Crítica

Relacionamentos entre marido e mulher e pais e filhos sempre podem render bons filmes se os temas forem abordados de forma sensível e tocante, mas sem cair no sentimentalismo barato. No caso de O Último Amor de Mr. Morgan (2013), a diretora e roteirista Sandra Nettelbeck acerta do início até praticamente o fim, quando o longa resvala no lugar-comum. Ainda bem que ela conta com dois protagonistas de peso: a bela Clémence Poésy e o excepcional Michael Caine.

O Mr. Morgan do título, Matthew (Michael Caine), é um professor americano que mora na França mesmo após o falecimento da esposa. Recluso e ranzinza, ele começa a ter mais gosto pela vida quando conhece a jovem Pauline (Clémence Poésy), que lhe ajuda a entrar no ônibus. Apesar do que o título sugere, a relação entre os dois é paternal, ainda mais que a francesa também perdeu o pai. É o encontro entre estas duas figuras solitárias que preenche o filme com alma.

A jornada desta dupla é interessante sob vários níveis, porém o mais curioso é notar que nem eles nem o público sabem porque andam tanto um com o outro. Talvez a solidão e a carência sejam os motivos exatos e a diretora é hábil o bastante para estabelecer o vínculo dos protagonistas com o espectador de forma afetiva, mesmo que a história em si pareça não desenrolar sob o aspecto de reviravoltas e afins. Isto é, até a entrada da família de Morgan na trama após um desfecho quase trágico.

O filme perde muito de sua força quando o foco deixa de ser sobre a solidão dos protagonistas e um novo amor é inserido na trama, seguindo a cartilha da renovação e da esperança na trama. Se por um lado é o que o público espera, por outro acaba desviando a atenção e a própria temática apresentada inicialmente. É a solução rápida e até eficiente para a condução da narrativa, mas que, por outro lado, faz pensar que a diretora e roteirista não sabia como concluir a história de forma mais profunda.

Apesar deste deslize, O Último Amor de Mr. Morgan é um longa competente o bastante para prender a atenção do público. Capitaneado pela ótima atuação da dupla principal, o filme entrega lágrimas e diversão na mesma intensidade, ainda que tenha ficado um gostinho de quero mais. Poderia ser uma grande produção sobre os encontros que temos na vida, mas, ao fim, preferiu ficar na zona de conforto. Ao menos, conforto realmente oferece.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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