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Crítica


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Sinopse

Detetives durões de Nova Iorque, Jimmy 'Popeye' Doyle e Buddy Russo descobrem uma rede de tráfico de drogas que começa na França. O instável Doyle fica completamente obcecado por capturar o chefão do esquema.

Crítica

William Friedkin era considerado um cineasta em ascensão quando dirigiu Operação França (1971) – havia feito apenas o cômico Good Times (1967), com Cher e Sonny, e o drama gay Os Rapazes da Banda (1970), entre poucos outros de maior destaque. Nada indicada, no entanto, que conseguiria realizar um thriller policial tão intenso, cru e direto ao ponto quanto este longa estrelado por Gene Hackman. Pois bem, bastou o novo filme chegar às telas para sua condição mudar irrevogavelmente de promessa para consagração, colocando-se de imediato como um dos maiores nomes do cinema norte-americano no início dos anos 1970. Na sequência seguiu envolvido em projetos de grande impacto, como O Exorcista (1973) – o primeiro terror a ser indicado ao Oscar de Melhor Filme – e Parceiros da Noite (1980) – polêmico longa sobre o submundo gay de Nova York estrelado por Al Pacino.

Operação França é nada mais do que um filme de gênero executado com bastante competência. Jimmy ‘Popeye’ Doyle (um dos grandes personagens da época) é um policial da divisão de narcóticos de Nova York que investiga, junto com seu parceiro Buddy Russo, uma conexão de tráfico entre a Europa e os Estados Unidos. Com um roteiro que pode ser descrito em uma frase, muito do charme da produção está na condução segura do realizador, que sabia muito bem o que – e como – queria contar sua história, e na entrega total dos seus protagonistas, interpretados por Hackman e Roy Scheider. Ambos foram indicados ao Oscar, o primeiro como protagonista (premiado) e o segundo como coadjuvante. Ao todo, foram cinco vitórias: Melhor Filme, Direção, Roteiro Adaptado e Montagem completaram a festa. Concorreu ainda como Fotografia e Som.

Talvez os episódios vividos nos bastidores de Operação França sejam até mais interessantes do que aqueles vistos na tela. Sua sequência mais marcante – a perseguição pelas ruas da cidade fez escola e até hoje é usada como referência – não estava prevista no roteiro e foi incluída de última hora, justamente para reforçar o ‘realismo’ do projeto. Como não estava no planejamento inicial, foi completamente improvisada – o cineasta não possuía nem a permissão do departamento de trânsito para filmá-la, e foi obrigado a pagar uma multa após sua realização. O espanhol Fernando Rey, que interpreta o vilão Alain Charnier, foi contratado por engano – Friedkin queria ter convidado o ator de A Bela da Tarde (1967), Francisco Rabal, mas se confundiu por não conhecer pessoalmente nenhum dos dois – e só permaneceu com o papel quando se descobriu que o outro astro não sabia falar inglês! E atores como Steve McQueen e Peter Boyle recusaram o convite para o papel principal. O sucesso do projeto, no entanto, mostrou-se infundados estes temores. 

Baseado em um episódio real narrado pelos jornais e que teria acontecido cerca de uma década antes da realização do filme, Operação França é o típico produto do seu tempo. Se fosse feito e exibido nos dias de hoje, certamente não causaria nem a metade do impacto que gerou mais de quatro décadas atrás. Sua violência é moderada, as posturas racistas e preconceituosas dos personagens são quase cômicas vistas sob os conceitos atuais e mesmo a investigação conduzida parece tímida perante tramas similares exploradas posteriormente tanto no cinema quanto na televisão. No entanto, é preciso ter isso em mente: se chegamos ao ponto de um argumento como esse ser comum, aqui temos o início de tudo. E talvez este mérito já seja mais do que suficiente para reconhecer sua importância para a história do cinema hollywoodiano.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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