Crítica
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Sinopse
Laura resolver se reaproximar de seu pai após anos de afastamento. O reencontro se dá numa aventura atípica pelos cenários de Nova Iorque.
Crítica
É engraçado como o peso dos anos se revela mesmo entre os mais jovens. Sofia Coppola surgiu primeiro como um passo em falso – sua desastrada aparição como atriz em O Poderoso Chefão III (1990) – depois se mostrou uma cineasta de talento – ganhou o Oscar por Encontros e Desencontros (2003) – e agora completa o círculo voltando ao ponto de partida, porém dessa vez como realizadora. Em On the Rocks, o sétimo longa de ficção que assina, ela parte de uma ideia já visitada – o encontro geracional que lança novas perspectivas para ambos os envolvidos – mas, ao invés de buscar um novo ponto de vista, tudo o que consegue é reciclar velhos conceitos através de uma ótica ultrapassada, por vezes até mesmo ofensiva, seja pela ingenuidade do discurso ou pelo viés equivocado que se esforça em defender. O resultado, como não poderia ser diferente diante de uma mistura de elementos tão anacrônicos, termina por se apresentar de forma problemática e desprovido dos pontos de interesse que tão bem demonstrava lidar no início de sua carreira.
A dupla central é vivida por Rashida Jones e Bill Murray, a mesma vista no especial A Very Murray Christmas (2015), que a diretora fez para a Netflix há alguns anos. Agora está mais uma vez comprometida com uma das gigantes do streaming, só que dessa vez numa marca forte, porém com produtos de conteúdo irregular: a AppleTV+. Como produtora de audiovisual, a maçã mordida entregou o premiado The Morning Show (2019), mas tem amargado fracassos como Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020), com Tom Hanks. On The Rocks, portanto, se demonstra mais alinhado com o segundo do que com o primeiro. Murray e Jones - ele entregando mais uma variação de si mesmo, enquanto que ela fica à mercê de um roteiro pouco inspirado - carecem da mesma química percebida entre Murray e Scarlett Johansson por exemplo – apenas para ficarmos num encontro proporcionado pela mesma autora. Os problemas que eles agora precisam lidar são tão banais e pedestres que tudo que conseguem emular no espectador é uma sensação de vazio tão óbvia quanto as relações frágeis que vão sendo estabelecidas ao longo da trama.
Jones é Laura, uma mulher do seu tempo: escritora de sucesso, mãe de duas crianças, bem casada. O marido, Dean, é vivido por Marlon Wayans, que se esforça – e em certa medida, convence – como um pai de família sem os traços de besteirol que marcam sua carreira. Ele é do tipo que vive para o trabalho e, portanto, permite que as obrigações domésticas recaiam sobre ela. Certo dia, após chegar tarde da noite vindo de uma viagem, ele a acorda com beijos apaixonados, interrompidos no exato momento em que a desperta. É o suficiente para que a esposa comece a suspeitar que está sendo traída: “ele parou porque me reconheceu? Teria me confundido com outra?”, é o que se pergunta. Apesar de uma amiga que mais fala do que escuta (Jenny Slate, resumindo-se ao clichê), a única pessoa com quem consegue se abrir é com o pai (Murray), um playboy internacional que, na juventude, também trocou a esposa – e mãe dela – por outra mulher mais jovem. Ele, por outro lado, está carente desse momento de conexão. E aposta tudo na oportunidade de mais uma vez se alinhar com a filha.
Os exemplos de que talvez sua suspeita tenha fundamento começam a se acumular: encontra uma nécessaire feminina na bagagem do marido, acompanhada do pai decide segui-lo e vê que, depois de um jantar de negócios, ele segue acompanhado apenas pela assistente deslumbrante, e uma investigação paterna descobre que Dean esteve recentemente numa cara joalheria, apesar de tê-la presenteado apenas um eletrodoméstico. Porém, em cinema, é mais do que sabido: quando se aponta com muita ênfase para uma direção, é mais provável que a conclusão esteja no lado oposto. Nisso, ao menos, Coppola não decepciona. E assim segue, se enterrando cada vez mais na previsibilidade, desperdiçando uma oportunidade que tanto tinha a oferecer, mas acaba por se contentar com pouco, muito pouco.
O mais estranho a se verificar em On The Rocks é como os momentos em que estão apenas Murray e Jones em cena acabam rendendo muito menos do que o esperado. Ela está resignada em ser apenas a infeliz que tem tudo ao seu alcance, enquanto que ele é o homem branco cis e heterossexual que desfruta com gosto dos privilégios a que acredita ter direito, como desviar de uma parada de policiais no trânsito apenas pela lábia ou de possíveis constrangimentos ao ser flagrado no meio de uma espionagem desastrada com um rápido galanteio. E entre soluções ofensivas – a mulher que só não ameaça o casamento da outra por ser lésbica – e outras apenas irrelevantes – a viagem a trabalho que termina mais cedo “por saudades” da companheira que ficou em casa – o filme se mostra bastante próximo do problemático, bastando para isso se deparar com menos condescendência e uma maior noção do mundo atual, que parece – felizmente – não ter mais espaço para contos tão fúteis e repletos de um psicologismo barato como esse.
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