Crítica
Leitores
Sinopse
Recém-saída da prisão, Debbie Ocean planeja executar o assalto do século em pleno Met Gala, em Nova York. Para tanto, contará com o apoio de Lou, Nine Ball, Amita, Constance, Rose, Daphne Kluger e Tammy.
Crítica
Seguindo o exemplo de Caça-Fantasmas (2016), que renovou uma franquia substituindo homens por mulheres no protagonismo, Oito Mulheres e um Segredo apresenta um time feminino de ladras cheias de estilo e personalidade. Elas seguem o plano ardiloso arquitetado por Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã do então falecido Danny Ocean (interpretado por George Clooney nos filmes dirigidos por Steven Soderbergh), quando de sua estadia na prisão. Todavia, não estamos diante de um reboot, mas da sequência direta das aventuras antes vividas pelos arrojados marmanjos. A missão da vez é roubar um valiosíssimo colar da Cartier, avaliado em cerca de US$ 150 milhões, durante o tradicional Baile do MET (Metropolitan Museum of Art), em Nova York, cuja lista de convidados é considerada a mais exclusiva de todos os Estados Unidos. Porém, claro, nada é impermeável às habilidades combinadas das, a priori, sete (sim, você leu certo) peças fundamentais para a função dar resultado. Como o título menciona oito, antevemos que, lá pelas tantas, alguém se revelará.
O cineasta Gary Ross, também um dos roteiristas, lança mão de uma dinâmica engenhosa para desvendar as mulheres que fazem parte da empreitada. Sem delongas, cada uma expressa rapidamente seus talentos, não à toa equivalentes aos dos homens outrora donos da cinessérie. Oito Mulheres e um Segredo conserva o charme ligado à contravenção, ao crime executado sem violência, baseado em orquestrações lógicas, num intrincado e improvável encaixe de peças. Da cooptação de Rose Weil (Helena Bonham Carter), estilista falida que encontra uma possibilidade de sair do vermelho e voltar aos holofotes, à integração da hacker Bola Nove (Rihanna), uma das últimas a serem recrutadas, não passam além de alguns minutos. É ágil essa fase de reconhecimento, marcada, igualmente, pelos contornos bem definidos dos comportamentos das sete. Lou (Cate Blanchett), a imediata de Debbie, reúne a maior parte dessas talentosas gatunas, sendo elemento imprescindível. A ideia é roubar os diamantes do pescoço de Daphne Kluger (Anne Hathaway), modelo famosa e bastante visada.
Oito Mulheres e um Segredo confere espaço para as mulheres exporem suas aptidões singulares. Tammy (Sarah Paulson), a interceptadora sem igual; Amita (Mindy Kaling), a joalheira de mão cheia; Constance (Awkwafina), a mão-leve. Formado o grupo, resta partir, primeiro, à engenhosa arquitetura da estratégia e, segundo, a execução. A fórmula é a mesma dos antecessores, o que os mantém umbilicalmente conectados. Inexiste uma figura antagonista significativa. A vilã a ser vencida é a improbabilidade. Novamente acenando a uma convenção da franquia, o plano conserva camadas ocultas, o que permite uma virada curiosa, nem de todo surpreendente, mas boa o suficiente para justificar a cortina de fumaça criada com a entrada em cena de John Frazier (James Corden), investigador da empresa de seguros que conhece os Ocean de carnavais passados. Entre as sacadas espertas, surgem demonstrações de inteligência e perspicácia, formando um conjunto bem equilibrado e redondinho. Certas tiradas cômicas funcionam, outras se sustentam com menos habilidade.
Longe de apresentar algo necessariamente novo, Oito Mulheres e um Segredo faz o que dele se espera, ou seja, segue uma identidade plenamente estabelecida, mas com qualidade satisfatória para não deixar a peteca cair. A troca do protagonismo masculino pelo feminino não significa grandes coisas, senão traços mais óbvios, nem por isso irrelevantes. Inexiste uma vontade reconhecível de ajustar profundamente as demandas ao universo feminino. O estratagema poderia ter sido executado por homens, sem prejuízo aos desdobramentos. Contentar-se com essa adequação superficial é o principal ponto falho do longa de Gary Ross, algo que não chega a atrapalhar o entretenimento proporcionado. Aqui, é tudo divertido e vibrante, do começo a fim, com traços característicos das produções anteriores sobressaindo e um desejo, no limite tênue entre o conforto e a pura reverência, de não mexer substancialmente em time que está ganhando. Todavia, agora são elas que botam a mão na massa, evidenciando a destreza, a sagacidade e a coragem necessárias ao golpe perfeito.
Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)
- Mostra de Gostoso 2024 :: Filme sobre Maurício Kubrusly abre a 11ª edição do evento potiguar - 21 de novembro de 2024
- Piracicaba :: Filme de 1922 é restaurado e ganha sessão especial no interior de SP - 21 de novembro de 2024
- Agenda Brasil 2024 :: Até que a Música Pare e A Queda do Céu vencem a 11ª edição do festival italiano - 21 de novembro de 2024
Deixe um comentário