Crítica
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Sinopse
O filme vem mostrar como estamos nos alimentando mal por conta de um modelo agrário baseado no agronegócio. O perigo é tanto para os trabalhadores, que manipulam os venenos, quanto para toda a população do campo e das cidades, que consomem os produtos agrícolas com agrotóxicos.
Crítica
A força da imagem sobre as palavras tem peso no documentário O veneno está na mesa, assinado pelo cineasta carioca Silvio Tendler. Não apenas uma, mas algumas vezes, o diretor se utiliza de uma figura forte, que ilustrou o pôster e boa parte da campanha de divulgação de seu média-metragem: um avião espalhando agrotóxicos sobre um prato cheio de alimentos. Cúmulo da expressão popular “uma imagem vale mais que mil palavras”, o desenho é um belo resumo do que Tendler pretende mostrar em pouco menos de 50 minutos de filme.
Desde 2008, o Brasil se transformou no país que mais consome agrotóxicos no mundo. A porcentagem do uso do pesticida acima do permitido em alguns alimentos é assustadora. A ANVISA constatou, por exemplo, que o veneno colocado no pimentão extrapola em 80% o nível tolerável. Silvio Tendler constrói seu documentário coletando estes dados temerários, garimpa reportagens na televisão que corroboram sua visão e entrevista agricultores, agrônomos, médicos e outros profissionais afins para montar um mosaico preocupante da questão.
A ideia de Silvio Tendler é chocar o espectador com todas as informações coletadas. E o intento é alcançado. Quando estamos à mesa, não paramos para pensar o quanto de agrotóxico foi colocado naquele prato de verduras, naquela salada que está sendo ingerida. E engana-se quem pensa que apenas quem gosta do verde em seu prato está a salvo dos agrotóxicos. Um exemplo interessante mostrado pelo documentário aponta que, se o trigo está contaminado, alimentos que utilizam sua farinha também estarão. Portanto, boa parte das massas que ingerimos pode estar igualmente imprópria para a ingestão, tanto quanto um tomate, uma alface ou uma beterraba.
Se não bastassem os números absurdos, Tendler entende que não basta uma visão macro para fazer com que o espectador entenda a seriedade do problema. Por isso, o cineasta inclui na narrativa histórias humanas, como o caso do rapaz de 29 anos que trabalhava com agrotóxicos e morreu pouco tempo depois do aniversário de um ano de seu filho. Além de ser triste escutar este episódio da boca da viúva do jovem, assusta saber a rápida progressão do veneno no organismo do rapaz.
Abrindo e fechando seu documentário com a fala do jornalista e escritor Eduardo Galeano, O veneno está na mesa possui conteúdo pertinente e tem tudo para abrir a mente do espectador sobre o problema grave dos agrotóxicos no país. Curto e direto, o documentário foi sabiamente liberado no You Tube desde sua estreia, com o intuito de chegar ao maior número de pessoas possível. Um trabalho consciente do sempre engajado cineasta Silvio Tendler.
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