Crítica
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Sinopse
Natasha é uma jovem extremamente pragmática, que não acredita em destino, apenas em fatos explicados pela ciência. Em menos de doze horas, sua família será deportada para a Jamaica, mas antes que isso aconteça ela conhece Daniel e se apaixona subitamente, colocando todas as suas convicções em cheque.
Crítica
Em O Sol Também é uma Estrela, drama romântico adolescente baseado no livro de Nicola Yoon, há um curioso discurso político por trás de uma história pra lá de convencional. No entanto, por mais que o debate acerca das motivações dos protagonistas mereça uma atenção mais detalhada, a diretora Ry Russo-Young em momento algum lhes oferece a abordagem devida, contentando-se apenas em focar os dissabores de uma relação com a duração do voo da borboleta. E mesmo que a efemeridade destes sentimentos jogue contra a verossimilhança dos acontecimentos, o conjunto se vê obrigado a carregar um peso que vai muito além dos alicerces que exibe, revelando uma estrutura frágil que em anda contribui para a melhor fruição do pouco que tem a oferecer.
Não por acaso, os personagens principais são filhos de imigrantes: Natasha (Yara Shahidi) veio com os pais da Jamaica quando tinha apenas 9 anos, enquanto que Daniel (Charles Melton) é filho da primeira geração de sul-coreanos que foram obrigados a abandonar a terra natal e se mudar para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. O drama dele, no entanto, não oferece absolutamente de novo ao que já foi muito explorado pelo gênero: os pais sonham vê-lo como médico, enquanto que o sonho do garoto – nem tão adolescente assim, pois o ator possui 28 anos, ainda que esteja interpretando uma figura no mínimo uma década mais jovem – é estudar Artes. A situação dela, no entanto, é mais urgente: por mais apaixonada que seja pela América, o pai foi pego pela Imigração, o que obriga a família inteira a se mudar de volta para onde vieram. E o prazo para deixarem o país termina amanhã.
Nesse seu último dia em Nova York, cidade que aprendeu a chamar de sua, Natasha fará de tudo em busca de mais uma chance. Primeiro, recorre ao Serviço Social, que não lhe dá esperanças. Mas fica sabendo de um advogado especialista em causas como a dela (participação de John Leguizamo), e recorrer a ele parece ser tudo o que lhe resta. No caminho até o escritório dele, é salva de ser atropelada por um motorista descuidado por quem? Exatamente, é aqui que Daniel se apresenta como seu herói particular. Sofrendo de paixão à primeira vista, ele lhe faz uma proposta: “me dê um dia, e no final você também estará apaixonada por mim”. O rapaz é bonito, está bem vestido – afinal, está indo para a entrevista que lhe permitirá entrar na Faculdade de Medicina – e como ela tem tempo de sobra até o horário agendado, concorda em lhe conceder uma hora. Que, obviamente, acabará se estendendo até a manhã seguinte.
Mais do que o namorico apressado da dupla, que age como se não houvesse mais ninguém no mundo, além dos responsáveis pelos problemas que cada um está enfrentando, o pano de fundo é que parece aguardar por uma análise mais detalhada – o que acaba não acontecendo, infelizmente. Como dito, nenhum dos dois é norte-americano. No entanto, os asiáticos vieram antes, se esforçaram, são empreendedores – a família dele possui um negócio próprio – e contribuem de maneira efetiva para a sociedade. Por isso, podem por lá ficar, e ninguém irá perturbá-los. Os negros, no entanto, não só vieram depois, como nunca chegaram a encontrar um lugar onde pudessem se encaixar: mesmo estando há uma década, o patriarca seguia envolvido em trabalhos irregulares, sem direito algum, por maior que fossem seus esforços. E quando um personagem diz: “no atual momento em que estamos vivendo, acredito que nada possa ser feito”, a mensagem é mais do que clara.
Charles e Yara, aqui em seus primeiros papéis de destaque no cinema – ambos vieram de séries de televisão – não comprometem com as composições que oferecem, por mais exagerada que ela seja em seu desespero, ou ele apático em sua resignação. Ao trilhar caminhos seguros, Russo-Young (do igualmente meloso Antes que eu Vá, 2017) e a roteirista Tracy Oliver (Viagem das Garotas, 2017) derrapam mesmo é na falta de coragem de irem até o fim com suas escolhas. O mundo – ou, principalmente, os Estados Unidos – de 2019 não quer que mundos tão distantes quanto os de Natasha e Daniel se cruzem. Mas se deixá-los separados parece ser um preço alto demais a ser pago para um produto tão convencional quanto O Sol Também é uma Estrela, qual a razão, portanto, de sequer cogitar essa possibilidade?
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