Crítica
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Sinopse
O chefe do Departamento de Imigração do aeroporto JFK, nos Estados Unidos está prestes a se aposentar. Depois de, em seu último dia de serviço, complicar a vida de um grupo de imigrantes, entre eles Nonato, seu alvo predileto, ele viaja ao Brasil numa jornada complexa.
Crítica
Entrar nos Estados Unidos não é uma das tarefas mais fáceis, principalmente depois do fatídico 11 de setembro de 2001. O departamento de imigração norte-americano passa um pente fino nos possíveis visitantes, sempre protegendo seu território dos chamados “alienígenas”. Mas será que toda esta investigação é feita com correção? Ou podem existir funcionários amargos mais interessados em atazanar a vida do próximo, seja ele latino, árabe ou africano, do que deixá-lo entrar na “terra das oportunidades”? Em Olhos Azuis, o cineasta brasileiro José Joffily aponta sua câmera para esta questão, fazendo um interessante – e revoltante – retrato da situação dos imigrantes nos Estados Unidos.
Marshall (David Rasche) é o chefe do departamento de imigração do aeroporto JFK, em Nova York. Em seu último dia no cargo, comendo e bebendo com seus companheiros de trabalho e possíveis sucessores Bob (Frank Grillo) e Sandra (Erica Gimpell), Marshall revela que não está satisfeito com sua aposentadoria. Inclusive, depois de beber uns goles a mais de uísque, resolve complicar a entrada de alguns imigrantes, escolhidos a esmo, que estão aguardando sua vez. Dentre eles, os argentinos Martyn (Pablo Uranga) e Assumpta (Valeria Lorca), a cubana Calypso (Branca Messina) e o brasileiro Nonato (Irandhir Santos). Corta para anos mais tarde. Marshall está saindo da cadeia e parte para o Brasil para encontrar uma menina perdida e se redimir de seus atos no passado. No nordeste, o “gringo” conhece a prostituta Bia (Cristina Lago), que o ajuda na busca. A narrativa de Olhos Azuis é costurada com cenas durante o último dia de serviço de Marshall na imigração e com o norte-americano buscando a garota no Brasil.
Segundo José Joffily, a ideia para o roteiro surgiu de uma experiência que um amigo seu teve tentando voltar para os Estados Unidos, bem próxima do que acontece com Nonato na trama. Isso deu o estopim para o argumento do longa-metragem, transformado em roteiro por Paulo Halm e Melanie Dimantas. O cineasta é bastante feliz ao convidar atores de diferentes nacionalidades para viver os personagens multiétnicos do filme. Com algumas pequenas exceções (Branca Messina é brasileira, não cubana), boa parte do elenco é originária do país retratado no filme. Além disso, o diretor conseguiu a presença de David Rasche, um rosto conhecido, para protagonizar seu filme, o que dá ao público a idéia de um escopo maior para a história, como se ela não tivesse sido filmada dentro do Brasil, com atores tentando se passar por norte-americanos. A verdade é que Olhos Azuis foi realmente filmado dentro do país, mas tem a presença deste elenco internacional que dá uma maior dimensão para o trabalho de Joffily.
Como dito anteriormente, a narrativa é costurada com situações do passado e do presente. Não deixa de ser interessante observar o momento redentor por que passa Marshall, mas este trecho, passado no Brasil, perde feio para os tensos diálogos travados pelo diretor do departamento de imigração com os candidatos determinados a entrar nos Estados Unidos. Cada uma destas figuras ganha um tempo para mostrar a que veio, e o elenco como um todo está acima da média.
Quem impressiona é Irandhir Santos que, mesmo sem saber falar inglês na vida real, consegue convencer na pele de um brasileiro que vive há anos na terra do Tio Sam e que depois de visitar sua filha no Brasil está penando para entrar novamente nos Estados Unidos. Quem assiste ao filme não faz ideia de que o ator precisou trabalhar bastante o idioma para conseguir se sair bem na empreitada. Todo este esforço rendeu a ele o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante no 2º Festival de Cinema Paulínia, que passeia muito bem pela sanidade e pelo desequilíbrio do personagem. Este foi um dos primeiros trabalhos do ator, que conquistou elogios rasgados em produções posteriores como A Febre do Rato (2011), O Som ao Redor (2012) e Tatuagem (2013).
Não foi apenas ele quem recebeu louros por seu trabalho em Olhos Azuis, Cristina Lago também foi agraciada, neste mesmo festival, com uma estatueta por sua interpretação. Ela faz um bom contraponto à figura cansada e triste que Marshall se tornara e carrega bem este segmento junto ao ator norte-americano. Para completar a informação, o longa-metragem de José Joffily ainda recebeu o prêmio de Melhor Filme, Som, Montagem e Roteiro neste festival da cidade paulista.
Se o leitor acredita em premiações, estes são motivos suficientes para dar uma conferida em Olhos Azuis. Não sendo o caso, basta que se diga que o diretor José Joffily cumpre o que promete, trazendo uma história tensa, interessante e cheia de bons momentos dramáticos. Os poucos pontos negativos – como o forçado diálogo dos olhos azuis, uma mera desculpa para explicar o nome do filme – não atrapalham em nada o resultado acima da média que esta produção nacional alcança.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Rodrigo de Oliveira | 8 |
Robledo Milani | 8 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 7.3 |
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