Crítica
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Crítica
Em 1968, o grande diretor Roman Polanski lançou o excepcional O Bebê de Rosemary, filme que envolvia misteriosos rituais satânicos, e que é reconhecido como um de seus melhores trabalhos. Não à toa, se tornou um clássico do cinema desde então. Trinta anos mais tarde, Polanski fez uma obra tematicamente semelhante em O Último Portal, que contou com Johnny Depp no papel principal. No entanto, o filme foi uma escorregada na carreira do cineasta, com o resultado ficando muito aquém daquele que havia conseguido anteriormente.
Baseado no livro O Clube Dumas, de Arturo Pérez-Reverte, o roteiro escrito por Polanski em parceria com John Brownjohn e Enrique Urbizu acompanha Dean Corso (Depp), homem que trabalha com livros raros, interessado no dinheiro que eles podem render. Ao ser contatado pelo colecionador Boris Balkan (Frank Langella), Corso descobre que o sujeito adquiriu uma cópia de Os Nove Portais, obra que supostamente adapta o texto escrito pelo próprio Demônio. Assim, ele recebe a tarefa de comparar o livro com as outras duas edições existentes para atestar qual delas é a autêntica. No caminho, ele tem que lidar com Liana Telfer (Lena Olin), esposa do homem que vendeu a cópia a Balkan, e que a quer de volta mesmo com o marido tendo se matado.
O Último Portal tem um início promissor, com Polanski criando uma atmosfera inquietante que contribui para o suspense em volta da investigação de Corso, detalhe que também é ressaltado pelos tons avermelhados da bela fotografia de Darius Khondji. Mas, se por um lado essas qualidades são evidentes, por outro elas acabam dividindo espaço com os sérios problemas que o filme passa a ter no seu desenrolar. Gradualmente ele perde muito da força e do ritmo que mostra inicialmente, prejudicando nosso envolvimento com a história. Além disso, quando a parte sobrenatural da trama surge, tudo fica bobo demais, chegando ao ponto de causar alguns risos involuntários, como no momento em que determinado personagem aparece voando abruptamente. Para completar, a fraca trilha composta por Wojciech Kilar se revela intrusiva durante boa parte do tempo, servindo basicamente para estabelecer o tom do filme desnecessariamente.
Em meio a isso, Johnny Depp até que se sai bem ao interpretar Dean Corso com um curioso senso de humor, tendo ainda uma bem-vinda vulnerabilidade, enquanto Frank Langella surge de maneira bastante elegante como Boris Balkan, exibindo uma frieza que faz ele soar ameaçador. Porém, é uma pena que o personagem se torne uma figura tão patética no terceiro ato. E se Lena Olin exagera no modo como encarna Liana Telfer, o que talvez não seja culpa da atriz e sim da forma como o roteiro a aborda, Emmanuelle Seigner (esposa de diretor) surge inexpressiva como a garota misteriosa que segue o protagonista, sendo que o roteiro nem se dá ao trabalho de explicar quem ela é.
Mesmo com um terceiro ato particularmente bagunçado, O Último Portal tinha potencial, mas infelizmente acabou decepcionando. No entanto, Roman Polanski mais do que compensaria esse tropeço em seu filme seguinte, o maravilhoso O Pianista (2002), pelo qual viria a ganhar merecidamente o Oscar de Melhor Direção.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Thomas Boeira | 4 |
Francisco Carbone | 4 |
MÉDIA | 4 |
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