Onde Está Segunda?
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Tommy Wirkola
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What Happened to Monday?
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2017
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Inglaterra / França / Bélgica / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Alfred Hitchcock foi um dos cineastas que melhor souberam utilizar o conceito de doppelganger na história da filmografia mundial. Em sua obra não faltam exemplos de duplos, geralmente personificados como duas faces da mesma moeda, que tentam se destruir. É o caso do tio e da sobrinha Charlie de A Sombra de uma Dúvida (1943), de Guy e Bruno de Pacto Sinistro (1951) ou, o mais emblemático, de Madeleine e Judy de Um Corpo que Cai (1958). Estas duas são interpretadas em momentos diferentes pela mesma atriz, Kim Novak, o que encontra alguns pequenos reflexos no thriller de ficção Onde Está Segunda?, lançado recentemente em streaming pela Netflix. A diferença, nem tão irrisória assim, é que a sueca Noomi Rapace faz nada menos que sete papéis na trama ambientada numa realidade distópica. Ainda que a premissa e o desenvolvimento sejam interessantes, o filme do norueguês Tommy Wirkola falha justamente quando tenta aprofundar esse conceito para além da excepcional técnica visual empregada.
É num futuro não muito distante em que a história se situa. Nicoletti Cayman (Glenn Close) é uma bióloga conservadora que tem uma ideia polêmica para controlar a superpopulação do planeta e, consequentemente, a escassez de recursos naturais, a fim de manter todos vivos. Na Terra deve-se ter apenas um filho, algo a ser controlado pelo Departamento de Alocação de Crianças. Se houver mais de um recém-nascido por família, um deles é enviado à criogenia, devendo ser acordado apenas quando o mundo estiver a salvo. Só que Terrence (Willem Dafoe) não pensa assim. Sua filha morre durante o parto de sete meninas que são batizadas clandestinamente com os nomes de cada um dos dias da semana. Elas são ensinadas a viver exatamente de acordo com seu nome. Na segunda-feira, apenas Segunda pode sair de casa, e por aí vai. As outras devem permanecer enclausuradas no dia determinado. Por 30 anos o projeto pessoal dá certo. Até que um dia a própria Segunda não volta ao lar.
Não demora muito para as irmãs restantes saberem que a farsa foi descoberta. Aí começa um jogo de gato e rato em que elas são perseguidas pelo governo, numa tentativa de manter a ordem. Mas como o segredo foi revelado? Houve alguma falha na rotina? Alguma delas cometeu um erro? Ou foi algo de caso pensado e há um traidor à espreita? O ritmo é frenético e cada personalidade das protagonistas é colocada à prova. Segunda é a workaholic concentrada. Terça, a viciada em maconha, medrosa. Quarta, a lutadora implacável. Quinta, a rebelde que almeja mais que aquela vida. Sexta, a hacker antissocial. Sábado, a festeira que busca curtir todos os momentos. Domingo, a esperançosa de dias melhores. Algumas são capturadas. Outras, infelizmente, morrem para que a ação continue. Porém, o grande mistério (que nem é tão denso quanto aparenta) vai diminuindo à medida em que o roteiro avança entre perseguições pelas ruas, tiros, sangue e explosões. Uma ação de tirar o fôlego. Porém, será o suficiente para manter a qualidade do filme?
Wirkola tem uma filmografia irregular, que encontra em João e Maria: Caçadores de Bruxas (2013) seu título de maior expressão até aqui. Ou seja, nem é um ponto a favor. A boa notícia é que seu trabalho atrás das câmeras está mais apurado, com momentos eletrizantes, de tirar o fôlego do espectador. Porém, o roteiro é falho. Especialmente no terceiro ato. Se até então entendemos um pouco a criação das meninas, e a sua fuga é repleta de belas sequências, o clímax se torna enfadonho ao incorrer numa solução fácil, tanto para a resolução do filme como para o mistério que cerca as diversas faces de Noomi Rapace. A atriz é o principal motivo para se assistir ao longa. Seu trabalho na composição de cada uma das irmãs salta aos olhos. Além das diferenças físicas (uma tem cabelo mais curto, outra é loira, e etc.), a intérprete confere personalidade própria a elas, ainda que nem todas tenham a psique bem desenvolvida para o público.
É como se a tentativa de trazer tantas personagens para a mesma tela desgastasse o diretor. Não à toa ele encontra algumas soluções fáceis demais para sumir com cada uma delas, como se fosse O Caso dos Dez Negrinhos, livro de Agatha Christie. Sim, teremos mortes entre elas. Algumas sentidas, outras não. Ao contrário do citado mestre do suspense, o norueguês não consegue manter-se firme em suas decisões no que tange à exploração das garotas. Inclusive a preguiça parece que vai tomando conta da produção à medida que ela avança, especialmente nos diálogos. Se eles já não são brilhantes desde o início, mais próximo do fim há um show de canastrice em determinadas falas. A cena do confronto no banheiro é uma das piores nesse sentido, ainda que esteticamente seja um deleite para os olhos.
