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Crítica


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Sinopse

Uma tropa de paraquedistas norte-americanos é lançada atrás das linhas inimigas para uma missão crucial. Mas, quando se aproximam do alvo, percebem que não é só uma simples operação militar e que há mais coisas acontecendo no lugar, ocupado por nazistas.

Crítica

Tudo em Operação Overlord tem sabor ligeiramente paródico, entretanto, sem traços de humor. A roupagem de filme B dá o tom do estilo empregado pelo cineasta Julius Avery, com decalques de figuras típicas de narrativas da Segunda Guerra Mundial e parcos subtextos. A ideia, claramente explorada, é a de fazer algo reverente à criatividade necessária em longas de baixo orçamento, com personagens exagerados e/ou tipificados, mas, paradoxalmente, dispondo de um valor de produção considerável. A trama dá conta de uma missão imprescindível à contenção do avanço nazista na Europa, notadamente a destruição de uma igreja francesa na qual estão instaladas torres de comunicação que inviabilizam o crucial desembarque norte-americano no solo francófono. Os instantes iniciais servem para acostumar o espectador aos sujeitos envolvidos nessa empreitada de improvável sucesso. O protagonista é Boyce (Jovan Adepo), constantemente zoado pelos colegas por “não ser um soldado de verdade”, por ser “covarde incorrigível”.

Boyce, na verdade, é avesso às mortes, até às de animais, como os ratos que invadem os acampamentos militares. Ele possui retidão moral, evitando ao máximo recorrer ao assassinato, fazendo isso apenas quando o bem-estar de gente querida está em jogo. Depois da conturbada descida num território cravejado de inimigos, ele passa a receber ordens do controverso Ford (Wyatt Russell). Porém, não há empenho para chocar as personalidades conflitantes a fim de obter uma leitura crítica dos procedimentos no front, por exemplo. As singularidades vão arrefecendo diante da ameaça caricata dos alemães, lidos como indivíduos totalmente cruéis e destituídos de humanidade. As cenas de ação são bem filmadas, com pequenos toques de horror, sobretudo jump scares que funcionam burocraticamente, senão como prenúncio da existência de algo extraordinário nesse molho. No caso, surgem as experiências germânicas feitas com cadáveres e feridos, responsáveis por criar combatentes aberrações.

Aliás, Operação Overlord melhora ao assumir abertamente sua inclinação ao trash, com cobaias ensanguentadas perseguindo milicos norte-americanos, oficiais alemães praticamente voltando dos mortos e se transformando em deformidades insanas e irascíveis. O filme acentua seu caráter hiperbólico, não se esforçando para fazer sentido para além do que comporta a sua lógica interna. Sobram vítimas amputadas, o vislumbre de bizarros restos mortais que suplicam por socorro e um sem número de criaturas bestiais que representam a sanha nazista numa esfera metafórica. São importantes na realização de Julius Avery – devidamente abençoada pelo produtor J. J. Abrams – as perseguições e os embates, ou seja, aquilo que concerne principalmente à dinâmica na ação. Conceitualmente, o conjunto chama a atenção pelo acesso à tradição de um cinema de horror específico, no qual a História é distorcida com esquisitices.

Operação Overlord também possui a sua figura supostamente indefesa. Mesmo que demonstre impetuosidade na resistência aos alemães, a francesa Chloe (Mathilde Ollivier) depende de homens corajosos. Heroísmos, destemperos e dubiedades também ganham espaço. Boyce, gradativamente, por necessidade, incorpora o espírito combativo da guerra, porém sem perder o senso humanista. Em dado momento, a omissão de informação quanto aos laboratórios de experimentos do Terceiro Reich aponta a uma noção de que os Estados Unidos não fariam tão diferente se detentores da tecnologia absolutamente inaceitável. Todavia, o filme não se sustenta em observações profundas, tampouco se dispõe a ser um libelo contrário aos conflitos. Ele se fundamenta na intensidade proporcionada pela extirpação da ameaça assombrosa, primeiro, simbolicamente, e, segundo, literalmente, aproveitando certos respiros para elogiar a valentia e a garra estadunidenses.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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