Crítica
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Sinopse
A atuação de um assassino serial espalha o caos. Aparentemente os casos não têm qualquer conexão. É quando fãs de quadrinhos e cosplay se unem para tentar resolver o enigma.
Crítica
A trama não poderia ser mais comum: policial novato precisa se aliar ao mais improvável dos parceiros na caça por um serial killer dono de um modus operandi bastante particular. Tais elementos já foram vistos à exaustão, seja no cinema vindo de Hollywood como até mesmo nas fontes menos suspeitas, como produções orientais ou mesmo brasileiras. Mas, em Origens Secretas, há duas variáveis que justificam uma atenção mais dedicada. Primeiro, o fato de se tratar de um longa de produção espanhola, inteiramente falada na língua de Cervantes. E depois, pela inspiração do vilão – e de seus heróis – acabarem recaindo sobre personagens universalmente reconhecidos e, atualmente, mais populares do que nunca: os super-heróis das histórias em quadrinhos. É quase como a revanche dos nerds, ultimate edition (risos)! Ou seja, é um filme que funciona razoavelmente bem junto aos curiosos, e que guarda outras surpresas para os aficionados do gênero sobre o qual se debruça, como uma verdadeira caça aos easter eggs, que se encontram espalhados por toda a trama. Uma distração que, além de não ofender, também diverte enquanto dura.
No longa escrito e dirigido por David Galán Galindo (seu último trabalho nesse formato havia sido Al Final Todos Mueren, 2013), David Valentín (Javier Rey, de O Silêncio da Cidade Branca, 2019) é o detetive recém-chegado a uma delegacia de Madri que acredita na ordem e na lei acima de tudo. Suas convicções começam a ser confrontadas quando descobre que Norma (Verónica Echegui, de Estás Me Matando Susana, 2016), uma jovem que está sempre fantasiada como algum personagem de HQs, filmes ou games, é sua nova chefe. Essa sensação de estar perdido se aumenta quando recebe a missão de seguir com a investigação que até então era liderada pelo colega Cosme (Antonio Resines, de O Noivo da Minha Amiga, 2020), que está se aposentando. Várias mortes bizarras estão acontecendo nas proximidades de onde trabalha, aparentemente sem nada em comum entre elas. Mas será preciso mais do que instinto para descobrir qual a relação entre estas atrocidades.
O que se faz necessário é familiaridade. Ou seja, é preciso, de uma forma ou outra, ter feito parte daquele universo emulado através dos citados assassinatos, nem que tenha sido por aproximação. É o que percebe Cosme, pai do nerd Jorge Elias (Brays Efe, o protagonista de Paquita Salas, 2016-2019), que por mais que discorde do hábito do filho de passar horas lendo gibis e colecionando bonecos, aos poucos foi se acostumando com todas aquelas referências. Isso tudo lhe volta à mente quando se dá conta de que não se tratam de episódios isolados. Afinal, se um morre durante uma aula de musculação e seu aspecto monstruoso provocado por tanta malhação combinado com a asfixia lhe deixe assustadoramente cinza, há ainda o que é picado por uma aranha venenosa e o que é literalmente incinerado como se estivesse prestes a testar a resistência da própria pele. Para muitos, tais destinos seriam apenas casualidades. Mas, para ele, o que reconhece são os acidentes que, na ficção, geraram figuras como o incrível Hulk, o espetacular Homem-Aranha ou o destemido Tocha-Humana, por exemplo.
Confirmada a suspeita, não há mais o que fazer a não ser convocar Jorge Elias e colocá-lo para trabalhar ao lado de David Valentín. Esse, com típica pose de galã, é também quem obriga a história a se manter sólida, mantendo o pé no chão para evitar que escorregue no autodeboche. Quando revela que se tornou órfão ainda criança, após os pais terem sido assassinados em um beco escuro ao saírem de uma sessão de cinema, não há mais do que duvidar: ainda que afirme ser totalmente descrente dessa teoria, seria ele o próprio Batman em uma cruzada contra o crime? E por mais improvável que seja essa dupla, Jorge Elias se mostra uma contraparte interessante, comprovando porque os esquisitões de décadas atrás hoje dominam a cultura pop movimentando uma indústria de bilhões em todo o mundo. Há sintonia entre eles, e mesmo apostas mais óbvias, como o flerte romântico entre o herói e a mocinha nada indefesa, são menos uma fonte de distração e mais uma curva curiosa dentro de uma jornada que ainda consegue o feito de guardar boas surpresas até os seus últimos instantes.
Há ainda outros acertos em Origens Secretas, como, por exemplo, as participações especiais de Ernesto Alterio (como o legista Bruguera, aquele que passa mais tempo entre mortos do que junto aos vivos) e de Leonardo Sbaraglia (como Paco, o velho colecionador cheio de manias que há muito perdeu a noção da realidade). Dois atores consagrados, que atuaram juntos pela primeira vez em Música Feroz (1993), há quase trinta anos, e que já passaram inclusive pelo cinema brasileiro – o primeiro em Legalize Já (2017), o segundo em O Silêncio do Céu (2016) – e que aqui surgem em participações pontuais, mas fundamentais para o andamento da ação. O prestígio que ambos emprestam ao conjunto é mais um ponto a favor de uma obra que surge como uma brincadeira – e como tal se comporta na maior parte do tempo – mas que, ao mesmo tempo, se elabora a partir de uma base sólida, mostrando ciência de que pode estar falando de um nicho, mas dono de regras próprias e digno de respeito. Dinâmico e eficiente no que se propõe, entretém sem nunca menosprezar o espectador, o que já é um ganho, ainda mais diante de tantos similares que compartilham das mesmas intenções, sem nem se aproximar da eficiência destes resultados.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Francisco Carbone | 8 |
Leonardo Ribeiro | 6 |
MÉDIA | 7 |
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