Sinopse
Em 5 agosto de 2010, um desabamento em uma mina de cobre e ouro em San José, no Chile, deixou 33 trabalhadores soterrados a quase 700 metros de profundidade. Lá, eles permaneceram por 69 dias, sem a certeza se tinham alguma chance de saírem vivos.
Crítica
É de se questionar quem teria tido a brilhante ideia de chamar um espanhol, uma francesa e um brasileiro para serem os protagonistas de um drama chileno, todos reunidos sob a direção de uma mexicana. Quer dizer, não é preciso ir longe: basta conferir nos créditos os nomes dos produtores Robert Katz (Você Acredita?, 2015), Edward McGurn (estreante) e Mike Medavoy (Cisne Negro, 2010). Pois entre o religioso, o inexperiente e o veterano, o que prevaleceu foi a mesma confusa combinação que apostou em uma excelência técnica aos moldes do que Hollywood tem de melhor a oferecer, porém descaracterizando tudo que o episódio, baseado em um evento notoriamente verídico, tinha de local e de particular. Apropriou-se de algo muito pontual, mastigou-se até perder suas principais características e então temos este Os 33, um filme que é muito mais um produto de mercado do que um relato corajoso de um evento insólito e surpreendente.
Como o mundo inteiro acompanhou atentamente em 2010, trinta e três mineiros ficaram presos a quase um quilômetro abaixo da terra em uma mina, no interior do Chile, após uma série de abalos sísmicos na montanha onde operavam, por mais de dois meses – sendo os primeiros vinte dias sem comunicação alguma com a superfície. O líder destes operários é interpretado por Antônio Banderas, e é ele também quem se sai melhor dentre esta mistura indigesta. À vontade no papel de herói e líder, termina por ser um exemplo para os colegas presos nas profundezas e um elo com o espectador, que acompanha um tanto passivamente o que se desenrola na tela, principalmente por saber de antemão como será o desfecho desta história. Em um relato como esse, o melhor não é saber o final – que já é público e notório – mas, sim, acompanhar o desenrolar dos fatos que os levam até a aguardada conclusão. Patricia Riggen – que co-escreveu o roteiro da frustrante versão norte-americana de Elsa & Fred (2014) – abre mão desta premissa através de uma narrativa convencional e previsível, que tem como único mérito se apoiar sem ressalvas nos talentos reunidos no elenco. Em alguns casos a aposta é certeira. Na maioria, no entanto, o constrangimento acaba falando mais alto.
Como, por exemplo, a decisão de todos os diálogos serem em inglês. Se essa decisão fosse assumida por completo, talvez até tivesse justificativa. Mas, então, como explicar o forte sotaque latino da maioria e letreiros e frases em espanhol nos noticiários? Algo que vemos na participação do carioca Rodrigo Santoro, que aparece falando inglês com sotaque espanhol como Ministro do Interior do governo chileno. Apesar da importância do cargo de seu personagem, tudo que tem a fazer é andar de um lado para o outro, entre promessas aos familiares em busca de respostas para o drama vivido por seus maridos, irmãos e familiares perdidos no subterrâneo, e questionamentos aos técnicos e engenheiros em busca de uma solução para esta enrascada. Pior é ver uma atriz do quilate de Juliette Binoche, vencedora de um Oscar e premiada nos três maiores festivais do mundo – Cannes, Berlim e Veneza – pagando mico como uma chilena vendedora de empanadas cujo clímax de sua participação é quando esbofeteia o responsável pelas más notícias – justamente o nosso Santoro! Se ao menos tal tabefe contasse como currículo...
Entre o pouco conhecido James Brolin (que surge apenas para salvar a pátria) e o geralmente subestimado Gabriel Byrne (competente, porém sem muito o que fazer), tem-se o sumido Lou Diamond Phillips (La Bamba, 1987) em forma e em posição de destaque, enquanto que a indicada ao Oscar Adriana Barraza (Babel, 2006) tem que se virar como alívio cômico como uma das duas mulheres que dividem o mesmo homem. Por outro lado, os intérpretes chilenos mais reconhecidos tiveram suas participações reduzidas ao extremo. Problemas políticos quase eliminaram a presença do ótimo Alejandro Goic – visto há pouco no impactante O Clube (2015) – enquanto que a excepcional Paulina Garcia (Melhor Atriz no Festival de Berlim por Gloria, 2013) é desperdiçada como o braço direito do presidente da república, saindo de cena sem quase abrir a boca.
Os 33 deve entrar para a história como a última trilha sonora assinada pelo oscarizado James Horner (Titanic, 1997), falecido no começo deste ano em um acidente aéreo. O trabalho dele confirma sua competência habitual, porém seu emprego beira o exagero, tendo como função apenas reforçar o melodrama almejado pela diretora, que não poupa recursos na construção de uma novela lacrimosa – para se ter uma ideia, o longa termina com cenas dos verdadeiros mineiros, revelando seus destinos após o resgate. Sem meios termos nem contextualizações, investe-se em personagens unidimensionais e estigmatizados, que soam inevitavelmente artificiais diante tantos exageros. A despeito do caráter internacional e do tanto que foi investido, provavelmente terá destino igual ao de Los 33 de San José (2010), feito às pressas e lançado no mesmo ano do acidente – ou seja, será mais um entre tantos, e sem nada consistente que consiga diferenciá-lo na memória de qualquer um dos seus espectadores.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 4 |
Edu Fernandes | 5 |
Chico Fireman | 4 |
Thomas Boeira | 3 |
Francisco Carbone | 3 |
Roberto Cunha | 6 |
MÉDIA | 4.2 |
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