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Sinopse

Um fazendeiro acredita que sua filha está possuída pelo demônio. Ele chama o reverendo Cotton Marcu, famoso por ter feito dezenas de exorcismos, para salvar a jovem. Marcus decide filmar tudo para fazer um documentário.

Crítica

Se existe um filme que bebe na fonte de A Bruxa de Blair (1999) e seu estilo de falso documentário, este é O Último Exorcismo, dirigido pelo cineasta alemão Daniel Stamm. O diretor assinou, em 2008, A Necessary Death (inédito no Brasil), outro trabalho que usava o estilo documental para contar sua história fictícia. O filme deve ter chamado a atenção de Eli Roth, diretor de O Albergue, que serviu como produtor para este longa-metragem de terror de baixíssimo orçamento que utiliza o chavão do exorcismo para construir uma história bastante diferente do usual.

Na trama, assinada por Huck Botko e Andrew Gurland, o reverendo Cotton Marcus (Patrick Fabian) está em crise com sua fé. Após realizar dezenas de exorcismos fajutos e brincar com as mensagens que passa em seus sermões, Marcus tem duvidado se ainda acredita em Deus. Para desmascarar as tramóias que estão por trás dos exorcismos de mentira, ele aceita participar de um documentário, que contaria a sua última performance na expulsão de um demônio – com direito a revelação dos truques necessários para iludir os fiéis. Para isso, Marcus escolhe a esmo uma carta lhe pedindo ajuda. Ao chegar na fazenda dos Sweetzer, o reverendo é recepcionado hostilmente por Caleb (Caleb Landry Jones), que avisa aos visitantes que sua presença não é bem vinda. O rapaz é filho de Louis (Louis Herthum), o patriarca que escrevera a carta pedindo auxílio em nome de sua filha, Nell (Ashley Bell), que vem se comportando de forma estranha nos últimos tempos. Marcus resolve fazer seus truques de falso exorcista e acredita ter livrado a moça de um mal subjetivo. Mas ele não sabia onde realmente estava se metendo.

Daniel Stamm escolhe criar a atmosfera de seu longa-metragem aos poucos, demorando a incluir as cenas fortes, presentes para assustar sua plateia. A bem da verdade, O Último Exorcismo deve deixar os fãs do gênero de cabelo em pé apenas nos seus vinte minutos finais. Antes disso, o suspense é muito maior que o terror. Esse, no entanto, é o lado bom do longa-metragem. Stamm dá tempo para que conheçamos o seu protagonista, saibamos de suas crenças, descrenças e características. Interpretado de forma intencionalmente exagerada pelo ator Patrick Fabian, o reverendo Cotton Marcus é um entertainer. Uma figura que adora dar espetáculos, utiliza sua lábia para ser o centro das atenções e, mesmo não acreditando em demônios, pratica exorcismos para ganhar dinheiro. Sua tentativa de desmascarar os falsos exorcistas acaba esbarrando, no entanto, em um caso nunca antes visto por ele.

O roteiro esconde até onde pode se o que estamos vendo é realmente uma garota possuída ou se é apenas um problema mental de Nell, interpretada com segurança por Ashley Bell. Contorcendo-se como uma verdadeira circense, a atriz é responsável por todos os movimentos estranhos que sua personagem sofre no longa-metragem. Sua mudança de comportamento é bem construída por Bell, que convence tanto como a moça simpática e meiga como a enraivecida e perturbada. A câmera, como já tem sido de praxe em filmes como Cloverfield (2008), Rec (2007) e o supracitado A Bruxa de Blair, está sempre na mão, registrando os fatos e sendo uma personagem. Ela começa nos moldes de um documentário tradicional, mantendo o enquadramento e posições tradicionais. Tão logo os momentos de tensão começam, a câmera, naturalmente, treme. Mas nada que tonteie o espectador. Para os padrões atuais, até que ela se mantém bastante firme por boa parte da história.

O resto deste parágrafo contém informações que podem estragar a surpresa de quem ainda não viu o filme. Portanto, pule para o próximo caso ainda não tenha visto a O Último ExorcismoSPOILER: O longa-metragem de Daniel Stamm ganha pontos por apresentar uma interessante trajetória do personagem principal, um homem que perdeu totalmente sua fé, mas que na busca da prova da inexistência de algo sobrenatural, recupera algo que perdera no caminho. A cena final é emblemática quanto a isso, mostrando a total entrega de Cotton Marcus a sua fé há tanto perdida. O desfecho é surpreendente, bebendo na fonte de O Bebê de Rosemary (1968), e mantendo os pés fincados no terror. O pequeno e eficaz toque em dar a dica do final de cada um dos três personagens principais no desenho feito por Nell é excelente e funciona muito bem visualmente. FIM DE SPOILER

Para os fãs do terror, O Último Exorcismo agradará principalmente com seu desfecho, mas pode ser um tanto cansativo ao demorar a engrenar a parte sangrenta. Quem prefere o suspense encontrará no longa-metragem de Daniel Stamm alguns bons momentos e idéias criativas, que tiram da mesmice os filmes sobre exorcismo. Claro que por trás de algumas soluções inventivas ainda existem as referências a O Exorcista (1973), de William Friedkin, que são difíceis de escapar. A trilha sonora, imitando um zunido contínuo, como um enxame de abelhas, talvez seja a principal característica chupada daquela produção. O público, aparentemente, gostou. No final de semana de estreia nos Estados Unidos, o filme rendeu dez vezes seu orçamento. Prova que o espectador ainda não cansou de ver falsos documentários de terror nas telonas. Esse, pelo menos, parece se concentrar mais na história do que no formato, acertando em cheio com isso.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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