Crítica
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Sinopse
Depois de fugir de uma clínica psiquiátrica, Leena chega aos Estados Unidos e se infiltra numa família que sofre por conta do desaparecimento de uma criança. No entanto, uma reviravolta inesperada muda as perspectivas de poder.
Crítica
Como o próprio subtítulo em português deixa bem claro, Órfã 2: A Origem contém uma história de... origem. Mais ou menos, na verdade. Quando nos deparamos com a perigosíssima Leena (Isabelle Fuhrman), ela já é considerada incapaz de viver em sociedade por conta de sua agressividade anormal. Portanto, essa “origem” é justificada apenas porque o responsável pela instituição na qual Leena está internada faz questão de revela-la à professora de artes incumbida de trabalhar com os pacientes perigosos. E essa sequência de abertura é feita com o puro suco do terror anticlimático, uma vez que nela as ações são antecipáveis. O que poderia resultar em tensão, por conta da manutenção da dúvida, se transforma num passeio repleto de obviedades e desdobramentos previsíveis. Quando Leena é dada como desaparecida do local, quanta incerteza resta de que ela está no único lugar em que a novata é incentivada a ficar em “segurança”? Um pouco adiante, o cineasta William Brent Bell novamente antecipa um desfecho ao mostrar a coadjuvante sequer cogitando o esconderijo da fugitiva no veículo que pode garantir a sua escapada. Sabem aqueles filme de terror em que os coadjuvantes têm atitudes inocentes e opções não menos pueris antes de morrer? É curiosa toda essa previsibilidade para um filme que tira o seu melhor exatamente de uma surpresa. Não que esse “melhor” seja muita coisa, mas, ao menos, quando ameniza o didatismo, o longa-metragem propõe certos caminhos e pegadas até interessantes.
É preciso suspender a descrença na largada para acreditar que o plano maléfico de Leena pode dar certo. A protagonista pesquisa na internet por crianças desaparecidas, encontra uma com quem é ligeiramente parecida e se passa por ela. Só bem mais adiante alguém tem a ‘brilhante” ideia de conferir as impressões digitais para confirmar a identidade da criança sumida há quatro anos. Então, antes mesmo dos problemas de execução surgirem em Órfã 2: A Origem, são bastante perceptíveis as suas falhas conceituais. O roteiro assinado por David Coggeshall também força a barra no momento da fuga de Leena. A menina simplesmente se safa de um esquema de segurança reforçado ao se esconder atrás de portas sempre que alguém ameaça seus planos de evasão. Se bem que essa “forçada de barra” também pode ser debitada da conta de William Brent Bell, pois haveria como falsear até mesmo as conveniências com uma direção menos propensa a deixar visíveis as várias inconsistências. Fato é que assassinato vai, assassinato vem, a mulher que se passa por menina vai para os Estados Unidos e é prontamente acolhida numa família despedaçada pela dúvida sobre o paradeiro de sua caçula. Uma mãe superprotetora, um irmão quase alheio à novidade e um pai que parece reviver com o “retorno”. Há verdades sobre o trio que saberemos apenas adiante, o que configura a grande reviravolta.
Verdade seja dita: é interessante a mudança drástica de rumo – que não será esmiuçada neste texto a fim de preservar a integridade da experiência de quem ainda não assistiu ao filme. Especialmente porque essa guinada quebra a continuidade (hegemonia?) das obviedades em cena. Pena que esse rompimento com os lugares-comuns não é profundo e tampouco contínuo. É também lamentável que William Brent Bell não desenvolva os potenciais que tem em mãos, a isso preferindo seguir caminhos conhecidos, repletos de embates sem muitas nuances. Sabem aquelas histórias em que o caçador agressivo passa a ser vítima da natureza voraz de sua caça aparentemente inofensiva? É mais ou menos o que acontece por aqui. Leena chega no ambiente, cria estratégias para não ser desmascarada, enfrenta contratempos e parece ter pleno êxito em sua empreitada até que algo de novo e bizarro acontece. No entanto, essa inversão nada tem a ver com uma vingança de quem é acuado, mas com uma ampliação do espectro da brutalidade. Órfã 2: A Origem perde uma oportunidade imensa de refletir sobre a agressividade da América burguesa, elitista e que esconde ímpetos nocivos sob as ações filantrópicas. E isso acontece porque o filme não encara o mal como subproduto de certas estratificações sociais. O subtexto político é, assim, soterrado pelo mau gosto da encenação e a superficialidade do tom.
A inversão de estatuto é o que de melhor Órfã 2: A Origem traz na sua abordagem genérica de gênero. No entanto, William Brent Bell parece inimigo das gradações, a elas preferindo matizes antagônicos. Tudo é preto ou branco, sem a existência das bem-vindas áreas cinzentas. A revelação da natureza selvagem de determinados personagens acontece de modo abrupto demais. O que importa é o choque, o impacto e a força do gesto de virar a perspectiva, não necessariamente a simbologia dessa mudança. Não há um estranhamento precedendo a verdade, nada que ao menos coloque uma pulga atrás da orelha do espectador ou o deixe com aquela sensação de “sabia que tinha algo de errado por trás de tudo”. Os personagens são A e repentinamente se transformam em Z, nesse movimento levando consigo a possibilidade de um entendimento sobre a sua condição humana/social. Porém, alguns de vocês devem estar se perguntando: e o terror? Uma vez que a construção atmosférica é frouxa, há a aposta no aspecto gráfico: cortes, perfurações e outras violências contra o corpo. Diga-se de passagem, todas filmadas sem intensidade, de maneira praticamente burocrática. Com mais de 20 anos de idade, a atriz Isabelle Fuhrman interpreta a anã que se passa por criança. Truques de câmera e efeitos digitais se encarregam de tornar crível essa figura. Mesmo assim, há um estranhamento contraproducente. Além disso, o filme flerta perigosamente com o ridículo, como quando mostra a vilã fugitiva escutando a animadíssima canção She’s a Maniac (ela é maníaca, em tradução livre) para tentar ser sarcástico.
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