Crítica
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Sinopse
O apático professor universitário Walter encontra um casal de imigrantes ilegais morando em seu apartamento. Uma vez que os forasteiros não têm para onde ir, o homem consente que eles permaneçam e com isso tem uma lição.
Crítica
Lançado de forma bastante discreta no Brasil e no exterior, este é um longa que merece ser acompanhado com cuidado, principalmente devido à indicação ao Oscar do protagonista, o ótimo Richard Jenkins. Sua interpretação, contida e emocionante, se destaca numa obra repleta de méritos. E muito, claro, se deve à sensibilidade de Tom McCarthy, que realizou um trabalho bastante delicado, preciso em suas observações sobre a vida de um homem solitário que busca reencontrar seu lugar no mundo. Ainda mais quando se depara com a realidade daquilo que conhecia somente através de livros e ideias.
Diretor e roteirista, McCarthy – que também é ator, tendo aparecido em filmes como Conduta de Risco (2007) e A Conquista da Honra (2006) – já demonstrara esse olhar carinhoso no seu longa anterior, O Agente da Estação (2003). Assim como no seu trabalho de estreia, sobre um anão e o interesse que ele desperta ao chegar numa nova cidade, novamente centra seu foco num ser deslocado. O professor Walter Vale (Jenkins) está visivelmente cansado. Da vida que leva, do emprego, da grande casa em que mora sozinho... provavelmente da própria existência. A esposa, uma pianista de sucesso, faleceu há pouco, e o único filho mora em Londres. E, mesmo sem vontade de nada, acaba tendo que ir à Nova York participar de um seminário, como representante da universidade onde trabalha. Só que ao chegar lá se depara com um casal de imigrantes morando no apartamento que mantém na metrópole. Após a confusão ser desfeita, os dois estranhos se preparam para ir embora. Mas vendo-se novamente abandonado, decide convidá-los a permanecer. E aos poucos irá começar um envolvimento maior entre os três.
O grande segredo do sucesso de O Visitante é justamente a sutileza com que expressa suas intenções. O enredo do filme trata, na verdade, do processo de transformação pelo qual o protagonista está começando a enfrentar, mesmo que sem se dar conta. Nada é explícito, óbvio ou escancarado. Mas possui uma eficiência tão forte que somos arrebatados irremediavelmente quando percebemos o rumo que as situações estão levando os personagens. E, mesmo ao abordar temas polêmicos como o acesso de estrangeiros ilegais aos Estados Unidos (remetendo um pouco a outra produção independente indicada ao Oscar 2009, Rio Congelado, 2008) e o relacionamento inter-racial, conseguir se eximir de uma posição mais panfletária, deixando claro através dos sentimentos e das emoções um posicionamento acima de tudo humanitário.
Jenkins, geralmente acostumado a participações coadjuvantes, como a vistas recentemente em filmes como Queime Depois de Ler (2008) e Quase Irmãos (2008), ficou mais conhecido pelo papel de patriarca da disfuncional família da série A Sete Palmos. Mas soube aproveitar esta sua primeira oportunidade como protagonista com empenho e dedicação. Sua atuação não tem grandes momentos, é um conjunto de situações e de diferentes aspectos, uma composição mais subliminar, discreta e elegante. Por isso que é tão impressionante sua lembrança, ainda mais por um filme independente, de baixo orçamento, que foi lançado no meio do ano, sem grande reconhecimento do público e uma aceitação satisfatória por parte da crítica, mas nada ensandecida. E competindo, pra completar, com nomes mais familiares da Academia, como Leonardo DiCaprio (Foi Apenas Um Sonho, 2008) e Clint Eastwood (Gran Torino, 2008), considerados os grandes esnobados desta categoria nesta disputa. Sua indicação é, por si só, de antemão, uma conquista memorável.
Outro ponto de destaque em O Visitante é o elenco coadjuvante, todos nomes pouco conhecidos, porém grandes talentos. Os desconhecidos Haaz Sleiman (24 Horas) e Danai Gurira (Lei & Ordem), como o casal que está irregular no país, estão completamente adequados e se apresentam de forma muito competente – ele, principalmente. Mas quem chama mesmo atenção é a israelense Hiam Abbass, dona de grandes performances de longas feitos no Oriente Médio, como Lemon Tree (2008), Free Zone (2005) e A Noiva Síria (2004), além do vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Paradise Now (2005). Até então, ela havia feito em Hollywood apenas pequenas participações em longas como Munique (2005) e em Jesus: A História do Nascimento (2006). Ela transmite uma austeridade natural, de respeito e autoridade, combinada com muita emoção e sensibilidade. Um excelente intérprete, que consegue revelar seu valor num olhar ou numa leve entonação de voz. Perfeita!
O Visitante é um filme sobre o autoconhecimento, sobre a influência da música no nosso cotidiano e sobre o poder da compaixão e da solidariedade. Às vezes, a solução para os nossos problemas e inquietações não está dentro de nós, e sim no outro, no que está próximo e que muitas vezes não temos consideração ou interesse suficiente. Uma história singela e aparentemente muito simples, porém nada simplista. Uma intensa e dedicada aula de cinema inteligente e maduro, mas, acima de duro, uma bela lição de vida.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Chico Fireman | 6 |
Alex Gonçalves | 8 |
Alysson Oliveira | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
MÉDIA | 7.2 |
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