de conferir personalidade a algo que então logo cai numa vala comum. Por incrível que pareça, provavelmente a pessoa com mais tempo de tela é Falconetti (Nacho Fresneda). O capanga é designado para rastrear o sujeito que estabelece o elo comprometedor entre poderes públicos e forças subterrâneas/infratoras. Ele é o típico brutamonte truculento encarregado do trabalho sujo, da repressão aos desafetos da patroa. Entretanto, como os demais, é tolhido pela pouca disposição para desenvolvê-lo.
O Silêncio do Pântano vai desfraldando uma trama inócua, repleta de desperdícios, pontas soltas e conveniências. Q passa a ser perseguido por bandidos tão e somente porque um morador de rua viu sua moto parada no local de rapto. A morte de um ente querido é pouco sentida – e a frieza inicial sequer é entendida como sintoma de distanciamento prévio –, o encaminhamento do encerramento é feito de modo burocrático, com traições surgindo sem peso dramático e destinos tratados com displicência. É como se estivéssemos diante de um episódio estendido de uma série televisiva, com esses contornos humanos podendo ser mais bem definidos adiante. Já que estamos falando de um filme, cujo universo precisa ser estofado e resolvido em certa medida (ainda que a intenção fosse deixar o final em aberto), a sensação prevalente enquanto os créditos sobem é que Marc Vigil, tentando ser lacunar, se torna muito omisso. Pode parecer a mesma coisa, mas não é.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 3.7 |
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