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Sinopse

Três amigos fazem lutas simuladas na rua pra ganhar dinheiro, até que são confundidos com heróis corajosos por uma moça. Ela decide contratá-los para ajudá-la a recuperar o seu pai, um arqueólogo perdido nas minas do Rei Salomão.

Crítica

Durante os anos 1970, quando Renato Aragão dava seus primeiros passos no cinema e começava a formar o grupo de cômicos que se consagraria no Brasil na década seguinte, seus filmes tinham mais ou menos uma fórmula pronta, cuja única variável era o motivo da piada a ser explorado. Enfim, partia-se de clássicos universalmente conhecidos – Ali Baba e os Quarenta Ladrões (1972), Aladim e a Lâmpada Maravilhosa (1973), Robin Hood: O Trapalhão da Floresta (1974) e Simbad: O Marujo Trapalhão (1976) são apenas alguns dos exemplos mais notórios – que, em última instância, apenas serviam de cenário para as confusões do protagonista. Pois é exatamente isso que se encontra em O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão, porém com um evidente sinal de desgaste que apontava para uma urgente mudança.

Essa bem-vinda reformulação se daria a partir do ano seguinte, com Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978) – longa, aliás, que pela primeira vez marcaria o uso do plural no título (‘Os Trapalhões’, ao invés de apenas ‘O Trapalhão’, como era praxe até então). Isso se dá pela inclusão de Zacarias no grupo, que acrescentaria um elemento mais pueril e ingênuo à trupe, de forte apelo junto às crianças. Sem a presença do saudoso carequinha de peruca, resta apenas ao valentão Dedé Santana e o malandro Mussum fazerem as vezes de suporte cômico à Aragão. Uma sintonia ainda não muito azeitada, mas que aos poucos parecia se encaixar.

Em O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão, aliás, eles ainda não usavam suas alcunhas mais famosas. Renato aparece como Pilo, enquanto que Dedé é Duka, e Mussum, o Fumaça. Os três são desocupados que levam a vida aplicando pequenos golpes pelas cidades por onde passam, num esquema bastante simples: os dois primeiros fingem uma briga, enquanto que o terceiro organiza um esquema de apostas sobre quem tem mais chances de vencer a luta fajuta. Mas quando uma bela moça (Monique Lafond) presencia a cena, é levada a acreditar que se tratam de bravos guerreiros. Com isso em mente, pede ajuda a eles para encontrar seu pai, que está desaparecido há dias, desde que partiu em uma jornada rumo às minas perdidas do Rei Salomão. Os espertos, encantados pela garota, decidem levar a farsa adiante, atendendo sua solicitação. Só que não imaginavam a enrascada em que acabariam se metendo.

Sexta parceria em sequência com o diretor J. B. Tanko, O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão perde sua força por conta de sua estrutura por demais episódica e por desperdiçar tempo com coadjuvantes como Francisco Di Franco (o galã de camisa sempre aberta que os acompanha) e Vera Setta (a bruxa que tenta afugentá-los sem uma razão convincente), oferecendo pouco foco ao trio formado por Renato Aragão, Dedé Santana e Mussum. O primeiro repete-se numa composição meio chapliniana, dividindo-se entre trapalhadas e o sonho de terminar com a mocinha, ao passo que o segundo pouco tem a fazer. Resta ao último algumas das melhores piadas – como quando se apresenta a uma tribo como um rei estrangeiro – mesmo que essas sejam muito passageiras.

Entre (poucos) altos e (muitos) baixos, O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão é um título da filmografia dos Trapalhões que não soube envelhecer com dignidade. Se por um lado tem-se uma aventura rápida – apenas 80 minutos – a mesma tem resolução apressada, em que as tais minas do título são quase descartáveis (e só aparecem num epílogo improvisado, quando ninguém mais espera por elas). Em resumo, tem-se uma produção feita para atender uma demanda de mercado que ainda estava sendo construída, mas que ainda carecia de algo a mais que faria da turma liderada por Didi Mocó o maior grupo de humor do Brasil.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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