É o que parece, mesmo. Um filme extremamente plástico, coberto com tons de verniz para disfarçar suas fraquezas. Se Rapace comprova aqui, novamente, o seu talento, ela não consegue extrair mais de algumas personagens uma complexidade exigida, pois muitas são rasas. Há belas cenas no início que mostram cidades vivendo na pobreza, com a superpopulação lotando as ruas e até alguns momentos em que a alimentação situa o espectador no meio daquela miséria. A carne de ratazana é um dos acertos. Porém, não há maiores discussões por aqui. Nem ambientais ou humanistas. Seria interessante se o diretor tivesse optado por outro caminho, em que ele questionasse até que ponto os seres humanos podem sofrer pela falta de perspectiva de vida, a ética moral do governo e, principalmente, como essa existência em sete parcelas pode incomodar cada uma das garotas. Onde Está Segunda? diverte, mas é extremamente raso – principalmente em seu clímax. Um passatempo grandioso, mas que passa voando. Uma pena que tente alçar voos maiores que suas possibilidades. Tivesse se focado em seu desenvolvimento textual, e talvez se tornasse uma obra-prima de ficção e espionagem. Da maneira que foi concebido, é apenas um bom entretenimento de ação. Infelizmente, será esquecido logo que os créditos começarem a subir.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Matheus Bonez | 6 |
Yuri Correa | 7 |
Mariani Batista | 4 |
MÉDIA | 5.7 |
fiquei curiosa sobre o que elas fizeram com os corpos,e a quarta feira luta ,luta pra morre
Acabei de ver o filme, aqui em 2022. E discordo completamente desse artigo. O filme não é raso. Para bom entendedor, o fato da ratazana já bastou e a captura da menina, separada do irmão, e filmada por Karen, tbm já bastou. Se o objetivo fosse explorar a fundo o problema da superpopulação e todas as consequências, seria um documentário. Aliás, certeza que já tem, né? Ou seja, nenhuma novidade o futuro da humanidade. O objetivo desse filme foi ação, e foi muito bem feita.
Obrigado pelo post e parabéns pela bela análise.
so mais uma dica, as "sete irmãs" são os alteregos de Karen Settman, entendeu, set man...
sabe de nada inocente, tu... analisa o filme psicanaliticamente e tu vai ver todo o sentido por tras da fotografia, que foi apenas o que voce viu... se aprofunde, reveja o filme com o olhar da psicanalise...fica a dica.
Resenha: Filme Onde Está Segunda? (What Happened to Monday?), lançado em 2017, produzido por Tommy Wirkola. Onde Está Segunda? (What Happened to Monday?) Foi lançado no ano de 2017, um filme de ficção científica com direção de Tommy Wirkola. A obra conta a história de um mundo um tanto quanto diferente do que vivemos atualmente, no ano de 2073, sendo tomado pela pobreza, onde existe um número muito alto de pessoas e uma escassez de alimentos que preocupam o governo. Nicoletti Cayman se tornar responsável pelo Departamento de Alocação da Criança que visa supervisionar a lei em que na Terra só é permitida a criação de um filho, a fim de conseguirem controlar a superlotação existente no mundo, caso haja mais de uma criança na família, a mesma deve ser levada para a criogenia, e assim ser acordada somente quando a Terra estiver em melhores condições de sobrevivência. Apesar de ter consciência das normas exigidas, Terrence vê sua filha dando a luz a sete meninas gêmeas e morrendo no parto das mesmas. Com isso o avô das sete garotas se torna incapaz de entregar seis das meninas para o governo e acaba por esconder a existência das garotas. Cada uma delas foi nomeada com um dia da semana, sendo assim, Domingo, Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado. Cada uma delas aprende, desde muito novas, que podem sair de casa somente no dia da semana determinado pelo seu nome e tudo que acontece com uma, deve acontecer com as outras. Sendo assim, cada uma das garotas tem apenas uma identidade, a de Karen Settman, a mãe das meninas e só podem sair de casa um dia na semana. Durante um período de trinta anos o plano dá certo, até o dia que Segunda-feira não volta para casa, causando grandes conflitos já que Segunda era muito regrada e certa em suas obrigações. Não demora para que se inicie uma perseguição do governo pelas outras seis garotas e uma das grandes perguntas que nos rodeiam durante o filme é, como o governo descobriu? Não fica totalmente clara a resposta para essa pergunta, porém a perseguição continua e algumas das garotas são sequestradas e outras até mesmo mortas para salvar as irmãs. O filme traz cenas de ação realmente boas e nos envolve com as perseguições. Na opinião dos críticos, o roteiro do filme se torna falho ao ponto em que a ideia principal do filme se perde em meio a tantas perseguições. Apesar do filme não ser muito bem avaliado, a atriz Noomi Norén, responsável por interpretar as sete garotas, foi muito bem avaliada por conseguir interpretar sete personalidades e diferenças físicas dentro de um filme com cenas tão complexas de ação. A opinião do público se divide quanto a uma avaliação total do filme em questão, havendo pessoas que adoraram a construção das cenas e outras que não gostaram do desenvolvimento, principalmente nas cenas de ação. Apesar de opiniões diversas, o filme traz a tona assuntos que me interessam muito, como por exemplo, a clonagem, e acaba por lembrar da série exibida na plataforma Netflix Orphan Black, assim como assuntos da atualidade como a clonagem em seres humanos. Em uma opinião pessoal, o filme me agradou e me prendeu a atenção por diversos momentos em cenas que se fizeram muito fortes, como a cena em que o avô corta parte do dedo de cada uma das garotas já que uma delas se machuca, para que todas sejam iguais. O filme é exibido na plataforma Netflix e tem recomendação para ser assistido por pessoas maiores de 16 anos. Tem duração de 123 minutos e possui gênero de ficção científica e ação. Resenha base para a elaboração desta resenha: Disponível em https://www.papodecinema.com.br/filmes/onde-esta-segunda/ acesso em 10 de agosto de 2021.