Crítica
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Sinopse
Crítica
Nos Estados Unidos, Gordon (Joe Cole) leva um fora da namorada por quem é perdidamente apaixonado. No norte da África, Ayusha (Lina El Arabi) é encurralada pelas tradições que a mandam se casar com um homem escolhido pela família, à sua revelia. Mesmo distantes, milhares de quilômetros, os dois personagens centrais de Olhos do Deserto se conectam nessa trama com potencialidades constantemente desperdiçadas pelo cineasta Kim Nguyen. O ponto de convergência das trajetórias singulares é o oleoduto guardado por uma horda de hexapod, robôs-aranha que se movimentam lentamente pelo deserto, salvaguardando a propriedade privada de possíveis saques dos moradores locais. O protagonista do filme é operador dessas criaturas metálicas equipadas com sensores infravermelhos e armas letais. É por meio das câmeras delas que o norte-americano testemunha o martírio enfrentado pela africana, cuja cabeça coberta denota submissão à fé.
O realizador prefere se focar nos componentes mais óbvios da insólita ligação estabelecida virtualmente. Depois de perder tempo ressaltando a personalidade de Gordon – as cenas dos encontros a contragosto com mulheres descobertas em sites de relacionamento são completamente descartáveis –, há investimento na suposta plausibilidade da identificação dele com os intentos amorosos de Ayusha. O plano de emancipação dela passa por uma fuga do país com seu amado. O sujeito estadunidense se torna uma espécie de anjo da guarda remoto, que não poupa esforços para auxiliar o romance alheio a sobreviver aos contratempos impostos socialmente. É tudo muito escancarado em Olhos do Deserto, sem sutilezas para tornar as coisas menos óbvias e melosas. Do lado africano, não são propriamente cheias de frescor as passagens dos pais forçando uma jovem contrariada a se dedicar aos preparativos do matrimônio com o desconhecido mais velho.
Olhos do Deserto necessita de boas doses de suspensão da descrença para funcionar, no que tange à verossimilhança. Os robôs se movimentam tão vagarosamente pelo terreno que fica difícil engolir sua capacidade de acompanhar deslocamentos acelerados, embora existam vários desses vigilantes inorgânicos ao longo dos caminhos. Já a presença do oleoduto ianque num território estrangeiro, bem como a prevalência da propriedade sobre a vida humana, é explorada no limite da banalidade por Kim Nguyen. O cineasta se mostra incapaz de trabalhar essa tensão subjacente como elemento narrativo verdadeiramente relevante. Ao invés disso, prefere apostar em sucessivos instantes melodramáticos, com o perturbado operador arriscando o emprego, chegando ao cúmulo de drogar colegas para não ser denunciado, pois está fazendo a coisa certa, ou seja, permitindo que, diferentemente dele, marcado pelo insucesso amoroso, ela realize o desejo da felicidade.
Na medida em que avança, Olhos do Deserto se torna ainda mais piegas e simplório, com direito a resgates mirabolantes e acidentes trágicos que mudam desajeitadamente os rumos da história. Todavia, Kim Nguyen consegue a proeza de encerrar o longa-metragem com notas piores, cedendo ao impulso de oferecer uma solução simplista para ambos os personagens principais, apenas por ela permitir uma consolidação da ideia do “começar de novo”. Falta consistência ao comportamento das pessoas para suportar as atitudes intempestivas e a aceitação de riscos enormes em prol de outrem. Do ponto de vista ideológico, o enredo apresenta um nativo dos Estados Unidos subvertendo o sistema extrativista – sem que o filme exiba qualquer observação a respeito disso – para garantir o futuro de uma potencial emigrante muçulmana. A leviandade é tão presente no desenvolvimento que inviabiliza algo a partir desse prisma, por conta de uma neutralidade oriunda da inépcia.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 4 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
MÉDIA | 4 |
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