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Sinopse

Nessa versão livre de Édipo Rei ambientada no sertão, um peão de fazenda é tomado por múltiplos sentimentos ao ser informado pelo amigo mais próximo que sua mulher o trai com seu irmão. Começa uma jornada de vingança.

Crítica

O cinema rural brasileiro, aquele que mostra a vida no interior, já teve seu auge nos anos 60 e 70 do século passado, mas faz tempo que não emplaca um grande sucesso. E se por um lado tem quem aposte em cantores populares para resgatar esta glória, outros investem um texto bem estruturado e em boas atuações, como é o caso de Olho de Boi, o mais recente longa de Hermano Penna. Diretor bissexto, obteve grande reconhecimento crítico com sua estreia, em 1983, com o premiado Sargento Getúlio. Baseado no texto de João Ubaldo Ribeiro, colocou um consagrado Lima Duarte à frente do elenco e conquistou grandes honrarias, como o Festival de Gramado (5 kikitos, inclusive Melhor Filme), de Havana (Melhor Ator), de Locarno (Melhor Direção), de Moscou (seleção) e dos Críticos de São Paulo (Filme e Ator). Desde então vem realizando obras esporádicas, sem o mesmo impacto. Efeito que merecia ter sido atingido com este novo trabalho.

Selecionado para o Festival de Gramado de 2007, Olho de Boi figurou entre os favoritos da mostra competitiva e saiu com dois kikitos: Melhor Ator, para Gustavo Machado, e Melhor Roteiro, para Marcos Cesana. Depois desta boa recepção, o passo seguinte seria conquistar o público, certo? Ou não! Afinal, como buscar um espectador que nem tem noção do lançamento de tal filme? Com uma péssima distribuição, acabou sendo exibido em salas alternativas das principais capitais do país em meados de 2008, sem a menor repercussão – depois de duas semanas nem estava mais em cartaz, com um público total inferior a 5 mil pessoas. Só para termos de comparação, Se Eu Fosse Você 2 acabou de ultrapassar a marca dos 5 milhões de espectadores – ou seja, mais de mil vezes acima! Inconformado com estes dados, o diretor pegou sua obra, a colocou embaixo do braço e saiu Brasil afora divulgando-a por contra própria. Uma atitude desesperada – porém igualmente sábia. Assim, ao menos há uma nova chance de se descobrir uma das mais interessantes produções nacionais recentes.

Com um formato bastante enxuto, de apenas 72 minutos de duração, Olho de Boi é uma livre recriação no agreste brasileiro da tragédia de Édipo Rei, de Sófocles. Os protagonistas, agora ambientados próximos aos personagens de Guimarães Rosa, são dois peões de uma fazenda em busca de vingança. Durante uma noite, eles irão se embrenhar no mato para descobrir a verdade sobre a suspeita de que a mulher do homem mais velho estaria lhe traindo com o irmão dele. Mas nada é tão simples assim, e com o passar das horas dúvidas viram certezas, desconfianças se agravam e amizades se transformam em ódios mortais. E junto com o amanhecer virá a confirmação de que nada mais será como antes.

Machado, visto recentemente em Nome Próprio, é um ator que merece ser observado com cuidado. Mas a grande interpretação aqui é mesma a do veterano Genézio de Barros, de Os Desafinados e Achados e Perdidos. Como o provável traído, ele concentra todas as principais atenções, conduzindo a ação com sabedoria e invejável talento. A bela Angelina Muniz, como o objeto de desejo dos olhares masculinos, mantém um distanciamento estudado, oferecendo toda a dissimulação e o interesse que o papel exige. Além deste trio afinado, há ainda a necessidade de se destacar a bela fotografia de Ulrich Burtin (Meu Nome Não é Johnny) e a montagem precisa de Lessandro Sócrates (Cartola: Música para os Olhos). São a soma de todos estes fatores, além dos já citados Penna e Cesana, que compõem um filme digno de muitos méritos.

Olho de Boi não vai entrar em cartaz nos grandes shoppings, nem será exibido com toda a pompa na sua videolocadora favorita. Mas aqueles cansados de ver sempre mais do mesmo e que apreciam filmes fortes e intensos, esta é a pedida. Um trabalho maduro, sem rodeios nem deslizes, que vai direto ao ponto e entrega exatamente o que promete: uma boa história, interpretada com competência e amparada por toda a qualidade técnica exigida. Um cinema que vai além de pré-definições, e que merece ser descoberto. E, acima de tudo, aplaudido.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
8
Alysson Oliveira
7
MÉDIA
7.5

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