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Crítica


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Sinopse

Três irmãos, filhos de pais separados, estão prestes a passar duas semanas com o pai na Itália antes de se mudarem com a mãe francesa para o Canadá.

Crítica

Dramas familiares costumam servir como válvulas de escape aos mais diversos tipos de debates e discussões. Em O Sonho de uma Família, filme escrito e dirigido pela italiana Ginevra Elkann, a situação não é diferente. Neste que é o seu trabalho de estreia como realizadora, após uma extensa carreira como produtora de curtas-metragens, documentários e longas de terceiros, ela parte de uma palavra muito simples do seu idioma – ‘magari’, que significa ‘talvez’ – para construir um mundo de possibilidades a partir dos olhos de uma criança, a caçula de uma família que, após ter se esfacelado, busca os meios para se reconstruir. Seria o momento para uma discussão mais ampla, mas a cineasta prefere deixar passar cada um destes caminhos para se centrar apenas nas relações aqui expostas. E, na maior parte das vezes, nem elas mesmas conseguem habitar espaços equilibrados. Ou seja, está cheio de boas intenções, mas destas, como bem se sabe, o inferno está cheio.

Charlotte (a francesa Céline Sallette, de Vida Selvagem, 2014) e Carlo (o italiano Riccardo Scamarcio) não estão mais juntos. Ela voltou para Paris, levando consigo os três filhos, enquanto que ele permaneceu em Roma. A mulher é instável, e isso logo se estabelece. Ao lado de um novo companheiro, se apaga em suas motivações e rapidamente estará agindo de acordo com os interesses dele. Isso a leva a rever duas posições que pareciam consolidadas: não ter mais filhos e permanecer na Europa. Assim, sem aviso prévio, acaba engravidando pela quarta vez. E atendendo a um pedido do novo marido, decide que está na hora de se mudarem para o Canadá, onde ele precisa ir por questões profissionais. Portanto, quando os filhos partem para um período com o pai, este pode ser também o último instante juntos antes de uma longa separação.

Mas não é assim que o homem recebe as crianças – até por desconhecer o destino que aguarda por elas após essas férias. Carlo é roteirista, e sua cabeça está centrada apenas no seu próximo texto, que foi reprovado e precisa de correções urgentes para que o filme que dele depende, aconteça. Assim, convoca Benedetta (Alba Rohrwacher, a melhor em cena), a mulher que apresenta como sua assistente, mas logo deixa claro que seus interesses são mais... íntimos, por assim dizer. A mulher não é mãe, e nem se espera que aja como tal. Mas também não precisaria provocar um contraste tão forte, aceitando um beijo roubado do garoto mais velho, já adolescente, furtando um par de óculos escuros em uma feira livre apenas para agradar a criança do meio, ou reagindo de igual para igual quando a pequena lhe pede ajuda. São adultos, independente de onde estejam, que nunca foram preparados para a paternidade. E serão justamente aqueles em formação que mais duramente sentirão essa carência.

Mas o tom da narrativa de Elkann é leve, quase de uma comédia de costumes. Bom não esperar por grandes dramas. Até questões mais sensíveis, como a delicada gravidez da mãe, é deixada de lado na primeira oportunidade. Ou a falta de tato do pai, que estoura com os filhos diante de qualquer sinal de contrariedade – remetendo ao mais comum dos estereótipos italianos – apenas para em seguida se torcer de chamegos e dengues com eles, numa inconstância emocional que não deixa de provocar repercussões. São vieses que ganhariam relevância se melhor aprofundados. Mas a questão que parece de fato importar por aqui é o desenho de um painel amplo, porém superficial. Há muito a ser dito, mas falta forma ao discurso, que, assim, vê sua força ser esvaziada.

O olhar inocente da pequena, que acredita em promessas religiosas como meio de unir novamente os pais, esbarra em soluções igualmente frágeis, denotando uma falta de visão mais acurada dos problemas percebidos entre as gerações. E ao invés de investir em um conceito mais amplo de estrutura familiar, O Sonho de uma Família se resigna em apenas perseguir o básico, através de conceitos ultrapassados e conservadores, por mais que tente posar de moderno e ousado. Uma brincadeira que não se sustenta além da segunda página, mostrando que o conceito até pode ser interessante, mas sem encontrar terreno fértil onde possa se desenvolver, este também acabará relegado a um rápido esquecimento.

Filme visto online no 7o BIFF: Brasília International Film Festival

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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