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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

​Hodaka, dezesseis anos, chega sem um tostão a uma chuvosa Tóquio. Consegue abrigo e uma ocupação com Suga, que comanda uma revista mambembe, dedicada ao ocultismo. Sua primeira tarefa é encontrar uma personagem conhecida como “aquela que clareia o tempo”, alguém com o poder de afastar as nuvens e deixar passar os raios de sol. Sua investigação o leva a Hina, garota bondosa que trabalha em uma loja de hambúrgueres e lhe ofereceu comida quando ele estava passando fome nas ruas.

Crítica

Berço de produções ousadas e cativantes, a animação japonesa nos últimos anos tem passado por uma certa transformação, capitaneada pelo diretor Makoto Shinkai. Você talvez não o conheça porque seus filmes mais recentes não chegaram aos cinemas brasileiros, mas, em seu país-natal, eles são um tremendo sucesso de bilheteria. Não por acaso, tanto Your Name (2016) quanto este O Tempo Com Você seguem a mesma fórmula narrativa: a adoção de um romance adolescente exacerbado em um contexto fantástico. Se antes era através de viagens no tempo, agora é na relação com a natureza.

O curioso é que o início de O Tempo Com Você não aponta para nenhuma das duas características que tanto o norteiam. Ao acompanhar o jovem Hodaka, que acaba de chegar a Tóquio, existe uma breve peregrinação em busca da sobrevivência em um ambiente desconhecido e hostil, ainda mais para quem vem de uma cidade bem menor. A fome e a violência latente são urgências que o rondam e, ao mesmo tempo, ancoram o filme em uma realidade próxima. Mesmo quando encontra abrigo em uma revista sobre ocultismo, o interesse está mais na picaretagem que é a publicação e, de relance, na atração física sentida pela secretária. É apenas quando Hina entra em cena que a trama, aos poucos, dá tal guinada.

Bebendo da fonte de vários filmes produzidos pelo Studio Ghibli, O Tempo Com Você investe nos mistérios decorrentes da relação com o homem e a natureza, a partir da existência de uma garota que consegue fazer chover, sempre que quiser. De olho no possível retorno financeiro de tais poderes, Hodaka logo cria um negócio para faturar, alto, sem imaginar que o excesso traria, também, consequências. É aí que tudo desanda.

Enquanto investe no fantástico de forma lúdica, O Tempo Com Você mantém uma leveza típica das aventuras juvenis, com suas descobertas intrínsecas. Chama a atenção o tom sempre pudico que o filme assume, seja no absoluto nervosismo ao visitar a casa de uma garota pela primeira vez ou até em uma certa auto-reprimenda em relação à atração sexual. Esta é outra característica da nova animação japonesa pregada por Shinkai: os relacionamentos precisam ser intensos e ultraromânticos, mas nunca concretizados. O apaixonar-se e fazer de tudo pelo amado(a) é muito mais importante que ter a paixão realizada.

É quando tal jornada apaixonada tem início que O Tempo Com Você mergulha fundo em uma espiral de exageros sem fim, repleta de clichês embalados a uma trilha sonora cheia de canções pop que irrompem de forma repentina e brusca. Tudo para conquistar seu público alvo, adolescentes que acreditam piamente que pelo amor tudo é possível. Simples assim.

Bastante piegas, O Tempo Com Você é um filme novelesco que se traveste de fantástico para vender o romantismo a todo custo. Por mais que até possua uma animação de qualidade, especialmente no toque computadorizado ao retratar o impacto das gotas de chuva no solo, tal condução narrativa leva o filme a um cansaço extremo, devido aos muitos exageros e estereótipos que surgem em seu terço final. Infelizmente, tais características têm se tornado marca registrada do diretor.

Filme visto no Festival do Rio, em dezembro de 2019.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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