Crítica
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Sinopse
Cinco amigos se encontram todos os anos para uma semana de férias em Fire Island, um dos destinos turísticos mais procurados por rapazes gays de todo o mundo. Porém, uma vez lá, questões de sexo e amor irão se impôr entre a amizade deles.
Crítica
O cinema LGBTQIA+ tem evoluído nos últimos anos. Foi-se o tempo quando personagens gays serviam apenas como alívio cômico ou eram destinados a finais trágicos. A representatividade é fundamental, e tem crescido bastante. Se por um lado ainda há muito a ser percorrido nesse sentido, é reconfortante, ao mesmo tempo, perceber que nem sempre é uma questão de militância, de protestos ou reivindicações. Por vezes, é importante se dar ao direito de apenas relaxar, se divertir com coisas fúteis e aproveitar os momentos sem pensar no dia seguinte, da mesma forma como héteros vem fazendo desde que o mundo é mundo. Quando o assunto é ficção, talvez o gênero mais dado ao escapismo seja a comédia romântica, aquela história que tanto busca o riso fácil, como também sabe lidar com as expectativas em relação ao amor eterno nutridos por grande parte da audiência. Dentro desse espectro de entendimento, Orgulho e Sedução é tanto um avanço, quanto uma confirmação. Eis aqui, sim, um filme assumidamente focado na diversidade sexual. Ainda que pouco proponha de inovador em relação aos seus similares heteronormativos.
Fire Island é a maior ilha paralela à costa sul de Long Island, em Nova York. Com uma área de menos de 25 km2, possui uma população fixa de não mais que 500 habitantes que, no entanto, se expande para a casa dos milhares durante os meses do verão. Para a público LGBTQIA+, essa época do ano é responsável por transformar o lugar em uma “Disneylândia para os gays”, como é dito por um dos personagens de Orgulho e Sedução. Ainda que a maioria dos que para lá se direcionam se encaixem dentro de um padrão de beleza masculina pré-determinado, favorecendo a juventude e corpos milimetricamente trabalhados em academias de ginástica e musculação, os protagonistas buscam uma identidade mais ampla: há dois descendentes de asiáticos, um latino, um negro e apenas um branco anglo-saxão. Os cinco são melhores amigos de anos, e se consideram quase como uma família, uma união que se completa durante essa semana de férias que passam na casa de Erin (Margaret Cho, indicada ao Emmy por 30 Rock, 2006-2013), que os recebe tradicionalmente de braços abertos.
O título nacional não é por acaso. Apesar do original ser uma referência direta ao local onde a ação se passa, a escolha brasileira não é tão descabida – pelo contrário, talvez seja até mais apropriada. Afinal, o roteiro escrito por Joel Kim Booster (que assina também a produção e é intérprete de Noah, um dos personagens principais) é assumidamente baseado no clássico Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, porém com gays no centro da trama. Na versão mais conhecida dessa história já levada às telas, o Orgulho e Preconceito (2005) de Joe Wright, Keira Knightley aparecia como a jovem Elizabeth Bennet, uma casamenteira intrometida que passava seus dias arrumando pretendentes para suas irmãs e amigas, ao mesmo tempo em que fugia daquele mais interessado nela, o senhor Darcy (Matthew Macfadyen). Pois é exatamente o que se vê por aqui, só que dessa vez Noah está no lugar de Bennet, Will (Conrad Ricamora, de How to get away with murder, 2014-2020) surge como um carrancudo Darcy e as moças atrás de um casamento de futuro são substituídas por um grupo de amigos querendo transar com o cara mais gostoso da praia.
O foco está em Noah (Booster é um achado, se adequando ao tipo gay festeiro e superficial, mas permitindo vislumbres de uma profundidade insuspeita, principalmente nas demonstrações de carinho entre aqueles que considera seus irmãos) e no melhor amigo, Howie (Bowen Yang, de Megarrromântico, 2019). Por mais que os dois se identifiquem por serem pobres, que penaram em subempregos que mal lhes permitia sobreviver, além de serem asiáticos, suas colocações dentro do ‘mundo gay’ são bastante distintas: enquanto o primeiro faz sexo com quem quiser e se mostra superconfiante, o outro possui diversas inseguranças, vindas do sobrepeso, os óculos, os olhos puxados... enfim, ser quem ele é parece ser suficiente para não se sentir aceito pela maioria daqueles ao seu redor. Tentando mudar esse quadro, Noah se impõe um desafio: só irá se permitir se envolver com alguém após Howie se apaixonar. Algo que parecia ser complicado, mas se mostra absurdamente simples quando conhecem Charlie (James Scully, de Você, 2019-2021). Mas esse também não está sozinho, e serão as companhias de uns e de outros – e, principalmente, os choques de comportamentos entre eles – que irão desencadear os encontros e desencontros rumo a um evidente final feliz.
Andrew Ahn estreou no cinema com o drama Spa Night (2016), que já discorria sobre a orientação sexual de um rapaz oriental nos Estados Unidos. Desde então, esteve envolvido em trabalhos de menor alcance no cinema e projetos na televisão, muitos desses atento ao despertar sexual de emigrantes. Em Orgulho e Sedução, porém, mostra-se disposto a um desenrolar mais comedido dos acontecimentos, deixando claro ser esse um filme mais de Joel Kim Booster do que dele – ainda que não soe um estranho dentro de sua própria filmografia. Afinal, se não ignora temas como aceitação, preconceito – e no meio gay há muito, e não relacionado apenas à raça ou origem – e formação de laços familiares alternativos, também o faz sem discursos impositivos e nem se apropriando de fórmulas radicais. O caminho escolhido é o do afeto e da sinergia que provém através de um linguajar de fácil identificação junto ao público ao qual se destina. Assim, não só há comunicação direta com um nicho específico, como também se permite ampliar o discurso. Parece pouco, e talvez seja mesmo. Mas, ainda assim, é um passo necessário rumo a uma condição a ser alcançada, o que cada vez mais se mostra apenas uma questão de tempo.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 7 |
Daniel Oliveira | 7 |
MÉDIA | 7 |
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