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Crítica


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Sinopse

Duas dançarinas fazem parte da única escola de balé para cegos do mundo, a Associação Fernanda Bianchini, localizada em São Paulo. Geyza, professora e primeira bailarina da companhia, que está se preparando para casar, e Thalia, uma de suas alunas adolescentes, que lida com todas as mudanças de sua idade. Suas histórias vão além do desafio de dançar sem uma referência visual.

Crítica

Histórias de superação frequentemente caem na armadilha do sentimentalismo barato; quando no centro da narrativa há vítimas de circunstâncias dramáticas, é comum que cineastas queiram transformar seus personagens em figuras igualmente heroicas e sofredoras. Em Olhando Para as Estrelas, felizmente, Alexandre Peralta parece bem ciente dessa tendência e busca evitá-la ao máximo. Suas personagens enfrentam inúmeros desafios diariamente e merecem toda a admiração do público por superá-los, mas o filme jamais ignora o fato de estar retratando pessoas complexas, com qualidades que vão muito além da coragem e da força de vontade.

O documentário acompanha a rotina de Geyza, ex-aluna e professora da única escola de ballet para deficientes visuais do mundo, em São Paulo, e de Thalia, uma de suas alunas adolescentes. Além de abordar o evidente desafio de aprender e ensinar uma dança tão complexa sem nenhuma referência visual, a obra mergulha no cotidiano de cada uma, registrando as mudanças pelas quais elas passam, particulares tanto à vida adulta quanto à adolescência. Embora as duas jovens sejam o foco da obra, Peralta procura dar espaço também às pessoas que as rodeiam, entrevistando professores e familiares, que oferecem imagens e depoimentos que ajudam a desenhar as suas trajetórias na tela.

A paixão pela dança surge como ponto de partida de uma narrativa mais ampla, mas funciona, também, enquanto elemento unificador entre todos os personagens; é particularmente tocante observar a dedicação e o carinho com os quais a arte é transmitida às bailarinas mais jovens. Fernanda, a fundadora da escola, foi desenvolvendo ao longo do caminho a habilidade de ensinar a dança apenas por meio do toque e da voz, o que, segundo ela, faz com que o ato de instruir e aprender exija muita confiança, criando, assim, uma ligação muito grande entre ela e os alunos. César, outro professor, chora durante uma performance das alunas. Suas lágrimas tomam um doce significado quando revela projetar nas garotas seus próprios sonhos, já que foi obrigado a deixar os palcos em decorrência de um problema de saúde.

Geyza e Thalia têm uma série de obstáculos em comum, como o preconceito – para Thalia, especialmente, o ambiente escolar não é exatamente amigável –, as escassas adaptações de acessibilidade de vias públicas e as dificuldades cotidianas de viver sem enxergar num mundo extremamente visual. Nada disso, entretanto, parece abalar seus ânimos. No fim do dia, as angústias dessas bailarinas são comuns a todo ser humano: o medo de deixar sonhos para trás, de sentir-se inadequado, de falhar, de fazer sacrifícios ou não fazê-los.

Olhando Para as Estrelas começa como uma simples proposta de colocar a dança como ferramenta de superação, mas o universo do longa é envolvente o bastante para que o espectador se veja profundamente engajado nas lutas pessoais de cada personagem. Ao final dos noventa minutos, sentimos que conhecemos essas mulheres. Vimos Geyza se apaixonar, casar e ter seu primeiro filho; diante dos nossos olhos, Thalia cresce, amadurece e escreve um romance. Na bela apresentação final das dançarinas, difícil conter um sentimento de orgulho. É uma enorme satisfação testemunhar o sucesso dessas pessoas que, em pouco tempo, se tornaram tão especiais para nós, do lado de cá da tela.

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cursa Jornalismo na Universidade Presbiteriana Mackenzie em São Paulo e é editora do blog Cine Brasil.
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