Crítica
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Sinopse
Vicente é especializado em criar versões fictícias de histórias de vida, ele mesmo joga com os diferentes passados que conta como seus para as mulheres com quem se relaciona. Até que surge Clara, uma misteriosa cliente que o contrata para inventar uma história, com um pedido muito especial: ela deve ter cometido um crime.
Crítica
Filmado há uns dois anos, O Vendedor de Passados é um produto original dentro do atual cenário cinematográfico brasileiro, dominado por comédias, sequências e dramas históricos. Baseado no romance de José Eduardo Agualusa, o filme do diretor Lula Buarque de Hollanda parte de uma premissa no mínimo curiosa: como seria a sua própria história se fosse possível recriar seu passado a partir de uma ilusão? Afinal, esta é a profissão do personagem de Lázaro Ramos: recriar passados de acordo com a vontade do cliente. E entre um ex-gordo que quer melhorar sua autoestima e algumas pequenas mentiras para ajudar na hora da conquista do fim de semana, ele se depara com algo de fato intrigante quando bate à sua porta uma misteriosa mulher vivida por Alinne Moraes. A relação que se estabelece entre os dois a partir deste ponto é a chave do filme.
O roteiro da estreante Isabel Muniz – que antes esteve envolvida em projetos de televisão, como a série Sob Nova Direção (2005) e a novela Cheias de Charme (2012) – demora para mostrar todas as suas cartas. Essa lentidão leva o espectador a se questionar em mais de um momento qual seria a verdadeira trama do filme. A moça sem nome assume a personalidade de Clara, nome sugerido por Vicente (Lázaro), como parte do serviço. Ela lhe dá total liberdade para idealizar seu passado, impondo apenas uma condição: que ela tenha cometido um crime. A surpresa dele não é gratuita – afinal, muitos que o procuram querem limpar seus erros, e não adicionar novos. Mas se quando não há amarras as possibilidades parecem ser infinitas, o que a princípio prejudicaria o desenvolvimento do pedido, logo durante suas pesquisas ele dará um jeito de formatar o que lhe foi solicitado.
Clara é filha da ditadura argentina, foi enviada ao Brasil aos cuidados do pai, após ser criada por uma família de adoção, enquanto a mãe era presa e torturada no país natal. Quando retorna, acaba ficando frente ao homem responsável pelo assassinato materno, em um encontro em que acaba tendo que fazer justiça com as próprias mãos. O crime, portanto, teria acontecido anos atrás e em um outro país – já prescreveu, portanto. Perfeito para ela fazer deste gancho o ponto de início de uma nova carreira: a de escritora. E, assim, conquista fama e todas as atenções da mídia ao lançar um livro contando sua – inventada – história. Tal ato, no entanto, coloca Vicente em perigo. Afinal, suas criações são idealizadas para uso privado, e nunca para uma exposição tão mais ampla. Fatos e pessoas citados por ele no histórico elaborado começam a se cruzar, gerando dúvidas e complicações. Algo que um dos dois terá que resolver antes que seja tarde demais.
Lázaro Ramos felizmente volta à condição de protagonista, porém em um tipo que lhe exige menos do que o seu potencial. Alinne Moraes, por outro lado, apesar de ser a personagem mais interessante, carece de maior habilidade para torná-lo mais atraente aos olhos de quem a acompanha. A atração que se insiste entre os dois acaba não fluindo como o esperado, e o filme ganharia pontos caso não perdesse tanto tempo nesta tecla infrutífera. Acaba despertando mais atenção as participações menores de Anderson Müller (como um outro cliente) ou a da veterana Ruth de Souza (desperdiçada em uma ponta quase sem sentido). Os dois, de uma forma ou de outra, estão envolvidos com a atividade de Vicente. Mas quais seriam suas razões e o que buscam obter através de realidades pré-fabricadas que, obviamente, não irão se sustentar por muito tempo?
Lula Buarque de Hollanda é um dos sócios-criadores da Conspiração Filmes, e só por isso já merece um olhar mais atento. No entanto, quando observamos seu histórico pessoal e descobrimos que estreou no cinema com o bobo Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa (2003), é de se perguntar se ele próprio não gostaria de obter um novo passado. O Vendedor de Passados pode ser um passo neste sentido, e ainda que o filme não seja desprovido de percalços – há questões técnicas, como chroma keys pouco convincentes, além de diálogos exageradamente explicativos e uma narrativa carente de mais ritmo – é saudável perceber essa vontade de obter algo inédito em uma seara – a do suspense dramático – ao qual não estão tão acostumados. O resultado pode ser irregular, mas acaba se justificando pelo novo que apresenta. E qualquer esforço neste sentido sempre deverá se recompensado.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 6 |
Edu Fernandes | 7 |
Francisco Carbone | 4 |
Bianca Zasso | 2 |
MÉDIA | 4.8 |
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