Crítica
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Sinopse
Um neto está disposto a ter uma jornada complicada, mas às vezes engraçada, para satisfazer o último desejo de sua avó doente. Ele se propõe a mover uma casa do Paquistão para a Índia.
Crítica
Há uma beleza romântica na história do neto que vai às últimas consequências para realizar o desejo derradeiro da avó moribunda. Amreek (Arjun Kapoor) faz parte da geração de indianos que decide viver nos Estados Unidos, mantendo seus pés na atualidade que o afasta das raízes. Pena que O Último Desejo de Sardar se distancie bastante da profundidade de A Despedida (2019), longa que também mostra uma neta simbolicamente cindida entre territórios geográficos/emocionais ao retornar à terra natal de sua família a fim de preparar-se para a morte da avó com câncer. Mas, em que pese as semelhanças das premissas, existe um abismo enorme entre esta produção indiana e a sino-americana. Aqui, todo o pano de fundo, que poderia invocar uma reflexão sobre deslocamento, pertencimento, passado e presente, acaba soterrado pela jornada repleta de facilidades e apenas empenhada no que diz respeito à tentativa de levar o espectador às lágrimas. Prolixo e superficial, o filme de Kaashvie Nair esvazia os personagens em prol de uma "bela lição de vida".
Amreek é um sujeito desastrado que bota a perder o noivado com Radha (Rakul Preet Singh), bem como a sociedade de ambos na empresa de mudanças. A apresentação deixa claro que a direção está disposta a sacrificar nuances. As trapalhadas do jovem indiano radicado na América aparecem de forma exagerada na cena dele colocando em risco os objetos de valor afetivo do cliente a cada movimento simples, isso emoldurado por uma luz estourada que praticamente inviabiliza enxergar o que está além das janelas – estratégia para não construir um cenário exterior? Os personagens declamam seus textos, explicando de modo detalhado exatamente o que sentem, o porquê de estarem tristes e suas ressalvas diante do comportamento alheio. Kaashvie Nair não investe na ligação de Amreek com a avó, tampouco dá importância às sensíveis restrições familiares, preferindo sublinhar repetidamente um caráter que precisa ser modificado pela experiência vindoura. Desde o princípio está telegrafado que ele será feliz ao passar pela jornada de amadurecimento.
Especialmente quando o expatriado retorna à Índia, O Último Desejo de Sardar demonstra distrações dentro do que poderia servir para contextualizar ações e reações vitais. Por exemplo, os tios e o primo preocupados com a administração da empresa tão logo a matriarca morra. Eles são irrelevantes, não apresentando risco ao protagonista, esporadicamente vistos em conspirações caricaturais que não ganham espessura suficiente para ter validade. E, ademais, o parente deveria ser efetivado como presidente da companhia, afinal de contas é dito em vários momentos que ele faz um trabalho muito bom. Portanto, essa disputa interna acaba como um dos tantos ruídos existentes aparentemente para engrossar o caldo, mas sem a preocupação de deixa-lo mais saboroso. É tudo excessivamente frouxo nessa volta de Amreek e no elo com a avó vivida por Neena Gupta. Corroborando a sensação de que é imprescindível ao realizador situar tudo e evitar quaisquer enganos, bem como reduzir conflitos, os flashbacks melodramáticos que poderiam ser suprimidos sem prejuízos maiores.
O Último Desejo de Sardar ganha (poucos) pontos ao deslocar-se ao Paquistão, mas continua desperdiçando conjunturas que poderiam adensar os contornos da história cheia de amores incondicionais. A relação conturbada entre Paquistão e Índia é mencionada desde a chamada Partição de 1947 – criação de dois estados soberanos após a independência da Índia concedida pelo Reino Unido –, mas nunca vira mais que uma rubrica sem aprofundamento ou seriedade. Kaashvie Nair ressalta o afeto marcante interrompido pela turbulência política, mas evita abrir o escopo para o entendimento dessa tragédia geopolítica. No itinerário, incontáveis problemas são resolvidos como num passe de mágica, a ex aparece em outro país, do nada, para dar suporte ao protagonista, barreiras históricas são removidas pela “força do amor” e os vilões são devidamente obliterados pela nobreza da resistência à intolerância. A mensagem é bonita, mas construída de modo simplório e enfiada goela abaixo do espectador, praticamente o intimando canhestramente a gostar ou não das pessoas em cena. E, claro, há um casamento aleatório, desculpa para uma sequência musical que soa como algo “para inglês ver”.
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