Crítica
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Sinopse
Um garoto órfão se envolve com uma gangue de batedores de carteira na Londres do século XIX. Abandonado, Oliver Twist é forçado a viver num reformatório. Desesperado e determinado, o garoto resolve fugir e enfrentar as ruas da capital.
Crítica
Oliver Twist é um dos primeiros e mais conhecidos trabalhos do escritor britânico Charles Dickens. A trajetória do menino órfão maltratado à procura de uma figura paterna funciona muito bem como uma fábula infantil. Bastante incomum é ver Roman Polanski, um cineasta que dispensa maiores apresentações, assinar uma produção com essa temática. Os motivos para a escolha foram simples. O cineasta procurava um projeto no qual seus filhos pudessem assistir. A intenção foi boa. Porém, a versão levada para o cinema pelo cineasta não parece do tipo que atrairá um público mais jovem, exceto talvez os próprios filhos de Polanski.
Alguns motivos para isso são bem claros. A narrativa do longa-metragem é arrastada, quesito que não atrai muito as crianças, acostumadas com a velocidade (e até esquizofrenia) de vídeo clipes e de desenhos animados. Algumas cenas mais fortes, como espancamentos e enforcamentos talvez não sejam tão apreciados (ou apropriados) também. Sem contar que um filme com mais de duas horas de duração dificilmente prende a atenção de um público mais jovem.
Isso significa que Polanski errou com seu Oliver Twist? Talvez. Se o cineasta realmente pensou em uma produção voltada para as crianças, errou a mão completamente. Isso não significa que um filme infantil precisa ser colorido ou bobo para que faça sucesso ou para que seja apropriado. Porém, ser tão pesado para uma audiência ainda não preparada para enfrentar uma história desse modo é um equívoco. Cinematograficamente falando e esquecendo desse provável público alvo, Polanski consegue dar uma visão sombria para o conto de Charles Dickens, uma versão que talvez agrade aos adultos, aqueles que sentirem-se impelidos a assistir ao filme.
Na trama, assinada por Ronald Harwood, Oliver Twist (Barney Clark) é um órfão que tem a sina de encontrar sempre os piores e mais desprezíveis adultos em sua vida. Depois de muito sofrer, o jovem rapaz conhece um menino que rouba carteiras a mando do soturno Fagin (Ben Kingsley). Como não podia deixar de ser, o velho ladrão planeja explorar a criança, assim como as outras de sua gangue. Tudo pode mudar, no entanto, com a aparição do bondoso e rico senhor Brownlow (Edward Hardwicke), que acolhe Oliver ao reconhecer no menino alguém de valor. Fagin, por sua parte, pretende não deixar aquela criança em paz e engendrará um nefasto plano contra o jovem.
A história demora um pouco para engrenar e começa a agradar quando Ben Kingsley aparece com seu Fagin. Com uma atuação caricata e teatral, o ator chama a atenção com seu personagem recém saído de uma fábula infantil farsesca. Cheio de tiques, andando encurvado e com dentes incrivelmente podres, Fagin é o que de melhor Oliver Twist tem a oferecer ao seu espectador. Isso e a belíssima fotografia de Londres, fria e escura, retratando os becos mais sujos da cidade, assinada por Pawel Edelman.
Se a atuação de Ben Kingsley é destacável, não se pode dizer o mesmo do garotinho Barney Clark. Tirando seu olhar triste e expressão carente, o ator mirim nunca se sobressai, conseguindo entregar poucas falas de maneira convincente. A cena da prisão, no terceiro ato do filme, em um momento em que a emoção deveria falar mais alto, soa forçada.
Outro ponto negativo é a trilha sonora que, em vários momentos, chama atenção demais para si. Difícil lembrar algum momento durante as duas horas e dez minutos de filme onde não exista música incidental. Um trabalho esquecível de Roman Polanski, que parece ter resolvido agradar apenas seus filhos, alijando assim o resto de sua audiência.
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