Crítica
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Sinopse
Qohen Leth, um habilidoso hacker de computadores, vive em uma constante crise existencial. Ele é instruído pelo diretor da empresa onde trabalha, o temido "Gerente”, para resolver o enigma do Teorema Zero, uma fórmula matemática que determinará a razão da existência dos homens e se a vida possui algum sentido. Obcecado por essa missão, ele encontra obstáculos que interrompem seu trabalho.
Crítica
Qohen é um homem com muitos problemas – e a insistência do seu chefe direto em lhe chamar de ‘Quinn’ talvez seja o menor deles. Fóbico, teme a tudo e todos. Sair de casa – uma igreja abandonada que arrematou em um leilão de ocasião – é um transtorno, falar com as outras pessoas é um sacrifício, qualquer tipo de contato físico é quase uma afronta. Seu maior desejo é poder trabalhar em casa, sem falar com ninguém além do universo virtual. Como todo bom nerd tecnológico, é somente no mundo digital onde se sente seguro. Lá construiu uma carreira profissional como um dos melhores hackers em atividade, e é por causa dessa reputação que segue insistindo para que seus contratantes respeitem seu único pedido – o que, eventualmente, acaba acontecendo. Mas, para tanto, ele recebe uma última missão: desvendar O Teorema Zero.
Uma história tão alucinadamente surreal como esta só poderia surgir da mente de um cineasta como Terry Gilliam, que deixa de lado as narrativas mais convencionais de seus últimos trabalhos para investir em um saudável radicalismo. O resultado é tão positivo – e igualmente singular – que até o motivou a retomar o projeto de The Man Who Killed Don Quixote – para quem não sabe, seu desejo de adaptar o clássico de Cervantes dura há mais de uma década, e lhe rendeu tantas complicações que gerou até em um documentário a respeito narrando estas desventuras: Lost in La Mancha (2002), que conta com a participação do até então protagonista Johnny Depp e narração de Jeff Bridges. Gilliam é um cineasta único, oriundo dos aclamados Monty Python e reconhecido por obras de grande impacto visual e estético, além de dominar argumentos engenhosos e distantes do convencional. Exatamente como acontece em O Teorema Zero.
Ao contrário da maioria dos seus filmes, em que também atua como roteirista, Gilliam se baseia dessa vez no texto original de Pat Rushin, um professor de criação literária que se arrisca pela primeira vez no cinema. E o resultado é algo superlativo, que foge de uma definição mais convencional. A trama de O Teorema Zero se passa em um futuro indeterminado, onde tudo pode ser feito virtualmente, mas as pizzas seguem sendo entregues por entregadoras libidinosas. Essa visão é um datada, estereotipada e artificial, e provoca o único desconforto incontornável. Sempre que os personagens se expõem no exterior, o peso do longa parece ficar suspenso pela boa vontade dos espectadores. No entanto, assim que se centra naquilo que lhe é de direito, investigando a fundo a questão que traz à tona, o impacto é arrebatador. Afinal, se o zero precisa ser infinito, como se realizar plenamente tendo nada ao seu dispor?
O duplamente oscarizado Christoph Waltz se sai muito bem à frente do elenco, criando um tipo difícil de simpatizar, mas tão desprovido de elementos característicos que é justamente nessa ausência de fatores em que reside sua força. A francesa Mélanie Thierry se sai bem como seu contraponto romântico, ainda que suas intervenções sirvam para capturar uma intenção já dispersa. Com uma função muito específica, ela é mais um artifício do qual o enredo faz uso somente quando necessário do que uma presença de real importância. Mais impressionantes, porém igualmente pontuais, são as participações de Matt Damon (como o opressivo Gerente) e de Tilda Swinton (como a psicóloga online), que servem tanto para colocar o desenvolvimento da ação nos eixos como um ocasional e preciso alívio cômico, nunca exagerado, porém de satisfatória atuação.
O Teorema Zero é um filme para poucos. As discussões filosóficas que propõe são direcionadas somente a círculos limitados, e ainda assim muitas das hipóteses levantadas permanecerão sem respostas após o término da projeção – aliás, exatamente como deve ser, pois somente o indefinido pode ser abrangente e aberto à novos e constantes acréscimos. Da origem da vida aos clássicos ‘quem somos e para onde vamos’, Gilliam parte de uma interessante análise de uma situação muito concreta – o enclausuramento do homem moderno – para divagar sobre a Terra e o espaço, o ontem, hoje e amanhã, e os prós e os contras que somente um pôr do sol interminável poderá saciar. E da mesma forma como o alcance dessa obra é restrito, inimaginável é a repercussão que poderá provocar naqueles que se deixarem levar por essa saudável viagem.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 5 |
Alex Gonçalves | 4 |
MÉDIA | 5.7 |
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