20170406 oasis supersonic papo de cinema cartaz

Crítica

Eles foram a maior banda do mundo na década de 1990 – ao menos, na opinião deles mesmos e na de seus inúmeros fãs, que lotavam os estádios nos quais os irmãos Noel e Liam Gallagher se apresentavam. Junto com Bonehead, Guigs e Tony, eles formavam o Oasis. Hits como “Live Forever”, “Rock and Roll Star”, “Wonderwall”, “Don’t Look Back in Anger” e “Champagne Supernova” solidificaram o grupo de Manchester como um dos mais bem-sucedidos entre os anos de 1994 e 1996. E é nesse período que se concentra o documentário Oasis: Supersonic, dirigido por Mat Whitecross e produzido por Asif Kapadia, o mesmo dos premiados Senna (2010) e Amy (2015). Embora o recorte seja curto – visto que a banda teve uma carreira de quase 20 anos – o filme traz informações suficientes para que o espectador entenda aquele período e a importância da banda naquele cenário. O Oasis foi, praticamente, o último grande grupo que estourou na era pré-internet. O número de discos e de singles vendidos dificilmente seria o mesmo 10 anos depois (ou até menos). Eles foram um fenômeno do seu tempo e, felizmente, a música que realizaram, como bem diz Noel Gallagher numa das entrevistas, ficou e ficará para sempre.

De família humilde, com uma mãe que sustentou três filhos após abandonar o abusivo marido, os irmãos Noel e Liam sempre foram muito diferentes. Noel é o irmão do meio, amante de música desde muito pequeno. Sempre com sua guitarra, trancado no quarto, compondo. Liam é o caçula, mais interessado em futebol e farra. Folcloricamente, uma martelada na cabeça, aos 17 anos, dada por um colega, teria despertado o seu gosto musical. Ele passou a cantar e até montou uma banda com amigos do colégio – o embrião do Oasis. Enquanto isso, Noel trabalhava como assistente da Inspiral Carpets, uma das melhores bandas do movimento conhecido como Madchester, verdadeiro boom de grandes conjuntos na cidade britânica. Ao voltar para a casa, Noel viu que seu irmão tinha iniciado uma banda e, lá pelas tantas, se ofereceu para fazer parte. Compositor de mão cheia, acabou se tornando o líder, de fato, do Oasis, enquanto Liam era o vocalista, um verdadeiro frontman.

Depois de tentar de tudo para serem notados pelo público e pela imprensa, um show em Glasgow os colocou em contato com Alan McGee, da Creation Records, que então assinou com os jovens músicos. Em 1994, era lançado Definetly Maybe, o primeiro disco do Oasis, com canções sólidas e muita atitude, um dos álbuns de estreia mais vendidos de todos os tempos. Apresentações em rádios, TV e turnês pelo Japão e pelos Estados Unidos logo seguiram. Encrenqueiros, destruíam quartos de hotel e brigavam entre si nos palcos mais vezes que qualquer um poderia contar. Na imprensa, as entrevistas dos irmãos eram cheias de cinismo e ironia, quando não de agressividade aberta. Isso nunca atrapalhou a banda, pelo contrário. Em 1995, o segundo disco transformou promessa em sucesso indiscutível. (What’s the Story) Morning Glory é, até hoje, um dos álbuns mais vendidos da história da música britânica. O longa-metragem de Mat Whitecross conta essa jornada até o paradigmático show em Knebworth Park, no qual – em duas noites – o Oasis levou meio milhão de pessoas para assistirem à sua apresentação.

Oasis: Supersonic tem a mesma estrutura narrativa de Senna e Amy, ambos produzidos e dirigidos por Asif Kapadia: imagens de arquivo são utilizadas em toda a extensão do longa-metragem, com os depoimentos – sejam gravados especialmente para o filme ou retirados de entrevistas antigas – servindo como narração apenas. Ou seja, não temos as cabeças falantes tão comuns em documentários. É curiosa a utilização dessa estrutura similar aos outros dois docs, visto que os anteriores tratavam de personalidades que não estão mais entre nós, no caso Ayrton Senna e Amy Winehouse. Como todos os membros do Oasis estão vivos, mostrá-los nos dias atuais seria possível, algo que não acontece. Mesmo que seja derivativo, o formato serve bem para contar a história da banda, com bons depoimentos de todos os principais envolvidos. Claro que, Liam e Noel – produtores executivos do documentário –, não se encontraram para gravar suas falas. Os dois não conversam desde que o Oasis encerrou seus trabalhos, em 2009. Atualmente, a única comunicação entre os brothers são as cutucadas mútuas nas redes sociais e na imprensa. Uma pena, visto que seria fantástico ver uma reunião do Oasis, ainda mais depois de ter acompanhado seus melhores momentos no filme.

Com 122 minutos de duração, Oasis: Supersonic consegue trazer de forma didática as informações do início da banda e explicar como aqueles jovens da classe trabalhadora conseguiram alcançar o sucesso que tanto almejavam. As drogas, as brigas, as polêmicas e os sucessos estão todos lá, para todo mundo ver. Faltou atenção para o resto da carreira (uma continuação não é descartada por Whitecross) e algumas histórias clássicas como as rusgas com o Blur (banda contemporânea que tinha rixa com o Oasis), a influência dos Beatles e o histórico Acústico MTV no qual Liam simplesmente não apareceu para cantar, deixando a tarefa para seu irmão. Se sentimos falta disso, as músicas, ao menos, estão em sua maioria lá. Difícil não encerrar o documentário cantarolando “The Masterplan”, “Supersonic”, “Some Might Say” ou “Acquiesce”, belos momentos músicas deste ótimo filme.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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