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Crítica
Jennifer Lopez está longe de ser uma intérprete sem talento. Afinal, basta ver o recente As Golpistas (2019) para entender como, com o material certo em mãos, ela parece ser capaz de milagres. E não só isso: é também do tipo que precisa ter alguém no controle que saiba o que exigir dela e como obter o desempenho esperado. É claro que entre suas preocupações podem estar detalhes como disfarçar as olheiras, cuidar da forma física, saber como se sair diante de um bom close, ostentando um sorriso estonteante e um corpo sinuoso. Porém, é conveniente lembrar que um filme é mais do que isso, e que nada disso adianta se não tiver uma boa história envolvendo o conjunto. É preciso alguém com pulso forte para que entregue o exigido pelo papel, deixando em segundo plano meras questões estéticas. Exatamente o oposto do que acontece em Olhar de Anjo, um dos títulos mais descartáveis da filmografia da estrela como protagonista
No começo de sua carreira no cinema, Jennifer Lopez parecia mais comprometida em aprender com os melhores. Essa vontade resultou em longas como Jack (1996), Reviravolta (1997), e Irresistível Paixão (1998), por exemplo, nos quais atuou sob o comando de mestres como Francis Ford Coppola, Oliver Stone e Steven Soderbergh, respectivamente. Estes foram os realizadores que revelaram ao mundo o potencial dramático da artista. No entanto, a partir do momento em que decidiu apostar também na sua carreira como cantora, a musa do Brooklin parece ter achado que era melhor do que isso e que poderia brilhar sozinha, desprezando tais orientações. Como resultado, adentrou em uma segunda fase nas telas, quando se somaram performances constrangedoras, como O Casamento dos Meus Sonhos (2001), Nunca Mais (2002) e Contato de Risco (2003). E, claro, esse Olhar de Anjo faz parte dessa leva.
Os problemas começavam já no trailer, que vendiam uma história mística que não se encontra no filme. O “anjo” do título deve ser uma referência a beleza angelical da protagonista, ou alguma outra ideia que acabou perdida na transposição entre argumento e filmagens. Já a trama em si sofre ao ser relegada a um segundo plano diante de um esmero estético que não encontra ressonância com o andar dos acontecimentos. Ainda que apareça como uma policial sempre em ação nas ruas, Lopez está sempre com o cabelo impecável e a maquiagem muito bem delineada, como se pronta para um desfile – a aparência se sobrepõe à verossimilhança em todas as oportunidades em que deveriam ter sido colocadas em conflito. Uma vez isso estabelecido, não há muito o que fazer. O resto do elenco até que se esforça, mas admirar a protagonista parece ser a única ocupação real que lhes compete.
Seu interesse romântico é vivido por Jim Caviezel, um ator que surgiu no oscarizável Além da Linha Vermelha (1998), fez o interessante Alta Frequência (2000) e alcançou o estrelato mundo com A Paixão de Cristo (2004). Desde então, no entanto, meio que saiu de cena. Antes disso, apareceu por aqui praticamente revivendo o mesmo personagem que havia interpretado em outra produção de resultados controversos, A Corrente do Bem (2000). Steven é um homem perdido, sem rumo e querendo esquecer do passado. Porém, acaba encontrando abrigo ao salvar a vida da oficial, que havia sido pega de surpresa durante a busca de um suspeito. Seria o encontro dos dois mera coincidência, obra do acaso, ou o destino os teria colocado ali, na hora e local certo, por alguma outra razão? Pelo visto, somente os menos crédulos embarcarão nesse romance tão açucarado que até mesmo os diabéticos deverão evitar.
Uma curiosidade: a mãe de Jennifer Lopez é interpretada pela brasileiríssima Sonia Braga, em sua volta às produções hollywoodianas – ela não aparecia na tela grande falando inglês desde Rookie: Um Profissional do Perigo (1990), de e com Clint Eastwood. Desde então, atuou bastante na televisão (como na série Sex and the City, 2001) ou mesmo no Brasil, como em Tieta do Agreste (1996). Apesar de ser dela o terceiro nome a aparecer nos créditos de abertura, La Braga tem apenas três ou quatro rápidas cenas, falando o mínimo para não revelar o forte sotaque característico. Mas é bom prestar atenção em sua primeira aparição, quando chega até a chorar, oferecendo um vislumbre do talento que há tanto estava esquecido, mas que seguia vivo e latente (como o excepcional Aquarius, 2016, tantos anos depois, tão bem deixou claro).
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 3 |
Francisco Russo | 4 |
Alysson Oliveira | 5 |
MÉDIA | 4 |
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