float(97) float(31) float(3.1)

Crítica


5

Leitores


31 votos 6.2

Onde Assistir

Sinopse

Professora de uma turma situada na zona rural do México está determinada a fazer a diferença na vida dos alunos.

Crítica

Antes de mais nada, é preciso apontar que, diferente do que o material de divulgação indica, a trama de O Último Vagão não é a história de uma pedagoga obstinada. Apesar da presença da “maestra” presente no cartaz ser, de fato, importante, o longa fala mais sobre família e políticas públicas do que uma possível transformação por meio da relação aluno e mentor. A tarefa da instrutora, aqui, é a mais básica que ela poderia oferecer: ensinar a ler. Entretanto, o argumento dos responsáveis parece confortável em oferecer o mínimo, com pouquíssimas ferramentas para uma praticável renovação.

No enredo, logo descobrimos que o pequeno Ikal (Kaarlo Isaac) é quem nos conduzirá nessa jornada. Filho de uma dona de casa com enfermidades respiratórias e de um pai operário dos trilhos de trem do interior do México, ambos analfabetos, ele vive os dias brincando com amigos num vilarejo desabastecido. A rotina do garoto é modificada quando conhece a professora Georgina, que convence os pais do menino a permiti-lo tomar aulas de instrução acadêmica básica. A experiente educadora, que leciona em um vagão abandonado, é interpretada pela imponente Adriana Barraza, indicada ao Oscar por Babel (2006), sob a hábil direção de Alejandro G. Iñárritu. Mas distinto de seus trabalhos mais antigos, aqui, a constituição do papel escrito para Adriana é fiel a filmes como O Menino que Descobriu o Vento (2019) e Milagre na Cela 7 (2019). Em comum, tais obras exploram a emoção como principal veículo das mensagens. Se não, vejamos: Georgina está ficando cega, é muito pobre, perdeu os entes queridos mais próximos e detém pouquíssimos, e antiquados, instrumentos que possam lhe auxiliar em palestras. Os ingredientes estão dispostos, basta misturar.

Esse composto acontece de forma cristalina e alternada. Mais da metade da minutagem é ocupada por aventuras do garoto Ikal, que quer, sim, aprender a ler, mas também se divertir com os amigos, brincar com seu cãozinho Quetzal e conhecer o circo, mas principalmente ficar mais próximo de sua paixão juvenil: a simpática Valeria (Frida Cruz). Essas e outras sequências são entrecortadas por ensinamentos rápidos e convenientes da orientadora, dotados de uma trilha sonora comovente, é claro. Tal combinação promove o desenvolvimento da personagem que supera todas as probabilidades e faz o espectador cair em lágrimas a cada aprendizado dividido.

Adotando maneirismos, o diretor Ernesto Contreras - que possui passagens pelos festivais de Cannes e Sundance com Párpados Azules (2007) - a partir do roteiro de Javier Peñalosa (O Eterno Feminino, 2017), substitui a aproximação e o aprofundamento do drama pelo simples sentimento de pena. Mas não há como negar, Barraza é uma daquelas atrizes nobres, que ocupam cada instante dos cenários em que surgem, carregando, se preciso, o filme nos ombros. Sendo, notoriamente, a estrela maior da empreitada, se destaca com facilidade, encantando qualquer observador.

No terceiro ato, a narrativa deságua na ambição de viabilizar uma grande surpresa que unirá passado e futuro, andando em círculos para ocupar espaços até sua chegada. Essa elaboração surtirá pouco, ou quase nenhum, efeito prático, meramente reafirmando a ideia de que estamos num looping de mudanças sociais que não ultrapassam a barreira do essencial e apenas confirmam a dependência dos frágeis aos poderosos. Poderia O Último Vagão ir além e reforçar seus coadjuvantes para uma melhor experiência, mas se conforma numa mescla entre a comoção pedagógica e uma busca utópica.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

Grade crítica

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *