O Tesouro do Pequeno Nicolau
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Julien Rappeneau
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Le trésor du petit Nicolas
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2021
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França / Bélgica
Crítica
Leitores
Sinopse
Aos nove anos, Nicolau passa seus dias vivendo aventuras com os amigos. Mas, isso muda drasticamente com a promoção do pai e a necessária mudança para o sul da França. Para suportar, ele inventa uma caça ao tesouro.
Crítica
Comercialmente falando, o chamado “filme para toda a família” é uma das meninas os olhos da indústria. Isso porque a sua abrangência expande o público-alvo. Do ponto de vista prático, ele instiga a presença das crianças, que não podem ir desacompanhadas às salas (o que significa evidentemente mais ingressos vendidos). O sucesso comercial da trupe Os Trapalhões no Brasil pode ser creditado, em parte, a essa capacidade de agradar os pequenos, os maiores e os ainda mais velhos com uma linguagem acessível e a oferta de atrativos para todas as fatias da plateia. Não é uma tarefa fácil essa a de ser adequado/interessante para netos, pais e avôs. Mas é algo que O Tesouro do Pequeno Nicolau consegue, ainda que, curiosamente, talvez seja mais indicado aos marmanjos nostálgicos do que necessariamente às novas gerações conectadas em outros fenômenos. Utilizando os personagens escritos por René Goscinny e ilustrados por Jean-Jacques Sempé entre os anos 1956 e 1964 (Nicolau é uma verdadeira instituição belgo-francesa), o cineasta Julien Rappeneau apresenta um conto leve e despretensioso sobre a dificuldade de assimilar mudanças e compreender os efeitos da passagem do tempo. E o apelo principal do filme é o olhar saudoso a um passado em que as coisas pareciam simples sem a onipresença da tecnologia. Trata-se do grande incentivo à fatia mais velha dos espectadores da comédia infantil.
Nicolas (Ilan Debrabant) tem um mundo particular no qual brincar com os amigos. O terreno baldio nas proximidades da casa deles é um universo de possibilidades lúdicas, diante do qual o espectador tende a perceber vários elementos para se identificar. Por exemplo, quem nunca estremeceu diante da necessidade de buscar a bola (ou qualquer outro objeto de brincadeira) que acidentalmente caiu no terreno de um vizinho ranzinza com cara de poucos amigos? Julien Rappeneau resgata essa infância pueril. A de Nicolau é ambientada nos anos 1950, nos quais os desafios viram verdadeiras missões consideradas provas de coragem pelos meninos. No entanto, o principal assunto do longa-metragem é a tristeza diante da mudança. O pai de Nicolau (interpretado de modo deliciosamente caricatural por Jean-Paul Rouve) recebe uma promoção e com isso precisará transferir sua família para o Sul da França. Aliás, é muito curioso que em nenhum momento saibamos exatamente com o que esse homem simpático trabalha. Assim, compartilhamos da ignorância de seu filho, o que pode ser outro gatilho para ativar as memórias infantis no espectador. Diante da nova realidade, Nicolau arma um plano mirabolante para permanecer na vizinhança com seus amigos mais queridos. E o que melhor para isso do que uma caça ao tesouro? O teor lúdico é acentuado pela tarefa que prevê piratas e espólios escondidos.
Há uma divisão quase igualitária de tempo entre as aventuras pueris de Nicolau em busca de uma fortuna que pode evitar a mudança e as dinâmicas familiares protagonizadas por seu pai e sua mãe (interpretada pela ótima Audrey Lamy). Além disso, há dois coadjuvantes que ganham momentos preciosos para expressar as ligeiras ideias do filme sobre autoridade. Enquanto o menino traça as metas para alcançar o seu grandioso objetivo, o Pai e a Mãe têm suas próprias questões a resolver. O roteiro assinado por Julien Rappeneau e Mathias Gavarry é hábil ao desenhar uma rotina antes de sinalizar que ela precisa ser desmantelada em função da alteração de ares. Vemos a relação do casal com a residência na qual foram tão felizes, as diversas interações indesejadas com o vizinho fofoqueiro e o apego do homem pela rotina no escritório (fazendo o quê, mesmo?). Quando nos damos por conta, percebemos que custará muito a eles deixar tudo isso para trás, assim como é oneroso ao pequeno Nicolau largar o amigo esfomeado, o ingênuo, o inteligente, o aventureiro, enfim, o grupo que com ele se chama Os Invencíveis. Há uma mensagem clara subentendida desde que o conflito do filme se estabelece: existem mudanças inevitáveis, com as quais temos de lidar, mas também há momentos em que é preciso ficar. E o enredo trata essa finalidade com uma singeleza que tende a afetar crianças e adultos.
O principal senão de O Tesouro do Pequeno Nicolau é a função apenas utilitária da antes citada discussão paralela sobre autoridade, algo que caracteriza o inspetor Lebon (Grégory Gadebois) e a professora (Adeline D'Hermy). O roteiro poderia dar um pouquinho mais de consistência (até pelo tempo investido) às demandas de ambos. O homem está caçando o malfeitor infantil que vem roubando os seus apitos (símbolo da sua autoridade). Já a mulher mantém um semblante sempre tenso por conta da dificuldade de se fazer ouvir pelos bagunceiros que não respeitam a sua gentileza assim como temem a dureza da colega de escola, a professora Bouillaguet (Noémie Lvovsky). Essa dupla é utilitária, pois apresenta essa lógica escolar em que a autoridade muitas vezes é vendida como moeda corrente e fundamental. Mas, no fim das contas, trata-se de um subtexto que empalidece à medida que as necessidades de Nicolau e seus pais se impõem como mais importantes de serem desenvolvidas. De toda forma, é uma sinalização que está ali para quem quiser acessá-la – num núcleo que ainda tem a participação luxuosa do grande Jean-Pierre Darroussin vivendo o diretor dado a trocadilhos. Entre as aventuras supostamente grandiosas dos mais novos (que escondem motivações absolutamente mundanas) e os apelos à nostalgia dos mais velhos, o filme se apresenta como um daqueles exemplares propícios à família toda.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
Robledo Milani | 7 |
MÉDIA | 7 |
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