Sinopse
Demonstrações estão ocorrendo em toda a França, inclusive em frente ao hotel em Paris, onde um italiano chamado Giorgio está reservando a suíte nupcial para ele e seu namorado. Porém, quando a gerente do hotel desconfia deles, ela chama a polícia para se livrar do casal. Na atmosfera carregada do Hotel Occidental, pouco é necessário para que suspeitas sejam despertadas.
Crítica
Poucos cenários são tão propícios à reunião de nacionalidades distintas quanto um hotel. Em Occidental, comédia nonsense dirigida pelo francês Neïl Beloufa, praticamente tudo se passa num local onde se hospedam e trabalham figuras estranhas, de comportamentos absolutamente imprevisíveis. A chegada de dois homens, Giorgio (Paul Hamy) e Antonio (Idir Chender), logo provoca uma considerável perturbação ali. O filme é narrado pela recepcionista Romy (Louise Orry-Diquéro). Temos, assim, algo que nos conduz, mesmo minimamente, por uma sucessão de momentos exóticos que vão moldando a trama, dessa maneira aditivada de elementos novos a todo o instante. Não há detimento nas ressonâncias, pois o que verdadeiramente importa são os efeitos imediatos das ações. Embora haja componentes estofando as interações imprevisíveis, visivelmente não se aspira à densidade.
Os cômodos do hotel são estilizados, distantes de uma veracidade mais estrita. Do entorno desse espaço, então total e propositalmente artificial, surge o intenso barulho do confronto entre polícia e manifestantes. Longe de adicionar uma camada valiosa de contextualização social, a situação, no mais das vezes aludida apenas pelos sons da balbúrdia, amplia a confusão desenvolvida no hotel em outras instâncias. A gerente Diana (Anna Ivacheff) encasqueta que os homens hospedados no mesmo quarto, sem a solicitação de duas camas de solteiro, oferecem perigo. Nas interlocuções, aliás, surgem diversas suposições, algumas delas bastante absurdas, que crescem como uma bola de neve, ocasionando boatos e, por conseguinte, mal entendidos. Essa paranoia ganha ares de farsa sempre que os personagens chegam a conclusões estapafúrdias que condicionam comportamentos e definem rumos.
Romy tenta consertar as coisas quando sua gerente exagera com os "bandidos", oferecendo-lhes comida e atenção. Ela não perde uma oportunidade sequer de flertar, inclusive com o colega médio-oriental, Khaled (Hamza Meziani), jovem franzino dado a desmaios sempre que ocasião se complica. No meio desse pandemônio crescente, aparece a polícia, chamada para apaziguar as coisas, a bem da verdade tratando de piorá-las ainda mais. Occidental nem sempre consegue transcender seu exotismo, todavia nos conquista pelo ritmo frenético e pela sequência de excentricidades bem engendradas nesse universo singular. Os atores obviamente parecem se divertir em cena, criando personagens completamente descolados da realidade, obedecendo a uma dinâmica própria, bem estabelecida pelo longa-metragem. Essa energia já é suficiente para segurar nossa atenção, apesar das repetições.
Occidental tem momentos preciosos de graça, como quando, para provar-se italiano, Antonio canta Vivo per lei, sucesso de Andrea Bocelli, prontamente assobiado pelos policias logo depois. Nessa torre de babel onde todo mundo parece falar a língua do disparate, é de se esperar que o encerramento seja caótico e inconclusivo, com espaço para a conjectura de um “felizes para sempre” que reforça o caráter de fábula sem noção. Os problemas ocasionados no filme de Neïl Beloufa não são da ordem da incomunicabilidade, como poderíamos presumir a partir da premissa da convivência entre pessoas de várias nacionalidades, pelo contrário, o fator complicador é exatamente o excesso de comunicação, de verbalização das incongruências que noutro contexto morreriam antes de se transformar em palavras. Aqui os personagens não possuem “filtro”, provocando atritos frequentemente, num fluxo divertido.
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