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Crítica


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Sinopse

Amani é uma garotinha que veio do Paquistão e agora mora no Brasil. Ao mudar de casa, a menina de origem muçulmana recebe um presente inesperado da sua nova amiga brasileira: um biquíni.

Crítica

Vem de Brasília o curta O Véu de Amani, da diretora e roteirista Renata Diniz. A realizadora, munida de um amontoado de boas intenções, deixa transparecer sua inexperiência em cada um dos quase quinze minutos da sua duração. Tem-se, portanto, um filme bem intencionado, sobre meninas descobrindo como conviver com suas diferenças, sendo essas, obviamente, de motivação religiosa. No entanto, falta à realizadora um olhar apurado, talvez mais distanciado do tema, para evitar alguns exageros e, com isso, melhorar a condução daqueles que reuniu neste trabalho. Da câmera acomodada ao elenco, praticamente todo infantil, que se aproxima perigosamente do amadorismo, o conjunto termina por se revelar próximo ao constrangedor em mais de uma passagem, seja pelo didatismo da proposta, como também pela forma redundante e pouco original que a desenvolve.

Diniz coloca a jovem Amani em uma situação de confronto com sua melhor amiga: por que insiste em usar um véu sobre a cabeça, mesmo diante do calor do verão? Enquanto as outras crianças vestem roupas escassas e se divertem tomando banho de rio, a protagonista, por ser muçulmana, aparece sempre com o corpo coberto. A garota, no começo, soa bem-humorada (ao ser questionada se não se sente abafada, responde com um ‘não, esse tecido foi feito pela NASA e está bem gostoso aqui dentro’), mas suas variações de humor são constantes e radicais. Sem muita paciência, em pouco mais de dez minutos de história corta a amizade em mais de um momento, diante da falta de compreensão de suas crenças por parte das amigas, apenas para retomar o contato logo em seguida.

A situação parece adquirir um ar mais grave quando é presenteada por uma delas com um biquíni. Primeiro recusa, depois o joga no lixo, e por fim o retalha com uma tesoura. Cada um desses movimentos, no entanto, é seguido por uma ação contrária, como um agradecimento, uma retirada rápida dos descartados ou um conserto engendrado. Quando parecem estar, enfim, alinhadas, algo inesperado se faz presente, e tudo parece retornar ao começo do pequeno drama que estão vivendo. Assim, o roteiro coloca em evidência a sua obviedade em uma estrutura circular, que nunca avança em qualquer direção válida. Há pouco a ser dito, é fato. Mas ainda assim o resultado deixa a desejar, pois desvia a todo instante de uma tomada de posição mais direta. Quem, afinal, precisa ceder? O respeito ou a intolerância?

Esses poréns seriam não mais do que pormenores não fosse o fraco desempenho das atrizes mirins, evidentemente carentes de uma preparação mais cuidadosa. Cada frase não é simplesmente dita – são declamadas, denotando um ensaio que nunca se aproxima de uma desejada naturalidade. Diante de situações ajeitadas às pressas, quase que aleatórias, e diálogos expositivos e forçosamente exibidores, O Véu de Amani frustra qualquer das possíveis expectativas levantadas por um argumento bonito, mas trabalhado de forma tão precária que ao invés de aproximar, como deveria ser o caso, termina por afastar eventuais interessados, minimizando de vez os possíveis pontos de interesse levantados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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