Crítica
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Sinopse
Perto da morte, o conquistador Giacomo Casanova confessa ter vivido um único amor marcante em sua vida: a relação breve e frustrada com Marianne de Charpillon, prostituta que jamais se entregou aos flertes do italiano. Ele relembra o encontro com a jovem, que se tornou sua noiva durante alguns dias, e o complexo jogo de poderes e manipulação entre dois grandes libertinos do século XVIII.
Crítica
Quem diria que Giacomo Casanova, lendário conquistador do século XVIII, teria se apaixonado de fato apenas uma vez na vida, conforme ele mesmo descreve em sua autobiografia. Ironicamente, a experiência marcante envolveu a única mulher que ele não pôde ter, ainda que todos os outros homens a tenham possuído: Marianne de Charpillon, jovem prostituta que resiste ao flerte de Casanova. Ao se concentrar nesta história pouco conhecida, o cineasta Benoît Jacquot mergulha num mundo de desejos frustrados, de amor versus paixão (ou versus gozo), de sentimento de conquista e possessão, além de uma interessante inversão de gêneros nas relações entre homem e mulher, num contexto particular da Europa de séculos atrás.
Apesar de tamanho potencial, nenhuma destas questões interessa de fato ao filme. As impressionantes histórias verídicas de Casanova correndo atrás de 60 meretrizes numa única escapada em Londres, escapando da prisão através de uma fuga pelo telhado, enquanto misturava carreira militar e religiosa em sua trajetória, são ignoradas por Jacquot e pelo roteiro. Na versão interpretada por Vincent Lindon, Casanova se revela um homem triste, muito mais procurado pelas mulheres do que as procura, e vítima de uma garota provocadora, ou talvez sádica. Inverte-se a história, e também sua interpretação: nesta leitura de suposto empoderamento feminino, Charpillon se aproxima do nocivo clichê da mulher enganadora, utilizando seu poder de sedução (seu canto da sereia) para aprisionar pobres homens incapazes de controlar seus desejos.
Vincent Lindon se revela uma escolha curiosíssima para o papel. Para viver o debochado conquistador italiano, que convivia com a nobreza e se entregava constantemente aos prazeres do corpo, o diretor escolhe um francês que não pronuncia uma palavra sequer de italiano (e não possui sotaque estrangeiro), de aparência sempre cansada, cabelos desarrumados, olhos marejados (ou olhos de ressaca, quem sabe), e uma postura embrutecida que Lindon tem emprestado tão bem a personagens contemporâneos de classes populares. Não há dúvidas que o ator seja um dos mais talentosos de sua geração (vide Mademoiselle Chambon, 2009, e O Valor de um Homem, 2015), porém ele parece a escolha mais improvável para o protagonista. Stacy Martin, confortável com a sensualidade e a nudez, empresta uma infantilidade a Charpillon que serve mal este jogo de gato e rato entre libertinos – afinal, ela sempre possui uma margem considerável de vantagem em relação a ele. Apenas Valeria Golino soa precisa em sua composição da aristocrata italiana falida.
Em paralelo, Jacquot é movido por uma única ideia de mise en scène: encontros e conversas. Em cada momento, Casanova encontra uma nova pessoa e expõe suas dores e tristezas, apenas para entrar num novo cômodo e reproduzir diálogos semelhantes. A sequência de discussões a dois se torna limitadíssima na capacidade de imprimir ritmo e variação. Rumo ao final, quando um encontro entre Casanova e Charpillon enfim oferece alguma ousadia estética (o lento zoom rumo aos personagens, ao som de trilha sonora operística), o belo momento apenas reforça a inércia dos noventa minutos precedentes. Diante de rica constituição de época, em trajes, acessórios e cenários, Jacquot não explora os espaços de maneira suntuosa, nem para ridicularizar, para ressaltar a sensação de vazio, a hipocrisia dos ricos, a decadência daquele modo de vida etc. Os lugares se atêm à função de cenários, assim como os coadjuvantes se limitam a ouvintes de Casanova, existindo em função dele. O protagonista, por sua vez, restringe-se a um corpo em deslocamento entre salas e palácios, entre almoços e jantares.
Para um filme sobre o desejo, é impressionante como falta desejo aos personagens e à burocrática direção. Talvez esta fosse a nobre intenção do projeto: retirar do conquistador as suas conquistas, frustrar a expectativa de paixões e sexo, privilegiando a figura melancólica do homem perseguido – real e simbolicamente – pelas mulheres da sua vida. Ora, embora esta leitura forneça um ponto de vista original sobre o personagem histórico, ela o despe de suas principais características, de seus conflitos eróticos, financeiros, suas lendárias brigas, sua fama de glutão, e principalmente a ambiguidade que se supõe existir na briga/paixão entre Casanova e Charpillon.
A partida nunca seria realmente equilibrada ao adotar apenas o ponto de vista masculino, é claro. No entanto, havia uma oportunidade preciosa de abordar a psicologia e a sociologia dos costumes através destes personagens – ou seja, abrir esta história a um sentido que ultrapassa a existência de seus dois biografados. Jacquot, no entanto, prefere fechar a história em si mesma, enxergá-la pelo prisma de um caso particular, uma exceção para a época e para a vida de Casanova. Esta é a crônica de uma singularidade histórica que busca se legitimar pelo exotismo e pela curiosidade, ao invés do interesse humano por trás dos fatos.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Bruno Carmelo | 4 |
Bianca Zasso | 3 |
Lucas Salgado | 2 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 3 |
Péssimo, dinheiro jogado fora, o que poderia ser uma sinfonia bem tocada mas o maestro usou um porrete.